Rui Jorge após Portugal perder a final do Euro sub-21 de 2021, para a Alemanha (IMAGO)

Rui Jorge nos sub-21: das finais perdidas ao ideal anti-resultadista

Terminou o período do treinador de 52 anos à frente dos jovens portugueses, ele que projetou 65 jogadores para a Seleção A, bateu recordes, mas que, sem títulos conquistados, acabou por ser substituído por Luís Freire no cargo

Há toda uma geração de jogadores e de adeptos que não conhece a Seleção de sub-21 sem Rui Jorge à frente. Mas tudo tem um fim e a forma como Portugal saiu do último Europeu – derrota com os Países Baixos estando a jogar em vantagem numérica por mais de 70 minutos – ditou que a era do técnico estava no fim.

Assim, qual será o balanço que se faz de um treinador que trabalhou com praticamente todos os jogadores que, na última década, se destacaram na Seleção principal, chegou a duas finais de Europeus, mas a quem acabou por faltar sempre o quase?

Recordista

Fazendo uma análise mais fria, a longevidade de Rui Jorge no cargo é deveras impressionante, o que lhe permitiu ser o selecionador com mais jogos (127) e mais vitórias (97) à frente da Seleção sub-21.

Rui Jorge no ano de estreia à frente dos sub-21 (Foto: VITOR GARCEZ/ASF)

Rui Jorge também habituou esta equipa a chegar aos Europeus, algo que não era garantido quando assumiu o cargo em 2011, depois de iniciar a carreira de treinador durante quatro épocas ao serviço dos juniores do Belenenses (com dois jogos pela equipa principal do Restelo, em 2008/09).

Ao chegar aos Sub-21 em 2011, Portugal não ia a um Campeonato da Europa desde 2007. E lá chegou finalmente em 2015, onde se acabou com uma maldição, mas... se começou outra.

As tais finais

Rui Jorge estreou-se pelos sub-21 a 9 de fevereiro de 2011, frente à Suécia. Quatro anos volvidos enfrentou o mesmo adversário na final do Europeu, mas a geração de José Sá, Raphael Guerreiro, William Carvalho, João Mário e Bernardo Silva sucumbiu perante a Suécia nos penáltis.

Rui Jorge consola os jogadores de Portugal após a final perdida do Euro 2015 (foto: Miguel Nunes/ASF)

Vieram depois qualificações sucessivas, exceto em 2019 – a geração de Eustáquio, Rafael Leão, João Félix e Diogo Jota perdeu um play-off de qualificação com a Polónia. Dois anos depois, voltou-se à terra prometida.

No Euro de 2021, Portugal ficou no 1.º lugar do grupo, no qual ganhou a Inglaterra, Croácia e Suíça. Nos quartos de final venceu a Itália nos penáltis e nas meias-finais os sempre complicados espanhóis. A equipa que tinha quatro Diogos na defesa – Costa, Dalot, Leite e Queirós – e muito talento no meio-campo com Daniel Bragança, Vitinha e Fábio Vieira e ainda um ataque com Rafael Leão e um inspirado Dany Mota.

Rui Jorge e Diogo Dalot no Euro 2021 (IMAGO)

Mas a final contra a Alemanha só reforçou o estatuto de este Portugal como a equipa do quase. Num jogo onde só fez um remate enquadrado, os lusos perderam para a Alemanha (0-1).

Assim, a nível das seleções de Portugal, só nos sub-21 é que a Equipa das Quinas nunca ganhou qualquer troféu.

A filosofia de Rui Jorge

O nosso objetivo a nível dos sub-21 nunca é apenas ganhar, mas sim os jogadores serem individual e coletivamente mais fortes. Isso é que nos colocará em patamares superiores que nos fará mais facilmente vencer (Rui Jorge em conferência de imprensa em 2024)

Rui Jorge sempre defendeu que o mais importante para a Seleção que comandava não era necessariamente ganhar a todo o custo, mas sim preparar os jogadores para a Seleção principal e outros patamares acima.

Já em 2022, quando chegou aos 100 jogos à frente da Seleção, reforçou esta ideia: «Não são os resultados, mas o percurso que temos de fazer e as tarefas que temos de desempenhar, depois aparecem os resultados.»

Certo é que muitos dos atletas que passaram pelas mãos de Rui Jorge ganharam depois os únicos troféus da história da Seleção principal, no Euro 2016 e na Liga das Nações em 2019 e 2025. Ao todo, o técnico promoveu 65 jogadores à Seleção A. Mas o resultado mais desejado nos sub-21 não apareceu: tanto em 2023 como este ano, Portugal caiu nos quartos de final

Creio que nunca perguntaram a um treinador se queria ganhar e ele disse que não. A nossa forma de pensar não é no resultado, mas no processo para lá chegar (Rui Jorge em conferência de imprensa em 2021)

Assim se resume o período de Rui Jorge na Seleção Nacional sub-21. A título de curiosidade, fique com o primeiro e o último onze do técnico à frente desta equipa

Portugal-Suécia, 3-1, jogo particular, 9 de fevereiro de 2011: Anthony Lopes, André Almeida, Dani Coelho, João Faria, João Pereira, Rúben Ferreira, Diogo Amado, Josué, Ricardo Martins, Wilson Eduardo, João Silva.

Portugal-Países Baixos, 0-1, quartos de final do Europeu, 21 de junho de 2025: Samuel Soares; Rodrigo Pinheiro, João Muniz, Chico Lamba, Fávio Nazinho; Gustavo Sá, Diogo Nascimento, Paulo Bernardo, Mateus Fernandes; Geovany Quenda, Tiago Tomás