Dia 14 de fevereiro vão ter lugar as eleições para a presidência da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), mas para além do cargo de presidente, também o Conselho de Arbitragem vai a votos. Um dos candidatos à liderança da arbitragem da FPF é Luciano Gonçalves. O até agora presidente da APAF deslocou-se até à redação d' A BOLA para falar daquilo que vai levar a votação dos 84 delegados, que vão decidir os destinos da FPF
— Qual a razão para nesta fase da vida achar que o seu lugar é no Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol e não na APAF?
— O que me levou a aceitar este desafio foi essencialmente o convite surgir de Pedro Proença, que é uma das minhas referências na arbitragem e também uma das minhas referências no dirigismo. E as condições que me colocou quando me lançou o desafio, dando-me autonomia, a independência para que eu pudesse realizar o meu trabalho. Eu só abraçaria um projeto destes se tivesse total autonomia para a escolha da minha equipa. Fiquei muito lisonjeado com o convite. Tive também convites de outros candidatos, o que me satisfaz ainda mais, porque várias pessoas me reconheciam capacidade para liderar os destinos do Conselho de Arbitragem. O Pedro Proença apresentou-me a visão que tem e o projeto. Aquilo que são os 18 grandes desafios que o compõem. Uma transformação 360, naquilo que é o futebol. Há mais de um ano que eu e o Pedro Proença vínhamos a pensar neste projeto. Fomos construindo aquilo que para mim é muito importante, que é a criação de um Plano Nacional de Arbitragem, algo histórico em Portugal.
— Esse Plano Nacional de Arbitragem é a primeira bandeira desta lista candidatura ao Conselho de Arbitragem?
— Sim, claramente. O Plano Nacional de Arbitragem era uma condição muito importante para eu abraçar este projeto. Nunca existiu, é necessário, e só assim nós conseguimos triplicar o número de árbitros. Termos mais e melhor formação, humanizarmos a figura do árbitro... O plano irá ser apresentado até julho de 2025 e irá guiar-nos nos próximos 12 anos. É claramente esse o nosso principal objetivo.
— Quais são as linhas orientadoras desse Plano Nacional de Arbitragem?
— O objetivo é olharmos de uma forma transversal e aglutinadora para a arbitragem. Conhecermos a realidade que existe nos 22 distritos. Percebermos quantos árbitros temos e quantos necessitamos, salvaguardando que não teremos jovens a fazer a quantidade de jogos que fazem agora. Temos de criar um plano de formação, com a criação de um Diretor Técnico de Arbitragem Nacional, também algo inovador. Teremos 22 Diretores Técnicos de Arbitragem Distritais, que irão trabalhar de forma orgânica. O árbitro de primeira divisão tem de receber a mesma formação que o árbitro do distrital ou vice-versa, fazendo com que se consiga triplicar o número de árbitros. Queremos ter muitos mais árbitros, e mais bem preparados no topo. Salvaguardando sempre a competência, e criando métricas para que de três em três anos se consiga ter árbitros a arbitrar uma final europeia. Nada melhor do que termos duas pessoas na equipa quem sabem como é que essas coisas se fazem. O Pedro Proença apitou uma final da Liga dos Campeões e uma final da Liga Europa, e temos um presidente do Conselho de Arbitragem atual, que é candidato a vice-presidente [Fontelas Gomes], que também sabe como é que foi possível criar condições para que nós tivéssemos tido recentemente o Artur Soares Dias a apitar uma final europeia. Este plano permite-nos olhar para a arbitragem no seu todo. Para isso temos de profissionalizar, para que se possa ter árbitros de topo em 4, 8 e 12 anos. Entram também outras valências, como a questão da humanização da figura do árbitro e o colocar os árbitros a falarem muito mais para a comunicação social. Nós temos de sair de dentro desta bolha em que a arbitragem vive há décadas. Explicar-se mais vezes, e de uma forma sistemática, aquilo que são as decisões da arbitragem, as decisões do fim de semana. Se fizermos isto de uma forma sistemática não vamos necessitar de ser reativos quando as coisas acontecem em jogos de maior mediatismo. Formação, recrutamento e retenção são os principais pilares deste Plano Nacional de Arbitragem.
— Quem é que faz parte da lista que preside?
— Temos uma equipa multidisciplinar, muito competente e muito humilde. No futebol profissional tenho Nuno Almeida, que é o árbitro com mais jogos nos campeonatos profissionais. Tem mais de 500 jogos e é um conhecedor daquilo que é o futebol profissional, com uma carreira de mais de 30 anos. No futebol não profissional o Luís Estrela, que foi durante oito anos presidente do Conselho de Arbitragem da AF de Lisboa e esteve vários anos ligados aos órgãos sociais da APAF. Na secção de classificações Rui Licínio, um dos árbitros assistentes mais internacionais, muito reconhecido entre os pares, e Albano Fialho que está no atual Conselho de Arbitragem e que pode dar uma continuidade e conhecimento do que é o processo atual. Temos também Nuno Roque, ex-árbitro de primeira divisão, e o Joel Amado, ex-observador e atual técnico de arbitragem da FPF. Temos também o André Gralha, outro ex-árbitro de futebol profissional, e vários presidentes de conselhos de arbitragem distritais e presidentes de núcleos. No futsal temos o árbitro com mais presenças em Mundiais e em Europeus, o Eduardo Coelho. Pela primeira vez na história de um Conselho de Arbitragem, temos duas senhoras: Diana Henriques, uma árbitra da AF de Coimbra, ex-árbitra da Liga BPI, e Ana Patrícia Borges, uma professora licenciada em Direito, com vários trabalhos académicos relacionados com a arbitragem. Mas, além da nossa equipa diretiva, não deixamos de ter junto a este projeto o José Fontelas Gomes, que tem feito um trabalho de excelência ao longo destes oito anos, e temos a parte técnica, na nossa Academia de Arbitragem, com pessoas como Artur Soares Dias, Duarte Gomes, Pedro Henriques, Lucílio Batista, André Campos, Tiago Trigo, Gustavo Sousa, António Cardoso, entre outros. Irão ser eles a desempenhar várias funções técnicas e formativas, nacionais e internacionais. A nossa equipa é muito eclética, muito ligada à base e ao topo, conhecedora daquilo que é a realidade dos 22 conselhos de arbitragem distritais e o que é o futebol profissional. Tenho a certeza de que esta equipa me garante que conseguimos levar a cabo o Plano Nacional de Arbitragem.
— Porque é que pessoas como Artur Soares Dias, Duarte Gomes ou Pedro Henriques, são uma mais-valia, mas fora do Conselho de Arbitragem?
— Eu defendo um novo modelo de governação com uma clara separação da componente diretiva dos gestores de arbitragem. Uma separação entre o que são dirigentes de arbitragem e que são técnicos de arbitragem. Quem ensina não deve ser dirigente. Quem manda, não deve ser quem treina. Numa equipa de futebol quem manda não é quem treina. Não é o presidente que é treinador. A arbitragem tem de olhar para estes bons exemplos do futebol e fazer da mesma forma.
Luciano Gonçalves é candidato a presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, na lista de Pedro Proença. Em entrevista a A BOLA fala sobre o ato eleitorial do dia 14 de fevereiro e do que quer mudar no setor