Há no Futebol, como na literatura, instantes em que a realidade parece dobrar-se à vontade dos que ousam. A cinco jornadas do fim, o Sporting Clube de Braga está, pontualmente, dentro da luta pelo título.Digo-o sem hesitações, sem o pudor provinciano de quem teme a altivez das grandes praças. Porque esta verdade, como as melhores verdades, não depende da aritmética: é o mérito que a legitima, é o trajecto que a honra.Não foi uma campanha feita de fogos de artifício, mas de arquitectura sólida, jogo a jogo, semana a semana, como quem levanta uma catedral com as próprias mãos.Carlos Carvalhal regressou a um lugar que conhece como a sua sombra, mas trouxe consigo algo mais que um plano de jogo. Trouxe uma ideia, uma convicção serena e uma coragem quase herética neste tempo de resultados fáceis: a aposta na formação.Enquanto outros se perdem no supermercado de talentos exóticos, o SC Braga ofereceu palco a jovens da casa. E fê-lo sem condescendência, mas com exigência.O que se viu em campo não foi uma adolescência apressada, mas uma juventude amadurecida pela confiança de um Treinador que sabe que formar é, antes de tudo, acreditar.Que o SC Braga esteja, hoje, ombro a ombro com os ditos grandes não é acaso: é consequência. Não apenas de uma época bem conseguida, mas de um modelo que conjuga rigor, investimento sensato e fidelidade a um estilo. A Cidade dos Arcebispos tem agora no futebol um novo altar, onde a fé se constrói com bola corrida e onde a comunhão se faz ao domingo — não com hóstias, mas com golos.Ainda que o título não venha — e por que não há-de vir? — o que o SC Braga já alcançou nesta temporada é a confirmação de um estatuto. Não é um outsider em boa forma. É, começa a ser, legitima e regularmente, um candidato.E isso, num futebol português cada vez mais domesticado, é mais do que uma esperança: é uma bênção. Sugestão de vídeo