ENTREVISTA A BOLA «Somos uma candidatura de rutura com a atual Direção do Benfica»

NACIONAL28.02.202507:40

João Diogo Manteigas, advogado de 42 anos, candidato assumido à presidência do clube, apresenta-se e apresenta ideias em exclusivo a A BOLA. Garante que é elegível, promete ir a votos e explica o que está certo e errado na Direção de Rui Costa

— Foi o primeiro a anunciar a candidatura à presidência do Benfica nas eleições de outubro de 2025 e fê-lo ainda em 2024. Porquê?

— Em primeiro, para não olharem para esta candidatura como sendo posicionista ou situacionista, pois nunca estaria dependente de resultados desportivos. Existe muito aquela ideia de que se espera para ver se o Benfica tem sucesso desportivamente ou não. Não, nós somos benfiquistas, somos sócios do Benfica, temos interesse em criar uma alternativa a uma gestão, a um modelo desportivo, a um modelo económico-financeiro que tem vindo ao longo dos últimos 25 anos a ser implementado no Benfica. Portanto, precisamos que as pessoas nos vejam como alternativa e não alguém que esteja contra o que está a passar-se do Benfica. Não somos oposição a absolutamente nada, nem temos interesse em ver o Benfica perder para podermos cativar e ter importância para eleições. Não somos políticos a esse ponto, nem somos estratégicos a esse ponto. A segunda parte é, para mim, ainda mais importante. Toda a premissa da nossa candidatura passa por termos tempo para ouvir os sócios. Temos de ouvir todos, porque o nosso programa eleitoral, aquilo que é a nossa visão para o futuro do Benfica, passa pelas ideias que eu e o meu grupo de trabalho temos já implementadas e fixadas para o Benfica. E também precisamos da adesão dos sócios, para nos darem os seus inputs e dizerem o que é que nós queremos no futuro, o que é que nós queremos ver imediatamente implementado no Benfica. E isso vai ser englobado no nosso programa. Temos praticamente 80%, 85% do programa eleitoral fechado, mas deixamos essa margem para os sócios sentirem que têm importância e verem as suas ideias plasmadas no futuro do Benfica.

— Uma das questões em torno da sua candidatura é a elegibilidade. Se tem idade e anos de associativismo que lhe permitam ser candidato. Quer esclarecer?

— Esclareço, com um sorriso nos lábios. Quando lancei a candidatura disseram, até, que eu tinha 36 anos. Agradeço, mas o cabelo e a barba branca já não deixam enganar. Tenho 42 anos, nasci a 1 de outubro de 1982, sou sócio desde setembro de 1984, há 40 anos. E o meu pai falhou-me dois anos de associado do Benfica. Digo-o em jeito de brincadeira, pois eu adorava o meu pai, mas foi algo que lhe cobrei em vida. Ao abrigo dos atuais estatutos, pois os novos ainda não foram aprovados, sou elegível em outubro de 2025. No Benfica só pode candidatar-se quem tem 25 anos de sócio efetivo. Isto significa que a pessoa tem de ter no mínimo 43 anos de idade. Eu faço 43 anos no dia 1 de outubro de 2025, as eleições são sempre posteriores, terei os 43 anos. Imaginemos agora dois cenários, eleições antecipadas já com os estatutos novos: sou perfeitamente elegível, pois o que está em cima da mesa para aprovação são 15 anos de sócio efetivo. Eleições antecipadas sem estatutos novos? Não há problema algum. A candidatura foi preparada para essa eventualidade, irei sempre a votos, terei sempre condições para ir a votos. E quando lancei a candidatura o Benfica não estava bem desportivamente, sobretudo no futebol, e colocava-se a questão, muita gente a pressionar, eleições antecipadas, e eu sempre defendi que não pode haver eleições antecipadas num momento de muita pressão para a Direção que se encontra no Benfica. Porque quem controla a narrativa das eleições antecipadas é sempre a Direção.

— Como definiria a sua candidatura em relação à Direção atual? Continuidade ou rutura?

