Lição que Marcano deu ao filho
No simbolismo da numerologia, o 533 tem um significado espiritual profundo, considerado o símbolo da transformação e crescimento pessoal. Enfatiza a importância de escutar a intuição, na certeza de que as respostas às grandes perguntas que fazemos se encontram dentro de nós e podem resultar em grandes revelações e transformações. Contém profecias e conselhos sobre a melhor forma de orientar as ações que praticamos e de organizar a vida. Abraçar o 533 é um presságio de transformação, repto a experiências que podem mudar a visão de mundo e convite a questionar o que sempre demos por adquirido.
Sejamos claros, não é que eu dê sequer importância à numerologia como guia com indicações para a vida. Tenho fontes que considero mais fiáveis para me guiar. Só que, como diriam os espanhóis noutras circunstâncias, eu não acredito em numerologia, mas que ‘la hay, la hay…». E talvez isso se possa traduzir na travessia do deserto de Marcano, que durou 533 dias até poder voltar a jogar futebol. Quase ano e meio a lutar contra uma lesão grave, a duvidar que voltaria aos relvados e a contrariar a biologia, que aos 37 anos manifestamente coloca um jogador de futebol na pré-reforma e apenas os que trataram bem dela. E a numerologia aqui bate certo para Marcano: este período de 533 dias foi um período de transformação, crescimento pessoal, encontrar as respostas dentro dele, escutar a intuição, contrariar todas as vozes que lhe diziam está na hora de deixar de jogar e de questionar a vida.
Talvez Marcano se tenha inspirado na cidade espanhola de onde é natural: Santander. No Grande Incêndio de 1941, que destruiu quase toda a cidade, em especial as relíquias históricas e culturais, e que por milagre provocou apenas uma vítima mortal, um bravo bombeiro. E Santander precisou de bem mais de 533 dias para se reerguer ao nível que podemos testemunhar numa visita que vale a pena.
Talvez Marcano tenha atravessado todo este doloroso deserto, com avanços e recuos, miragens de oásis que demoravam a concretizar-se, por uma questão de identidade. Ser jogador de futebol não é a sua profissão, é a sua natureza. Logo, a luta resume-se à defesa da identidade. E vejam como são as coisas: tal como aconteceu com Marcano, quando mais refletimos sobre o passado e o futuro, mais forte é a convicção – como disse o jogador - «que apenas o agora importa».
Martín Anselmi revelou que Marcano tudo aguentou para dar ao filho o presente que este lhe pediu: vê-lo de novo a jogar futebol… Mas o grande presente que Marcano deu ao filho não foi esse. Ver o pai jogar de novo será uma doce lembrança para o filho. Ter visto a luta do pai durante 533 dias é que é o grande presente, embrulhado em lição de vida que fica marcado como tatuagem. É que, em caso extremo, um filho pode até não escutar nada do que um pai lhe tenta ensinar, mas gravará para sempre tudo o que vê um pai fazer.
Em final de contrato, que Marcano e FC Porto saibam definir o futuro que honre jogador e instituição. Não sei se a carreira do central espanhol vai durar mais três meses ou mais três anos. Mas sei quanto durou o melhor jogo que vi Marcano fazer: 533 dias.