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Aposta na formação — uma responsabilidade
Sempre fui fã confesso do Athletic Bilbao. Um clube que, por sinal, não tem Bilbao no nome – o nome é Athletic Club – mas os seus adeptos parecem não se importar que se associe o nome da sua cidade ao seu clube, de que é aliás baluarte maior. Um comportamento normal em quem tem “sentido de pertença”. O Athletic, de Bilbao, é o clube com maior sentido de pertença que conheço, o que se manifesta na sua regra – com motivações políticas e autonómicas, é certo – de apenas aceitar no seu plantel profissional e na sua cantera jogadores nascidos no País Basco. O que é extraordinário não é a regra, o que é extraordinário é o facto do At.Bilbao conseguir, apesar da rigidez desta regra, manter-se no topo do futebol espanhol e europeu (8 Campeonatos de Espanha e 23 Taças de Espanha e finalista da Liga Europa na recente época 2011/12).
Claro que não defendo o mesmo para o Vitória. Em Portugal não temos, felizmente, regionalismos ou autonomismos nem faria sentido a adoção de uma tal regra. Mas o ponto é que o exemplo do At.Bilbao permite mostrar-nos que é perfeitamente possível manter equipas com enorme qualidade e capacidade competitiva assentes, se não exclusivamente, pelo menos primacialmente na sua formação. É o que defendo para o Vitória. Sendo esse o principal legado de Moreno para Paulo Turra e o que mais o responsabiliza: manter a aposta assinalável na formação, e com resultados, que Moreno exibiu ao país.
É preciso recordar que o Vitória e a sua formação foram os que tiveram mais atletas na Seleção Nacional de S21 no último Campeonato da Europa: Celton Biai; André Amaro; Zé Carlos e André Almeida. Não tendo sido convocados, podendo perfeitamente tê-lo sido, Miguel Maga, Tomás Händel e Dani Silva. Tal como é preciso recordar que Raphinha, Tapsoba e Siaka Bamba são também da formação do Vitória e um bom exemplo da formação transnacional que devemos ter. E ainda que temos na forja os jovens Alberto Costa, Ni Rodrigues, Rui Correia, Gonçalo Nogueira, Diogo Sousa, Gonçalo Pinto e Rodrigo Duarte, que foram aposta firme na pré-temporada e devem sê-lo no decurso da época.
Esta aposta não pode por isso ter sido uma aposta de Moreno: tem de ser uma aposta do clube! Que, como tal, responsabiliza também o seu atual treinador e os vindouros. O Vitória tem adotado esta “política” apenas em momentos de aperto financeiro. Foi-o agora como o foi também em 2012/13 época na qual, por acaso, vencemos a Taça de Portugal; precisamente contra o adversário de hoje. Esta aposta tem de deixar de ser apenas nesses momentos.
E este é o meu ponto. A aposta na formação. O empenhamento financeiro em segurar os atletas formados na nossa cantera. Focar o investimento na descoberta de talentos ao invés de na aquisição de certezas. O Vitória tem já o plantel mais português e o que tem mais portugueses a jogar na equipa principal. Só temos de manter essa aposta e Paulo Turra de a prosseguir.
Com isto ignorei o jogo de hoje com o Benfica. Foi intencional. O Vitória vai à Luz em 1º lugar com mais 3 pontos que o seu adversário. É uma questão circunstancial. Não sou de triunfalismos que, para mais à 4ª jornada, são ainda mais insensatos. Começamos muitíssimo bem o campeonato, mas isto não é como começa, é como acaba. Os rapazes estão muito motivados e vão dar tudo, mas é apenas mais um jogo; que queremos vencer, obviamente.