Rochele: «Precisava e merecia a prata»
Pódio dos +78 kg: Rochele Nunes, com Beatriz Souza (Brasil) e os bronzes Raz Hershko (Israel) e Larisa Ceric (Bósnia-Herzegovina). Fotografia Gabriela Sabau/IJF

Rochele: «Precisava e merecia a prata»

JUDO24.09.202323:35

Judoca do Benfica altera dieta e engorda palmarés no Grand Slam de baku; somou a 13.ª medalha por Portugal no Circuito desde 2019; Fonseca ficou a uma vitória do pódio

«Sinto que esta é uma medalha que precisava e merecia», declarou Rochele Nunes (+78 kg) a A BOLA após a conquista da prata no Grand Slam de Baku, ao perder a final, por castigos, a 37s do fim, face à brasileira Beatriz Souza (7.ª do ranking).

Última jornada da etapa na capital do Azerbaijão em que a Seleção esteve à beira de ter mais outro elemento no pódio. No entanto, Jorge Fonseca (-100 kg, 14.º) viu-se derrotado no combate pelo bronze contra o francês Aurelian Diesse (58.º), após 3 minutos de prolongamento.

Ainda no passado mês o olímpico do Sporting voltara às medalhas ao terminar o Grand Prix de Zagreb no 3.º lugar. Isto 14 meses depois de um jejum de resultados e com duas lesões pelo meio. Desta vez, ficou perto. Repetiu assim a 5.ª posição alcançada, na véspera, por João Fernando (-81 kg) e Bárbara Timo (-63 kg), o que significa que Portugal esteve a uma vitória de concluir a prova com quatro medalhados.

Emanuele Di Feliciantonio/IJF

Acabou, porém por ser Rochele a única a fazer subir a bandeira de Portugal na National Gymnastics Arena. «Digo que precisava porque necessitava de maior confiança. Neste segundo semestre alterei algumas coisas do meu perfil como atleta. Percebi que tinha de fazer algumas coisas de forma diferente», vai explicando.

«13 pódios? Deixei de contar»

«E merecia porque, realmente, estou a trabalhar para o merecer. Não é fácil. Temos de abdicar de muitas coisas e por isso parei, reavaliei — juntamente com a Ana Hormigo [treinadora do Benfica] — e concluí que as coisas não estavam a ir bem. Não estava a ter bons resultados. Fizemos uma reavaliação e passei a trabalhar mais», acrescenta quem, desde 2019, quando passou a competir por Portugal, contabiliza 13 pódios no Circuito, oito dos quais em grand slam.

«Não, não sabia disso… Até vai parecer que não estou a ser sincera, mas parei de contar porque ainda há muito para ganhar. Continuo a somar, mas nunca parei para as contar», revela, rindo-se. A última medalha, ouro, havia sido celebrada no Grand Prix de Dushanbe (Tajiquistão), em junho.

Emanuele Di Feliciantonio/IJF

Com este resultado, Rochele Nunes, 34 anos, recolheu mais 700 pontos para o ranking mundial e, melhor ainda, para o de qualificação olímpica de Paris-2024, onde está na tranquila 12.ª posição. Duas acima de Souza, que somou 1000 pontos.

Pezinho nos Jogos sem doces

«Sinto que já estou mais perto da porta dos Jogos. Com um pezinho lá…», brinca. «Mas quero lá chegar confortável. Se for a Paris como cabeça de série dar-me-á maior conforto e com muitas medalhas maior confiança. Por isso já estão programadas algumas provas e estágios para preparar os Jogos. Em novembro, vamos ter o Europeu, para mim é um dos mais importantes objetivos da época. A preparação tem sido focada nisso. Nem era para Baku», revela a duas vezes bronze no Euro e que já esteve nos Jogos de Tóquio-2020.

Gabriela Sabau/IJF

E depois de ter feito essas alterações na preparação, como é que viu o desempenho nesta prova? «Mudei muito fisicamente», responde de imediato. «Alterei a alimentação. Deixei de comer alguns doces. Não faço uma dieta restrita em calorias, mas percebi que necessitava de ter mais qualidade», salienta. «Também considerei que necessitava de ter mais descanso, afinal já tenho 34 anos. Com isso passei a reter mais o treino e a parte física melhorou muito. É nesse sentido que digo que os resultados irão aparecer», garante.

Quer dizer que o objetivo será também ir os Jogos de Los Angeles-2028… mas nos -78 kg?, brincámos. «[gargalhadas] nos -78 kg acho que será muito difícil, mas é uma possibilidade. Ainda falta muito tempo para falar em Los Angeles-2028. Afinal já sou mais velha». 

Sabau Gabriela/IJF

«Mas, ao mesmo tempo, à medida que vou perdendo peso tenho vindo a perceber que tenho maior liberdade e hipótese de poder competir mais tempo. Conto com muito apoio, do País e do clube para que tal aconteça. Depende muito de mim porque envolve bastantes sacrifícios», concluiu. 

Nervos e receio de escorregar   

Até chegar à final contra a brasileira Souza (7.ª do ranking), depois de ter estado isenta na ronda inaugural, Rochele Nunes (14.ª) foi eliminando, sucessivamente, a dominicana Moira Morillo (27.ª) por ippon, a turca Hilal Ozturk (16.ª) com dois wazaris e, na meia-final, a russa Elis Startseva (154.ª) por castigos.

Pode parecer estranho, mas o confronto com Morillo foi o que considerou ter sido mais complicado. E não por nunca a ter defrontado. «Estava um pouco nervosa e normalmente os tapetes novos escorregam um bocado e senti que estava a acontecer isso. Ela não é uma atleta muito forte, mas, por vezes, é capaz de surpreender contra as melhores, pois faz técnicas para todos os lados e às vezes aquilo encaixa. Esperei pelo erro dela para ganhar», explica.

Sabau Gabriela/IJF

E na final faltou essa confiança? «A estratégia que levava era procurar as melhores posições, mas depois tive receio de me expor e cair — quando a mão dela subia estava forte. Conhecemo-nos muito bem uma à outra. Mas fui para o tudo ou nada. Até foi o combate em que mais me cansei», acaba por contar Rochele sobre um confronto em que ambas estiveram mais à espera do erro da adversária do que em terem a iniciativa de atacar. Razão pela qual a mais de 1.30m do fim cada uma somava já dois shidos.