Roberto Martínez anda a brincar com os jogadores

Roberto Martínez divulgou ontem a suposta lista de convocados para a fase final da Liga das Nações. Com 27 jogadores. Defendeu-se, lembrando que vários dos convocados ainda estão em competição, alguns até com dois jogos, como os do PSG, que têm de jogar a final da Taça de França e a da UEFA Champions League. «Já fizemos isto em outros estágios, com 27 podemos trabalhar individualmente e ter a melhor seleção para irmos à Alemanha», argumentou o selecionador.

É legítimo, mas ingrato. Até porque nada garante que Portugal, e os outros finalistas, possam levar 26 jogadores à fase final. «Estamos à espera do número final da UEFA para a final four», disse também Martínez. Pode ser. Mas os regulamentos preveem especificamente listas de 23, com possibilidade de trocas só por lesão ou doença e antes do primeiro jogo. É certo, o mesmo acontecia antes do Euro 2024 e a UEFA acabou por alargar as vagas na convocatória final para 26. Mas fê-lo no início do mês de maio, e não a uma semana de as seleções terem de entregar as listas. E uma coisa é uma prova na qual os finalistas têm de fazer sete jogos, outra uma competição com apenas duas partidas...

Se em 2024 a maior parte das seleções pedia listas alargadas, agora, para a Liga das Nações, Portugal estará a pregar no deserto. Em 2024, a França nem sequer aproveitou por completo a possibilidade dada pela UEFA de alargar a lista, com Didier Deschamps a convocar apenas 25 jogadores — para diminuir o risco de ter atletas que pouco ou nada jogariam durante um mês, ou mais. A Espanha, embora com outro selecionador, fez o mesmo no Euro 2020. E a Alemanha, para as jornadas duplas de qualificação, chama por sistema apenas 23 jogadores.

Ou seja, a probabilidade de as listas passarem a 26 é muito pequena. Mas pior: têm de ser entregues uma semana antes do primeiro jogo — ou seja, no caso de Portugal, no dia 28, dois dias depois do início dos trabalhos. Martínez chamou 27 jogadores sabendo (espero) que o mais provável é que logo a seguir tenha de cortar quatro. E mesmo que queira mantê-los em estágio, para salvaguardar alguma lesão num dos que vão estar na final da Champions, com que moral ficarão a trabalhar sabendo que são segundas opções? Sabendo que tão precisados de férias estão, mais ainda aqueles que terão de ir ao Mundial de Clubes? Não seria preferível avisar dois ou três que ficavam de prevenção e trabalhar com grupo mais curto?

Martínez anda a brincar com os jogadores, mas a saúde física e mental deles não deveria ser para brincadeiras.