— É uma candidatura de rutura com aquilo que é o modelo político, organizativo, desportivo, acima de tudo, e económico-financeiro. A gestão de hoje não vem de há um ano, de há dois anos. Não passámos do oito ao oitenta hoje. É um processo que tem vindo a ser desenvolvido, infelizmente, há largos anos. O Benfica tem um período que é extremamente importante na história e em que passa a ter um declínio acentuado, é a saída de Jorge de Brito. Passa por alguns presidentes... temos [Manuel] Damásio, Vale e Azevedo… e com Vale e Azevedo aprofundou-se ainda mais, cria uma fricção muito perigosa entre os associados. Depois, entra Manuel Vilarinho e a seguir temos um legado de 18 anos de Luís Filipe Vieira. Acontece o que acontece e temos Rui Costa. Em todos estes anos, embora com algum sucesso desportivo pelo meio, houve uma gestão perigosa, feita basicamente no dia-a-dia e é isso que hoje se vê. E é o mais grave. O Benfica tem uma gestão quase diária e vemo-lo pelos resultados financeiros, pela gestão desportiva, pelas transferências, pelas modalidades. Quando eu disse que é de rutura, é de rutura com o quê? Com aquilo que está estabelecido no Benfica. Não é uma rutura de guerra, o que proponho apresentar é alternativa. Não queremos bater em ninguém, criar guerras, temos sido muito construtivos.

— Quais são os motivos da candidatura?

— Bom, há motivos pessoais, obviamente, e, enfim, com uma visão mais profissionalizada, pela minha área de expertise, chamemos-lhe assim. Acho que consigo resumir em três pontos-chave o motivo e com um conjunto alargado de pessoas atrás de mim. Foi algo pensado durante muito tempo e há um enquadramento que é também necessário ter em conta, que tem a ver com os estatutos. Só posso candidatar-me quando tiver 43 anos, mas gosto de antecipar as coisas, de preparar as coisas, faz parte de mim. E quero retribuir toda a importância que o Benfica tem na minha vida, na vida da minha família, dos meus amigos, a envolvência que tive sempre com o Benfica. Tive a felicidade de ter pais que trabalharam dentro do Benfica, tiveram um ginásio de musculação, o único ginásio do antigo estádio. A minha vida foi passada no Benfica, é um privilégio. Confesso, também, que tenho uma obsessão, que é a hegemonia. O Benfica, com todo o respeito por adeptos, simpatizantes e sócios dos outros clubes, e isto pode parecer presunçoso, é mesmo muito grande. O Benfica demonstrou a toda a gente que é enorme. Esteve perto de ter o penta e se tivesse conseguido alcançar esse penta estaríamos a falar de outra maneira, de outros factos, de vitórias, de outras conquistas. E essa obsessão não me sai d cabeça. O Benfica é, provavelmente, das poucas entidades mundiais que consegue criar essa hegemonia. E quero também provar aos sócios do Benfica que é possível um sócio simples como eles ser presidente. Não uma figura ilustre, não um privilegiado, não um nome conhecido. Em Portugal, isso é cultural, tem de ser uma pessoa endinheirada, gestora de mil empresas. Não, eu vou provar que um sócio de base consegue levar o Benfica a ganhar e a ser bem gerido.

— Em que se identifica com a Direção de Rui Costa e em que pontos se afasta totalmente?

— Infelizmente, a forma como as pessoas olham para o Benfica é unipessoalmente. Olham para o Jorge de Brito, para o [Manuel] Damásio, para o Vale e Azevedo, para o [Manuel] Vilarinho, para o Luís Filipe Vieira, para o Rui Costa. Não olham para a Direção. E eu quero acabar com isso. É o João Diogo Manteigas que está a candidatar-se, sim, mas é o João Diogo Manteigas que entra com um Conselho de Administração e é uma administração horizontal. Sou crítico, muito crítico, da gestão desportiva e da gestão económica e financeira. É verdade que preciso de dados que só vou ter quando entrar, mas estou completamente distante de tudo o que se passou este ano, em particular as vendas que foram feitas no final de agosto, para equilibrar as contas, porque apresentou-se um resultado negativo. Esta gestão desportiva não é sustentável e a financeira também não. E temos de separar a SAD e o clube. O clube também é um desastre económico completo.

— Garante que irá até ao fim, a votos, e que não desistirá da candidatura para juntar-se a outra lista?

— Esta candidatura vai até ao fim, vamos a eleições, em relação a fusões com outras candidaturas, não tenho essa visão, não tenho esse interesse, mas se alguém quiser vir falar comigo para aderir à nossa candidatura, estaremos sempre de portas abertas. É uma promessa, é uma confirmação, é um facto, iremos até ao fim. Contem connosco para as eleições, antecipadas ou não, com ou sem estatutos. Não tenham medo do futuro do Benfica, o Benfica vai ser conservado de forma imaculada naquele que é o seu objetivo principal, vencer.

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