Em Anfield, os adeptos do Liverpool organizaram uma zona para homenagearem Diogo Jota. Muitas camisolas do internacional português perto do estádio. FOTO IMAGO
Muitas homenagens dos adeptos do Liverpool a Digo Jota. FOTO IMAGO

Diogo Jota e Diego Simeone

Conheci o Diogo Jota em Julho de 2016 na cerimónia da sua apresentação como jogador do Atlético de Madrid. Ele era então um miúdo de 19 anos, humilde e educado, que pela primeira vez saía de Portugal à procura de um futuro melhor como jogador de futebol

Na minha colaboração que já vem de muito longe, com uma das nossas emissoras de rádio, o mais doloroso sempre foi ter que anunciar os desastres que, sobretudo nesta altura do ano, se davam nas estradas espanholas que ligam com o Norte de Portugal, as vítimas eram quase sempre nossos emigrantes que sucumbiam ao cansaço e ao desejo de chegar depressa ao seu cantinho português, uma autêntica praga que pouco a pouco foi desaparecendo.

Julgava eu que esses maus tempos tinham passado até que ontem os revivi com uma apressada crónica que eu daria tudo por não a ter de fazer, anunciando o sucedido ao Diogo e ao André, dois jovens que não mereciam o castigo da morte quando estavam na flor da vida.

Conheci o Diogo Jota em Julho de 2016 na cerimónia da sua apresentação como jogador do Atlético de Madrid. Ele era então um miúdo de 19 anos, humilde e educado, que pela primeira vez saía de Portugal à procura de um futuro melhor como jogador de futebol.

O presidente Enrique Cerezo e o então diretor desportivo, Pérez Caminero deram-lhe as boas vindas, ele também disse umas palavras para mostrar a sua felicidade por estar num clube como o Atlético, equipou-se, foi ao relvado do extinto estádio Vicente Calderón dar uns toques na bola, aplaudido pelos adeptos jovens como ele que estavam nas bancadas e aos quais não se cansou de dar autógrafos.

A sua cara denunciava que estava a viver o dia mais feliz da sua vida, mas pouco consegui arrancar-lhe, «desculpe lá, mas proibiram-me de falar com os jornalistas».

Um dos grandes sonhos do Diogo era poder treinar às ordens de Simeone, consegui-o durante o mês que esteve no estágio, participou em alguns jogos amigáveis, chegou a marcar um golo, mas o técnico argentino não o queria no plantel e achava que o melhor era cedê-lo ao FC Porto.

Um ano depois voltou ao clube ao que realmente pertencia mas, de novo, foi vetado por Simeone cujas preferências eram claramente a favor do benfiquista Nico Gaitán, mais uma vez Jota teve de sair emprestado, desta vez para o Wolves onde Nuno Espírito Santo o recebeu de braçosabertos, no Verão de 2018 o Atlético prescindiu definitivamente do jogador vendendo-o ao clube inglês por 14 milhões de euros, o dobro que tinha pago por ele ao Paços de Ferreira mas muito menos que os quase 50 milhões pagos pelo Liverpool. Diogo Jota não chegou, pois, a estrear-se nas competições oficiais com o Atlético que, num comunicado, se mostra «comovido pela trágica morte do seu ex-jogador».

Todo o mundo do futebol o está profundamente, mas o Atlético tem razões para o estar ainda mais se os seus dirigentes forem capazes de reconhecer os erros que, com ele, cometeram: tiveram em casa a um diamante e não o souberam aproveitar, desprenderam-se dele mal e demasiado depressa e, com ele já consagrado no futebol inglês, tiveram a oportunidade de o recuperar e não o fizeram.

Nunca se saberá como teria sido a carreira de Diogo Jota sem a persistente negativa de Simeone mas, pelo que se viu, talvez até se tenha que agradecer ao argentino pelo grande favor que fez ao Diogo, ao Wolves, ao Liverpool, ao futebol português e à nossa seleção. Tudo bem até que chegou a terrível tragédia algures numa estrada espanhola.