Nandinho: «Gosto de começar um projeto. Todos os treinadores gostam»
Nandinho chegou à final da Taça do Rei do Bahrain

Nandinho: «Gosto de começar um projeto. Todos os treinadores gostam»

INTERNACIONAL07.12.202308:15

O técnico do Al Ahli, do Bahrein, foi considerado o Treinador da Semana e falou com A BOLA sobre como têm sido estes primeiros tempos ao leme do clube que, agora, é líder do campeonato

Nandinho jogou muitos anos na elite do futebol português, em clubes como Benfica, V. Guimarães ou Gil Vicente. Depois de pendurar as chuteiras, a sua carreira tomou o rumo de treinador. Após o seu último projeto, enquanto treinador da B SAD, aceitou a proposta de rumar ao Bahrein, para treinar o Al Ahli. Quando Nandinho chegou, após a terceira jornada do campeonato, a equipa tinha apenas três pontos e vinha de uma derrota por 7-1. Desde que o português assumiu o comando, já lá vão cinco jogos na Liga do Bahrein, somou dois empates e três vitórias. É o líder do campeonato (ainda que à condição), e foi distinguido como Treinador da Semana. Agora fala a A BOLA sobre estas primeiras semanas no país árabe.

- Como está a ser a experiência no Al Ahli?

- Para já, está a ser uma experiência muito positiva. É um clube histórico, mas já não vence um troféu desde a Taça em 2016 e não é campeão desde 2012. Na época passada ficaram em sexto lugar. Vim para aqui já com o campeonato em andamento, depois de uma derrota passada. Têm aqui equipas muito fortes, que têm a hegemonia, porque também têm orçamentos maiores. Neste momento estamos no primeiro lugar e vamos jogar com o Al Riffa, que representa o Bahrein nas competições asiáticas. Ainda não temos nenhum representante na Liga dos Campeões Asiática, só na Taça Asiática, que é uma espécie de Liga Europa da Ásia.

- Depois de uma pesada derrota, sobretudo para um emblema histórico, sente que, agora, os adeptos estão com a equipa?

- Sim, sinto muito apoio da massa adepta. No primeiro jogo, empatámos na casa de um dos rivais, sofremos o empate ao minuto 90+3. Tínhamos 100 adeptos no estádio, 200 no máximo, e no último jogo já tínhamos cerca de mil adeptos a ver. Pelo que me dizem, a equipa tem controlado mais os jogos, é mais dominadora. Continuamos a ser uma das piores defesas do campeonato, fruto dessa goleada, mas temos melhorado esse capítulo. Os adeptos têm apoiado, os jogadores sentem isso. Tentamos puxá-los à terra, porque há muito tempo que não estavam em primeiro, isso cria uma euforia muito grande. Aqui perde-se dois ou três jogos e já está tudo mal, despedem-se treinadores, inclusivamente.

- Como surgiu esta oportunidade de treinar o Al Ahli?

- Eu estava em Portugal, não tinha nenhum projeto, mas não estava a conseguir entrar no mercado português. Só entrava a meio da época, por exemplo, para evitar a despromoção na segunda liga. Gosto de começar um projeto do início, todos os treinadores gostam, mas às vezes é preciso começar a meio, porque isto também é a nossa vida. Surgiu-me esta oportunidade, até tinha propostas de outros países, mas o futebol na zona está a evoluir e os campeonatos como o da Arábia Saudita estão cada vez mais atrativos.

O Al Ahli vai numa série de três vitórias, a última, por 1-0 frente ao Al Hidd (Twitter do Al Ahli - @alahli_club_bh))

- Sente que há um grande choque cultural?

- Ao contrário do que se possa pensar, não. É o mais ocidental dos países árabes. Há duas religiões árabes predominantes, xiitas e sunitas, mas há muitos ocidentais aqui no Bahrein, é uma cultura mais aberta, não tão fechada como noutros países árabes, como a Arábia Saudita, por exemplo. Claro que não se pode beber álcool na rua, só em sítios específicos. Vende-se álcool em bares, podemos beber vinho nos restaurantes. De resto, as pessoas andam à vontade, não sinto marginalidade nem perigo, é um país muito ocidental, creio que o mais ocidental dos países árabes. Informei-me com outros treinadores, como o Hélio [Sousa], que treinou a seleção do Bahrein e já vinha preparado para que pudesse haver algumas diferenças, mas nós portugueses temos sempre esta enorme capacidade de adaptação. Agora está a ouvir-se o chamamento para as rezas, uma das religiões reza quatro vezes por dia, outra três. É um dos fatores culturais muito presentes, já marcámos treinos e depois tivemos de desmarcar porque é a hora da reza. É uma das questões culturais aqui, mas claro, já estávamos preparados para isso.

Ainda que à distância, tem acompanhado o futebol português?

Sim, tenho acompanhado o campeonato. Está muito equilibrado, há fases em que há uns melhores, outras vezes são outros. Neste momento, o Sporting está numa fase muito ascendente, está a praticar um bom futebol. O Porto é sempre um candidato, está sempre na luta, o Benfica tem claudicado aqui e ali, mas também está muito perto. O Braga está a jogar muito bem e está cada vez mais perto de competir pelo campeonato. Vamos ver. Acredito que vai ser um campeonato muito equilibrado. Normalmente há dois clubes que se distanciam, mas parece-me que vamos ter um campeonato até ao fim entre esses três ou quatro clubes, sendo que creio que o SC Braga vai correr um pouco atrás dos três grandes, que continuam a ser os três grandes.