Neymar?
Por ter sido mais vezes gritado, cantado, aplaudido, saudado, ovacionado e aclamado do que simplesmente falado, alguém escreveu um dia que o nome de Pelé se devia escrever Pelé!, assim mesmo, com o ponto de exclamação anexado à alcunha mais famosa do mundo do futebol — e de todos os outros mundos.
Já Neymar, outra estrela made in Santos Futebol Clube tão ou mais famosa do que o Rei, menos graças ao rendimento em campo e muito mais por causa da força das redes sociais e da globalização dos tempos atuais, justifica, a cada temporada que passa, ser escrito Neymar?, com um ponto de interrogação adjacente.
É mais talentoso do que Zico, Romário, Ronaldo Fenómeno e outros apóstolos de Pelé? Vai ser tão bom como Messi ou Cristiano Ronaldo ou até superá-los? Triunfará no Barcelona? Levará o Paris Saint-Germain a uma ansiada vitória da Liga dos Campeões? Liderará algum dia o Brasil rumo ao hexa mundial? Jogará três ou quatro vezes seguidas no Al Hilal? Mas e o Al Hilal precisa mesmo dele?
Vai passar mais tempo em pé ou caído durante os jogos? Mais tempo a jogar ou no departamento médico? Mais a tempo a treinar ou a comentar as últimas do Big Brother Brasil, a envolver-se em controvérsias estéreis na net, a cantar música brega, a apostar em desportos de teenager? Vai, finalmente, crescer? Quem decide que passos dar na carreira, ele ou o ganancioso pai?
Nos últimos tempos, três novas interrogações: Carlo Ancelotti vai, de facto, contar com ele na seleção? Depois de ter custado, até ver, 260 mil euros por jogo, e atuado por 90 minutos numa partida apenas, continuará no Santos? Ou permitirá que a última imagem dele no clube seja a de uma expulsão por ter pontapeado um rival e marcado um golo com a mão numa derrota caseira?
O atacante tem todo o direito de não querer se esforçar para ser melhor do que Zico, Romário ou o Fenómeno, do que Messi ou CR7, até triunfou, e muito, no Barça e parte das lesões que sofreu foram por pura infelicidade. Mas a outra parte resultou da ausência de um estilo de vida pouco profissional que o resumiu a um estorvo ruinoso em Paris, na Arábia Saudita e, agora, na Vila Belmiro.
Neymar?, este, o com o ponto de interrogação, sabota o Neymar, aquele que poderia ser uma certeza, porque vive rodeado de gente que o trata como um bebé reborn, que o mantém numa redoma de luxos e privilégios, de desculpas e mimos. Alguém escreveu também um dia que se não tivesse nascido homem, Pelé teria nascido bola. Neymar tem crescido numa bolha.