Rui Borges visivelmente agastado com questões sobre o facto de o avançado dinamarquês ter entrado só depois do golo do SC Braga

O segundo erro de Rui Borges

Primeiro St. Juste, agora Harder... O treinador do Sporting, quando pressionado, por vezes diz o que não deve. Fez bem em pedir desculpa ao dinamarquês. Neste fase vai precisar que todos posssam dar a vida por ele e ele pelos jogadores. Porque onde vai um.... Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do meu Livro do Desassossego

A principal missão de um formador não é ensinar. Ensinar é apenas transmitir uma série de informações. Fica por fazer tudo o resto: garantir que a informação é corretamente processada e utilizada. Ensinar é colocar gasolina no veículo, não significa que o condutor saiba conduzir ou tome a direção certa no seu percurso. Conhecimento não é sabedoria. Brincando um pouco, conhecimento é saber que um tomate é fruta. Sabedoria é não o usar numa salada de frutas.

A principal missão do formador não é disciplinar. Disciplinar é apenas impor uma série de hábitos e traçar limites, que podem ser os mais corretos mas que de nada valem sem a compreensão e a adesão voluntária e comprometida do formando.

A principal função do formador é inspirar. É despertar a paixão nos formandos para que eles, e apenas por eles, queiram aprender, melhorar, descobrir, fazer caminhos que nem o formador pensou para eles. No respeito pela individualidade, pela velocidade de crescimento, pelas capacidades, pelos interesses e paixões dos formandos, sabendo que num grupo nem todas as estratégias resultam de igual modo com todos, nem todos os caminhos são os mesmos, que a distância não se mede em quilómetros ou objetivos que alguém traçou. Inspirar.

Aurélio Pereira era um desses formadores. Que inspirou muitos jovens jogadores. O maior caça talentos da história do futebol português, o melhor ourives que o futebol conheceu. E nem sequer é uma conclusão minha e subjetiva. Basta ler e ouvir tudo o que muitos dos maiores talentos da história do futebol português dizem sobre Aurélio Pereira. E no topo dos elogios, nunca está a forma como ensinou, a forma como disciplinou. O que está no topo dos elogios é a forma como inspirou. Como fez acreditar. Como despertou a vontade de serem melhores.

Felizmente, Aurélio Pereira recebeu em vida muitas das devidas homenagens. A maior das quais, a gratidão dos hoje homens cuja vida, em jovens, ele impactou. E são as vidas que se inspiram o melhor tributo a quem assume a missão de formar.

Rui Borges tem de aprender muito com Aurélio Pereira. É a segunda vez em poucos meses que melindra um jogador em público. Primeiro St. Juste, agora Harder. As críticas, em público, podem ser devastadoras para um elo de confiança que se exige entre um jogador e treinador. Mais do que nunca, Rui Borges vai precisar que os jogadores possam dar a vida por ele. E os jogadores têm de acreditar que têm um treinador que dará vida por eles. Foi aqui que esteve o pilar do sucesso de Rúben Amorim.

Rui Borges Esteve bem em explicar-se e pedir desculpa a Harder, mesmo que tenha havido exagero na interpretação do que disse. Mas é ao grupo todo que deve explicar-se. Mal do Sporting, como de qualquer grupo, se as críticas a um jogador afetarem apenas o visado. O Sporting só pode ser campeão se todos os jogadores tiverem sentido precipitadas as declarações de Rui Borges sobre Harder.

Não hesito um segundo em dizer que acredito ser Rui Borges uma pessoa justa, bem formada, leal e humana. Mas nem sempre falar o que se pensa ou sente, mesmo que justo, é sensato. Muito menos eficaz. Onde vai um vão todos, lembram? Todos, todos, todos.