«Estamos a assistir ao genocídio do espírito benfiquista»
Roger Schmidt junto ao banco de suplentes do Benfica. Foto: IMAGO/Maciej Rogowski

«Estamos a assistir ao genocídio do espírito benfiquista»

NACIONAL10.12.202320:30

António Melo considera que Rui Costa esteve muito bem ao defender o treinador; ator acredita que o Benfica vai ser campeão

O Benfica tem vivido dias difíceis. A eliminação precoce na Liga dos Campeões e a liderança perdida no campeonato culminaram com uma audível e visível contestação a Roger Schmidt, no jogo contra o Farense, no momento em que o técnico realizou duas substituições quando se encontrava em desvantagem no encontro. Rui Costa saiu em defesa do treinador alemão um dia depois, para acalmar os ânimos entre a massa associativa encarnada. 

A BOLA esteve à conversa com várias personalidades, que falaram sobre o momento conturbado que a águia atravessa. 

António Melo numa participação n' A BOLA TV. Foto: ASF/RUI RAIMUNDO

— Como avalia a intervenção de Rui Costa ao defender Roger Schmidt?

— Excelente. Era o que se pedia de um presidente, não há motivos para não defender o treinador.

— Depois da contestação no jogo com o Farense e as declarações de Rui Costa, é possível reparar a relação entre os adeptos do Benfica e Roger Schmidt?

— Olhe, vou dizer-lhe uma coisa que pode ser polémica, mas, eu acho que nos últimos anos houve um genocídio do que é o espírito do Benfica. Como as pessoas conhecem pouco do que é a história do Benfica, não têm bem noção. A contestação é feita de uma outra maneira, e não desta forma que foi feita. Não se contesta para mandar abaixo, contesta-se para melhorar. Ainda por cima escolheram o pior jogo da época para fazer esta contestação, porque o Benfica fez uma exibição fantástica. Futebol é assim, uma equipa pode atacar 90 minutos, e num contra-ataque sofre um golo, que foi o que aconteceu. Foi um momento pouco propício à contestação e à forma como ela foi feita. 

Agora há um movimento muito grande a pedir o Abel Ferreira. Acho-o um treinador extraordinário, mas não sou dos que defendem a vinda do Abel em detrimento da permanência do Roger. O Abel ainda agora deu uma entrevista ao canal do Palmeiras em que diz que o grande mérito que o Palmeiras teve foi que, nos momentos em que mais sofreu, em que estava desacreditado com quatro derrotas seguidas, e vinha da eliminação da Libertadores, só conseguiram dar a volta e ganhar o campeonato porque foram resilientes e não desistiram. Muitos queriam a substituição do Abel, mas o treinador manteve-se. Aconselho os benfiquistas a verem essa entrevista e perceber que, neste momento, é preciso juntar, unir e seguir em frente. Um treinador que apresentou o futebol do ano passado não pode ser incompetente. Benfica, mesmo nos grandes anos de glória, nos anos 60 do Eusébio e do Coluna, não ganhou sempre. Eu sou daqueles que acreditam piamente que o Benfica vai ser campeão, se se mantiver a equipa técnica e a vontade de unir e não separar.

— Que motivos têm os benfiquistas para acreditar que a equipa vai melhorar?

— Os motivos de terem um técnico que o ano passado jogou um futebol fantástico, e que este ano também já jogou a espaços. Os processos valem mais e levam ao êxito, e não se pode abandonar o processo só por haver contrariedades. Benfica tem um bom plantel, tem tido problemas, é óbvio que precisa de reforços em janeiro no sentido em que os jogadores que reforçaram têm demorado a adaptar-se, o clube precisa de ser mais assertivo. Precisa de outro lateral direito, um lateral esquerdo que pegue de estaca, libertar o Aursnes para jogar mais à frente e, no meu ponto de vista, precisa de um marcador que não falhe. Um matador de créditos firmados. 

Eu sou daqueles que acreditam piamente que o Benfica vai ser campeão, se se mantiver a equipa técnica e a vontade de unir e não separar.

Eu acho que os motivos são termos um bom plantel, bom treinador, e não é por ter tido dificuldades na Liga dos Campeões que se deve abdicar dele. Dificuldades podem acontecer a qualquer clube, o Barcelona não se apurava para os oitavos há três anos e não é por isso que deixa de ser uma grande equipa, e os técnicos que lá estavam não deixam de ser grandes técnicos. Está tudo em aberto no campeonato, na Taça de Portugal, Taça da Liga e pode ser que terça-feira continuemos na Europa. O FC Porto, que se gaba tanto de ter uma equipa de Champions, não há muito tempo foi eliminado, com este treinador, pelo Krasnodar.

— Faz sentido mudar de treinador e, se for esse o caso, quem gostaria de ver no Benfica?

— Não. Fui contra a saída do Lage e do Rui Vitória, acho que não é por aí. Saídas tem de ser no final das épocas. Substituir o treinador no meio da época, no mundo inteiro, a taxa de sucesso é de 10 por cento. Olhe o que aconteceu no Botafogo... No final das contas, no final da época é que se fazem as contas, faz-se o balanço, e decide-se se este treinador em termos de projeto está esgotado e parte-se para outro, ou se é para continuar. Sou contra despedimentos a meio da época, a não ser que houvesse uma coisa gravíssima, que não é o caso. Podemos criticar esta opção ou aquela, mas daí a pensar em mudar e substituições, sou contra.

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