ENTREVISTA A BOLA Tiago Fernandes: «Sempre quis treinar o Portimonense»

NACIONAL19.06.202511:00

Aos 43 anos, depois de ter sido interino no Sporting em 2018/19 e de ter orientado Chaves, Leixões, Estoril e Torreense assume um novo desafio na carreira. Quer recolocar o Algarve no mapa da Liga mas, para já, vai com cautela

— Como está o processo negocial com o Portimonense?

 — As coisas estão a andar bem, estão bem alinhavadas. É um clube que eu sempre tive a ambição e o sonho de treinar um dia, porque Portimão, como sabe, é a nossa segunda casa. Temos casa lá há 45 anos, mais ou menos, e vou para lá desde miúdo. Tenho lá muitos amigos que estão também a perguntar-me como é que está a situação e à partida as coisas estão bem encaminhadas. Há muita vontade de ambas as partes que as coisas se realizem e vai correr tudo bem. 

— A ambição é recolocar o Algarve no mapa da ILiga?  

 — A minha ambição como treinador é estar num clube onde as pessoas me queiram a ajudar a fazer um bom trabalho, isso é importante. O Portimonense no ano passado não fez uma época muito positiva e há que melhorar esse registo. E o mais importante é formarmos um plantel com essa capacidade de conseguir sustentar uma equipa competitiva na Liga2, que é bastante difícil, um campeonato muito equilibrado. Já vou para a quinta época na Liga2 e sei que não é fácil este campeonato. Cada vez mais é mais difícil porque as equipas são mais equilibradas. 

— O objetivo da época do Portimonense será subir ou solidificar a posição?  

 — O Portimonense é uma equipa que tem de andar sempre a procurar subir à Liga. Mas para isso é preciso ter a noção de que temos de caminhar nessa rota que nos possa levar lá. E como já disse, é muito mais fácil manter uma equipa na Liga do que subir uma equipa à primeira.  Ainda mais quando se juntam, nos últimos três/quatro anos, as equipas que não conseguiram subir que tinham descido da Liga. Estou a falar, por exemplo, do Chaves, do UD Leiria, do Farense e do Boavista, que desceram e do Vizela, que falhou a promoção via play-off. São equipas que não subiram e que vão querê-lo novamente. E, neste momento, se olhamos para a Liga2, a diferença,  tirando os cinco grandes da I Liga e todos os outros, comparando com os dez primeiros da Liga2, não é muita.  Por isso, é um equilíbrio muito grande.  E só quem for mais forte em cada momento e em cada detalhe conseguirá alcançar os seus objetivos. 

— Porque deixou o Torreense?  

— Em primeiro lugar, porque não me foi feita uma proposta para continuar. E em segundo, porque perguntei às pessoas e vi que não havia ali caminho e segui o meu.  O mais importante para mim foi levar até a última jornada o sonho, a ambição do clube de subir, quando não tinha esse objetivo no início, pois este era claramente a manutenção. Chegar até a última jornada a lutar pela subida…. foi importante para os jogadores e para mim, porque acreditámos até ao final que podíamos fazer uma surpresa. Mas acho que o Alverca, o Tondela e o Vizela também fizeram o seu percurso. E não era fácil também, porque sabíamos que estávamos a lutar contra adversários com muita qualidade. 

—Sentiu-se injustiçado? 

Um treinador nunca se pode sentir injustiçado. São decisões, opções. Sinto-me feliz porque vou trabalhar com pessoas e já queria trabalhar há algum tempo, pois já tinha havido algumas conversas anteriormente.  Fico muito feliz e olho para a frente sempre com otimismo e com positivismo, porque a época do Torreense foi muito boa, muito produtiva; fez com que voltasse a ter alguns clubes interessados em mim. E isso é que me deixa feliz e orgulhoso, pois consegui mostrar trabalho. Como sou pessoa de palavra, mesmo sem ter assinado nada com o Portimonense tive que rejeitar algumas coisas, mesmo sendo melhores ou piores financeiramente. Era incapaz de depois dizer que sim e mudar a minha palavra. Apertei a mão ao responsável do Portimonense e para mim...  ficou selado, tanto da minha parte como da dele. Não estamos a falar de crianças, somos pessoas do futebol, mas somos sérios e está fechado. Agora faltam uns pormenores e há-de se resolver. 

 — Quais são os jogadores do Torreense que podem chegar a outros patamares?  

— Há alguns jogadores que penso que o Torreense tem que foram muito valorizados esta época, porque a nossa forma de jogar também fez com que eles evoluíssem e crescessem. Tenho uma forma que gosto de jogar, tenho um modelo de jogo, mas adapto-me sempre às características dos futebolistas em termos posicionais, de tática e estrategicamente. 

— Dá importância capital à posse de bola? 

—Sou um treinador que gosto de jogar em 3x4x3, de sair a partir de trás. Tenho duas ou três formas de sair a jogar em função, também, do adversário e da forma como nos pressiona.  Gosto de ter a bola no meio-campo ofensivo, de jogar longe da minha baliza, próximo da do adversário.  Gosto de arriscar jogar com muitos metros nas costas.  Não preciso de ter centrais muito rápidos, preciso ter dos que façam boas leituras no momento do controlo da profundidade e gosto de pressionar alto. É um sistema um pouco arriscado,  mas dá-me prazer ter de correr este risco,  porque as coisas quando saem dá prazer ver a equipa a jogar e foi isso que me fez ao longo do ano acreditar nesta equipa e nestes jogadores do Torreense que se valorizaram bastante nesta época.