Mais Sócios a votar: sim! No telemóvel: não!

Mais Sócios a votar: sim! No telemóvel: não!

OPINIÃO07.10.202308:00

Antigo atleta do Sporting, candidato às eleições de 2018, João Benedito escreve em A BOLA artigo de opinião em que aborda o principal ponto da Assembleia Geral deste domingo: o voto eletrónico universal

Em 2018 assumi um dos maiores desafios da minha vida, a nível pessoal, profissional e emocional. Depois de 20 anos como atleta, entendi ter chegado a hora de propor um projeto que trouxesse uma mudança de paradigma aos projetos de governação existentes em instituições desportivas.

Em eleições saudavelmente concorridas, apesar do maior número de votantes, acabei por perder em número de votos.

Nessa mesma noite, antecipando as necessidades dos tempos vindouros, afirmei que quem ganhou poderia juntar os nossos votos, o nosso respeito e a nossa confiança, aos votos por si conseguidos. Era necessária estabilidade. A presença do candidato mais votado não faria bem ao Sporting. Pugnei por um Sporting Unido, com Raça e Futuro. 

Passados mais de 5 anos, os sócios do Sporting Clube de Portugal são chamados a decidir sobre a primeira proposta de alteração dos estatutos, desde essa data. Somos chamados a decidir sobre a lei e os regulamentos do nosso Clube.

Como sócio, interessado e informado sobre a vida do Clube, quero dar a minha opinião sobre a alteração estatutária proposta para a Assembleia Geral de amanhã. Pretendo que esta opinião contribua para que os Sócios do Sporting possam decidir informados, com mais conhecimento e, fundamentalmente, com maior esclarecimento sobre alguns conceitos.

Antes da minha opinião permitam-me citar Miguel Poiares Maduro, um dos maiores conhecedores deste tema: «A expressão voto universal é simplesmente falsa. Não se encontra um único especialista que fale de voto universal para se referir ao voto online. O direito de voto é que é universal. Nenhum método de voto é universal.» 

Voto eletrónico presencial: sim

Propõe o Conselho Diretivo do Sporting Clube de Portugal uma alteração aos estatutos do Clube, para que se passe a poder votar eletronicamente, à distância, em Assembleias Gerais comuns e eleitorais.

Pioneirismo e inovação são características que quero ver sempre no Sporting. Confiança, Informação e Comunicação também, sobretudo em assuntos que transportem esse mesmo pioneirismo e inovação. 

Uma coisa é a criação de condições para a participação do maior número de Sócios nas decisões das Assembleias Gerais. Sou totalmente a favor! Diria que faço parte de uma maioria que deseja o máximo de participação e vínculo dos Sócios à vida associativa do Sporting Clube de Portugal.

O voto eletrónico, como já é utilizado nas Assembleias Gerais Eleitorais, em que cada sócio escolhe o seu candidato num sistema eletrónico no pavilhão João Rocha, traz muitas vantagens, como a rapidez da contagem e a possibilidade de confirmação via impressão dos votos.

Outra coisa é um voto poder ser colocado numa urna virtual, via app instalada no tablet ou smartphone. E esta outra coisa carece, e muito, não só de informação e comunicação, como de confiança, segurança, credibilidade, liberdade e confidencialidade.

Voto no telemóvel: não!

São poucas as referências de soluções comparáveis, e ainda menos as bem-sucedidas. E, num momento em que os Sportinguistas sejam chamados a votar, não pode haver a mínima suspeição ou risco. Não podemos falhar, nem por pouco.

Somos, infelizmente, ainda reféns de traumas de supostas manipulações nas votações de AG eleitorais dentro do Clube e de históricas teorias da conspiração sobre formas de agremiar mais votos com poucos votantes. Uma mudança desta dimensão carece de um faseamento, a fim de enraizar uma perceção de confiança na nossa comunidade sobre o tema, sobre o sistema e sobre a sua execução. 

Também considero de extrema importância não confundir o excelente objetivo de alargar a participação dos Sócios e as inegáveis vantagens do voto eletrónico presencial, já utilizado nas Assembleias Gerais Eleitorais, com a suspeição, insegurança, afastamento e banalização de um voto depositado num tablet com o ecrã dividido entre o WhatsApp e a Netflix.

As Assembleias Gerais, e o voto de cada sócio, são um momento solene do Clube. Também isso deve ser passado às gerações mais digitais. As AG por maltratadas que por vezes possam ter sido, por menos produtivas do que o desejável que possam ser, são o momento que junta os Sportinguistas para que, em conjunto, possamos decidir. São abertas e democráticas, celebram o associativismo e o Sportinguismo, onde vai quem quer, mas sobretudo quem legitimamente pode. 

Queremos conviver, daqui para a frente, com o risco de quem escolhe o voto não ser quem tem o direito legítimo de o fazer? Com o risco de que quem valida o sistema possa ser parte interessada no resultado? Com o risco de haver interferências externas interessadas apenas em prejudicar? Nota muito importante: este receio não aporta nenhuma desconfiança sobre a seriedade dos atuais Órgãos Sociais do clube. 

Também eu partilho a visão de um Sporting liderante no digital, mais interativo, próximo, mais acessível, nas relações institucionais, comerciais e associativas, na potenciação de todos os nossos conteúdos e novas experiências, em cada novo canal ou tecnologia que o futuro nos ofereça. 

A Transição via núcleos do Sporting Clube de Portugal

Em 2018 projetei a necessidade de se alargar o momento do voto a outras geografias, para além de Lisboa. Sugeri mesas de voto nos Núcleos de cada capital de distrito. Com o mesmo objetivo: incluir mais sócios nos momentos de decisão.

Gostaria que se permitisse e se facilitasse a participação eletrónica à distância! Onde? Nos Núcleos — e que oportunidade esta de valorizar estes espaços e ESTAS PESSOAS! — em ambiente que junte processos físicos confiáveis, insuspeitos, transparentes, seguros, com a militância sportinguista. 

Confira-se verdadeira relevância aos Núcleos na vida do Clube! Promova-se o encontro entre os nossos onde, como testemunhei inúmeras vezes, impera genuíno Sportinguismo. Não vejo por que motivo estes associados não se mobilizarão para votar perto da sua residência. É dar a devida importância a quem gasta milhares de euros para poder viver, presencialmente, o Sporting. É respeitar e, aqui sim, colocá-los no mapa!

É tão importante aproximar os Sócios ao Clube, como o Clube aos Sócios, promovendo o debate, que tanta falta fez neste processo, a partilha, o convívio, a vivência real dos momentos em que decidimos em conjunto, em que realmente sentimos os nossos valores. 

Que amanhã sejamos muitos e muitos votar, juntos!

Viva o Sporting Clube de Portugal!