«Destruí o meu corpo»: Varane alerta para as concussões cerebrais e liga-as ao piores jogos
Varane frente à Nigéria em 2014 (Imago)

«Destruí o meu corpo»: Varane alerta para as concussões cerebrais e liga-as ao piores jogos

INTERNACIONAL02.04.202407:58

Central francês pede mais atenção ao tratamento e prevenção de lesões cerebrais

«Destruí o meu corpo». Este o título de uma entrevista do central Raphael Varane ao jornal L ‘ Equipe, em que chama a atenção para os danos nos corpos dos jogadores, e nomeadamente as concussões cerebrais.

O atual jogador do Manchester United, já retirado da seleção francesa desde 2022, afirma que o seu desempenho na carreira e a sua saúde foram afetadas pelas comoções, e recorda em particular o França-Nigéria do Mundial de 2014.

O jogador de 30 anos pede mais atenção e prevenção quando ao repetido impacto na cabeça, algo que já é bastante explorado no futebol americano.

«Sim, tive várias concussões. Se analisar três dos piores jogos da minha carreira, há pelo menos dois em que sofri uma alguns dias antes: contra a Alemanha nos quartos de final do Mundial de 2014 (Nigéria foi o anterior) e com o Real Madrid frente ao Manchester City na Liga dos Campeões 2020 (jogo com o Getafe antes). Acabei aquele jogo com a Nigéria em modo ‘piloto automático’, nem conseguia falar com ninguém. Nem me lembro do jogo. No avião não estava bem e disse-o. Fiz o protocolo de recuperação, dormi e comi bem. Até tinha perdido peso e estava desidratado», recorda.

10 anos de silêncio

«Quando acabou senti uma tensão nos olhos. Olhando para trás, pergunto-me: se soubesse que era uma concussão, teria dito, arriscando não fazer o jogo seguinte com a Alemanha? Nem sei se houve testes há dez anos, como podia avaliar a minha capacidade para jogar contra a Alemanha nos quartos de final? Também não se pode culpar os médicos, é uma situação um pouco complicada. Em 10 anos, eu nunca quis falar sobre isto porque poderia soar a desculpas e eu nunca quis que parecesse, porque não é», afirma.

Acabou por jogar e, recorda, perder um duelo com Hummels que levaria ao golo da Alemanha: «Não sei o que poderia ter acontecido se tivesse levado outro impacto na cabeça. Sabemos que as concussões de repetição têm um efeito mortal. Na altura eu não era pai, mas agora aos 30 anos tenho 3 filhos e as coisas são diferentes.»

«No United recomendam não fazer mais do que 10 cabeceamentos por treino. O meu filho joga e digo-lhe que não cabeceie», explica. «Depois de uma repetição de golpes de cabeça, dizer que estás cansado depois de um jogo em que tudo correu bem é complicado. Por vezes nem pensamos em fazer testes. Uma comoção cerebral é um problema de saúde real e pode ser vital reconhecer uma – as coisas vão mudando pouco a pouco, mas ainda há muito a fazer.»

Cansado, sem energia

O jogador volta ao tal jogo com o City. Antes, frente ao Getafe, teve de ser substituído ao levar uma bolada num canto. «Segui um protocolo de recuperação de cinco dias sem muito esforço. Depois, tivemos alguns dias de folga e lembro-me de ter sentido cansaço intenso, mas achei que estava relacionado com a descompressão normal de fim de temporada. Quando voltei a treinar, ainda estava cansado, sentia-me sem energia, mas sem o relacionar à pancada. Se tivesse feito um teste para avaliar a capacidade de recuperação, poderia ter voltado a jogar com um nível normal de energia», explica.

Varane admite que a concussão sofrida contra o Getafe teve impacto direto no desempenho contra o City: «Senti logo no aquecimento, dizia para mim mesmo: acorda! Quase tive vontade de me dar um estalo. Durante o jogo, fui muito lento na três primeiras bolas, não conseguia concentrar-me. O jogo foi mau para mim (os dois golos sofridos foram devido a erros de Varane) e, olhando para trás, percebi que esteve relacionado com o choque que tinha sofrido. Questionei-me muito e percebi que aqueles erros não tinham caído do céu.»