Ana Capeta luta por um lugar no onze de Francisco Neto (Foto: IMAGO)

Ana Capeta e o Sporting: «Só quem está presente é que sabe tudo o que passamos»

Internacional lusa admite leoas em fim de ciclo, mas para já foca-se no sonho de uma vida, prestes a ser concretizado. Guiadas pelo carinho emigrante, avançada defende que passar a fase de grupos já não é uma ilusão

Ana Capeta marca golos por diversão no primeiro escalão desde os 19 anos, mas teve de esperar oito para disputar o primeiro Campeonato da Europa da carreira. As 47 internacionalizações refletem o estatuto de quem esteve perto do Olimpo em 2023. O remate ao poste diante dos EUA na última jornada da fase de grupos do Campeonato do Mundo foi difícil de digerir, mas, dois anos depois, a sorte pode mudar de lado. 

Em conversa comABOLA, Capeta revela expetativas para o Euro, abraça as dificuldades e analisa uma temporada verde e branca agridoce. 

-À terceira participação consecutiva no Europeu, o grupo sente que é possível passar a fase de grupos pela primeira vez? 

-Claro que sim, sabemos das dificuldades que temos no nosso grupo, mas não seria Portugal se não fosse assim. Sabemos bem quais são os nossos objectivos e é encarar os jogos todos da mesma forma e melhorar os pontos fracos. 

-Há um objetivo definido no seio do grupo? 

Temos que estar centradas primeiro no que temos de fazer contra a Espanha e só depois de fazer um bom trabalho é que podemos pensar no próximo jogo. Vamos lutar pelas nossas ambições. 

-É benéfico voltar a defrontar Espanha e Bélgica, adversários na Liga das Nações há poucos meses? 

-Claro. Temos dois jogos menos felizes contra a Espanha, mas só temos de pensar positivo, corrigir os erros que fizemos contra a Espanha e contra a Bélgica no segundo jogo e transferi-los para este Europeu para tirarmos o melhor de cada uma. 

- Qual é o impacto da saída da convocatória de uma jogadora tão influente como a Carolina Mendes? 

- É óbvio que nos vai fazer falta, é uma jogadora muito experiente, que nos passa muita maturidade, mas irá tudo correr pelo o melhor. 

- Restam cinco opções no ataque para duas posições... 

- Não é concorrência, simplesmente temos todas o mesmo objetivo que é somar o maior número possível de minutos nestes jogos. Cada uma está a lutar pela equipa e isso é o essencial. 

Ana Capeta (IMAGO)

-As suas 47 internacionalizações acrescentam responsabilidade? 

-Não me considero uma das jogadoras mais experientes, acho que estamos todas ao mesmo nível em termos de conhecimento do jogo e de sabermos em que espaço estamos inseridas. Sabermos bem os objetivos que temos vai facilitar o processo. 

-Como é que avalia a entrada de sangue novo nos últimos estágios na seleção? 

 Elas têm passado bem a sua curta experiência. Os estágios antecedentes só têm dado razão à aposta, elas têm estado muito bem e assim continuarão, com certeza. 

- Já anteviram o impacto de jogar na Suíça? 

- Há muita afluência, sabemos que isso nos pode ajudar, já há estádios lotados e basicamente vamos jogar sempre em casa. 

- No Mundial 2023, tem uma bola ao poste no último minuto da última jornada frente aos Estados Unidos. Esta é a oportunidade perfeita para inverter a sorte? 

- Sim, espero que não seja outra vez uma infelicidade, mas sim uma felicidade e tenho a certeza que vamos sair todas felizes no final. 

Era só um bocadinho mais para a esquerda (IMAGO)

-Falando em sonhos, vencer um Europeu nos próximos 10 anos pode tornar-se realidade?

Claro que sim, podemos ver isso pelas nossas camadas jovens e pelo que têm vindo a fazer. As nossas sub-19 ganharam a grandes potências e candidatas vencer o Europeu. Podemos olhar para o futuro e achar que é possível. 

2024/25 pintado a verde e branco: do sucesso à instabilidade

- Como é que avalia tanto em termos individuais como coletivos a época de clubes que terminou ?

- Em termos coletivos, todos sabemos que não foi uma época 100% feliz, começámos bem, ganhámos a supertaça, não conseguimos ganhar mais nenhum título. Foi uma época difícil e só quem está presente é que sabe tudo o que passamos, mas isto é o Sporting. 

- O Sporting já anunciou algumas saídas de jogadores importantes nos últimos anos [Ana Borges, Hannah Seabert, Fátima Pinto]. Começou uma reformulação? 

- As jogadoras têm a sua vida profissional e cada uma certamente saberá o que fazer e bem entender dela. Se acharam que o melhor seria sair do Sporting, elas certamente saberão que será o melhor para elas. 

Apesar de muita luta, a época não sorriu às leoas (IMAGO)

-Os clubes ficam à porta da Cidade do Futebol ? 

Sim, seja no final da época, seja durante, nenhuma jogadora aqui faz comentários sobre o que é que seja dos clubes e o ambiente aqui é 100% saudável em relação a essas coisas. 

- Quais são os seus principais objetivos que ainda tem na carreira? 

Um dos maiores sonhos que tinha e que ainda tinha por realizar era estar presente no Europeu, estou prestes a consegui-lo. Estou a dar o meu melhor todos os dias para poder estar presente e conquistar mais um sonho. 

- O Arsenal vai jogar todos os jogos da Superliga inglesa no Emirates, casa da equipa masculina. Acha que isso pode ser replicado, por exemplo, em Alvalade? 

As coisas estão a crescer em Portugal, sabemos que também é um investimento muito grande e para isso acontecer não é só o clube dar um passo à frente, os adeptos também têm de o fazer, porque não pode ser só os clubes estarem a investir e os adeptos não cumprirem e não ajudarem. Quanto maior for a afluência nos jogos, mais direitos vamos ter em relação a isso, e falo em relação ao Sporting como falo em relação a qualquer clube. Em relação a mim tenho sentido um feedback sempre positivo, sei que os adeptos gostam de mim, isso para mim é uma felicidade