Roger Schmidt: problema ou solução?
Roger Schmidt. Foto: Sérgio Miguel Santos/AS

Roger Schmidt: problema ou solução?

OPINIÃO10.12.202309:46

A incapacidade de Schmidt conseguir explicar as suas opções é gritante

Ao contrário de outros jogos em que o Benfica não jogou bem e venceu, frente ao Farense, os encarnados podiam ter goleado e acabaram por empatar. Ao longo do jogo muitos adeptos mostraram descontentamento, sobretudo para com o treinador alemão. A incapacidade de Schmidt conseguir explicar as suas opções é gritante e tem gerado insatisfação nos adeptos que não estão agradados com a performance e resultados apresentados até ao momento.

Lei de Murphy

O Benfica atravessa um contexto adverso. A prestação na Liga dos Campeões, as exibições na Liga Portugal e a comunicação de Schmidt são pontos que têm gerado insatisfação nos adeptos encarnados. Se no ano passado tudo corria de feição, a realidade é que, este ano, o cenário é completamente diferente. O jogo frente ao Farense surgiu num momento importante. Era fundamental a equipa ganhar confiança e embalo para a difícil e importante semana que os encarnados terão pela frente. O Benfica fez um bom jogo, criou inúmeras ocasiões de golo mas não conseguiu concretizar. Como diz a Lei de Murphy: «Qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível.» O empate acaba por criar maior pressão na equipa, numa semana em que irá ter um jogo decisivo para a entrada no play-off da Liga Europa e, no domingo, uma difícil deslocação a Braga. Com o empate frente ao Farense, o jogo de Braga ganha ainda mais importância, porque uma vitória da equipa bracarense fará com que a equipa minhota ultrapasse o Benfica na classificação. O resultado do jogo com o Farense já era, por si, um ponto negativo e de difícil gestão. A conferência de imprensa de Roger Schmidt no pós-jogo acabou por tornar o ambiente em torno do clube da luz ainda mais complicado.

Schmidt ‘vs’ adeptos

Quando se ganha é muito fácil manter uma postura correta e positiva. O problema é quando as coisas começam a correr mal. Ao longo deste ano, Roger Schmidt tem demonstrado uma enorme incapacidade de lidar com a crítica. Fica incomodado quando o questionam e as suas respostas dão a ideia de viver num mundo diferente. Na sua comunicação, não identifica os problemas da equipa, evita e sente incómodo em falar das suas opções. Dentro do relvado o cenário não é melhor. Os problemas da equipa continuam os mesmos e ficam bem visíveis quando o Benfica enfrenta adversários de maior qualidade. A incapacidade de Schmidt corrigir e trabalhar os defeitos da equipa tem sido bem percetível. Já mudou de sistema tático e troca, com frequência, jogador por jogador, não percebendo que o problema está na dinâmica coletiva e nos maus posicionamentos dentro do relvado. Este é um padrão que se tem vindo a verificar desde o início da época. No jogo com o Farense tivemos mais um capítulo. É ponto assente que ninguém tem o direito de agredir, atirar objetos para o relvado ou humilhar quem quer que seja. Esses comportamentos não só são condenáveis como devem ser erradicados. Contudo, também é importante referir que os adeptos têm todo o direito e legitimidade à crítica. A crítica pode ser feita de várias formas (nunca de uma forma violenta), e os atletas e treinadores têm de estar preparados para isso. O que não pode acontecer é um treinador chegar a uma conferência de imprensa e dizer que os sócios que vêm apoiar são bem-vindos e os que criticam que fiquem em casa!! Os sócios e adeptos serão sempre o motor dos clubes. Um treinador pode ter legitimidade para tomar as decisões que entende, mas nunca para mandar os adeptos para casa, porque estes criticam as suas escolhas. Quem conhece o futebol português e o Benfica percebe que uma das suas forças é o enorme apoio dos adeptos. A reação dos adeptos, no último jogo, foi uma resposta às declarações de Schmidt que afirmou que a maioria dos benfiquistas estava satisfeita com o desempenho da equipa até ao momento, ignorando constantemente o real sentimento dos adeptos. Existem momentos em que são os adeptos que puxam pela equipa e noutros em que tem de ser a equipa a puxar os adeptos para si. Com as declarações que fez depois do jogo com o Farense, Schmidt está a agudizar um problema que cresce de dia para dia e que não vai contribuir, de forma positiva, para o rendimento da equipa…

Conferência antes do jogo

O jogo com o Farense pode ter sido o momento em que Roger Schmidt se começou a defender. Nas últimas semanas, o treinador alemão tem sido alvo de inúmeras críticas às suas opções e à forma como a equipa se apresenta no relvado. Naturalmente que estas críticas acabam por ter influência dentro relvado, uma vez que geram ansiedade em todos: adeptos, jogadores e treinador. Na conferência de imprensa antes do jogo com o Farense, Schmidt teve uma posição diferente. Referiu que as decisões de planeamento e contratações podem ser tomadas em conjunto, mas que a última decisão é da administração e não sua. Com esta tomada de posição, o treinador encarnado puxou para o seu tabuleiro a administração encarnada que, aparentemente, estava a deixar passar a mensagem de que a contratação de Jurásek, entre outras, foram da total responsabilidade do treinador alemão.

Arrogância ou estratégia

Schmidt tem muitos anos de futebol e sabe tão bem como nós que ao referir que os adeptos que não apoiam a equipa devem ficar em casa, está a criar um atrito com os adeptos e sócios do Benfica, tal como fez com os jornalistas. Sabe também que um treinador é um assalariado do clube e, como tal, tem de respeitar as críticas, sejam elas positivas ou negativas. Tem ainda a perfeita noção de que, com estas declarações, o ambiente não vai ficar melhor, pelo contrário! Então, por que motivo proferiu Roger Schmidt tais declarações?

Reação de Rui Costa

Roger Schmidt foi inteligente. As declarações duras e incisivas que fez obrigaram o presidente encarnado a reagir, deixando-lhe apenas duas opções. Como é natural, Rui Costa optou pelo caminho óbvio, que passou por tranquilizar a nação benfiquista, dar um voto de confiança e assumir a responsabilidade pela época, junto do seu treinador (agora e no futuro). A segunda opção seria deixar o barco andar e permitir que Schmidt continuasse a ser o alvo. Ao longo das suas declarações, Rui Costa referiu que, desde o início da época, se está a fazer uma cabala contra o seu treinador. A realidade é que a cabala que o presidente do Benfica fala não é mais do que um conjunto de críticas justas e com sentido. Felizmente que as pessoas pensam, cada vez mais, pela própria cabeça e não engolem as mensagens que lhes querem passar. Por fim, Rui Costa referiu dois pontos importantes. O primeiro foi que fala regularmente com Roger Schmidt e que este sabe muito bem a confiança que tem nele. Se assim é, por que motivo Roger Schmidt colocou o lugar à disposição? Faz sentido esta posição por parte do treinador? O segundo ponto foi a forma como Rui Costa desvalorizou as críticas de Roger Schmidt aos sócios, referindo que quem quisesse criticar deveria ficar em casa. Um presidente não pode legitimar este tipo de declarações. Muitos sócios e adeptos fazem muitos sacrifícios e percorrem longas distâncias para ver e apoiar o clube e têm toda a legitimidade para se fazerem sentir da forma que entenderem (que não inclua violência). Não existem sócios bons e maus ou sócios de primeira e de segunda. Se no caso de Arthur Cabral Rui Costa entende que o jogador fez bem em desculpar-se, o mínimo que devia exigir seria que o seu treinador fizesse o mesmo.

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