Jorge Andrade e a decisão de deixar de jogar aos 30 anos

Jorge Andrade: «Deixar de jogar com 30 anos foi uma decisão sábia»

Antigo central recorda lesões, fala do novo FC Porto e analisa estado da Liga neste início de campeonato

Jorge Andrade, 47 anos, deixou de jogar pelos 30 anos, encurtando uma carreira que, sobretudo nos centrais, se adivinha longa. Um lesão grave no joelho esquerdo em 2006, às portas do Mundial, num Barcelona-Deportivo da Corunha, acabou por deixar sequelas, e novas lesões levaram mais tarde à rescisão de contrato com a Juventus. Apesar de ter treinado noutros sítios depois, quis que o currículo fosse imaculado - E. Amadora, FC Porto, Deportivo, Juventus. «Nada mau para um miúdo da Amadora», brinca em entrevista a A BOLA.

— Deixou de jogar com 31 anos...

—  Menos, acho que foi menos. A última lesão foi nos Juventus. Depois ainda fiz pré-época no Málaga e tinha acordo com o Presidente, mas o treinador é que dava o aval, não deu, e eu perdi o ritmo. Ainda estive a treinar em Inglaterra no Notts County, com o nosso grande Eriksson, que também já faleceu, e tinha uma proposta para ir para a MLS, mas eles tinham que ver a minha condição física. E eu, como tinha o joelho prejudicado, se não fiquei no Málaga, preferi acabar, até por uma questão de gestão de carreira. Eu saí do E. Amadora, fui para o FC Porto, depois Corunha e Juventus e Seleção. Uma carreira sempre ascendente, para mim era muito importante acabar com uma trajetória bonita. Foi curto, mas foi muito bom. Fui capitão da Seleção nos últimos jogos. Dá orgulho, com pouca idade, eu nem tinha 30, já de ser um dos capitães da nossa Seleção, e sinto-me muito orgulhoso pelo meu trajeto também aí.

— Mas se não fosse essa lesão, claramente teria tido uma carreira mais longa, os centrais normalmente têm carreiras mais longas...

Sim, vejo pelos colegas. O Ricardo Carvalho ainda foi campeão europeu em 2016 e jogou no 2004. O Bruno Alves também teve uma carreira mais longa. O Pepe então nem se fala. Jogou até os 40, bateu todos os recordes e é o melhor central de todos os tempos para mim, tanto a nível de clube como da Seleção, espetacular. Eu com menos números de jogos e de anos, acho que, espremido, tenho uma qualidade muito boa e por isso não queria estragar depois da lesão grave, acho que me ia arrastar um pouco pelos campos.

O Pepe então nem se fala. Jogou até os 40, bateu todos os recordes e é o melhor central de todos os tempos para mim, tanto a nível de clube como da Seleção, espetacular

— Portanto, não ficou uma mágoa grande, foi uma decisão sua.

— Sim, acho que foi uma decisão sábia, comecei logo a tirar cursos de treinador, a fazer outras coisas e, em termos de gestão, até da parte financeira, consegui mais rápido começar a fazer as coisas por mim.

Jorge Costa e um FC Porto em mudança

— Falou do Jorge Costa, vamos evocá-lo noutro âmbito. O FC Porto, que representou, teve sempre grandes centrais portugueses, Fernando Couto, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Pepe. Neste momento não tem um ‘centralão’ português e está a passar por uma renovação, perdeu o Jorge Costa na estrutura. Também sofre um bocadinho por causa disso?

— Eu acho que não sofre, mesmo no Estrela da Amadora, que renasceu, e noutros clubes em Portugal, as coisas mudaram: os clubes estão mais internacionais e em termos do que era ser representado por jogadores da casa, perde-se um pouco, até na formação. Já temos jogadores estrangeiros, que vêm de várias partes. Chegam muito novos, e depois há reflexo na equipa principal. No FC Porto existe uma mudança do que era antigo, com a presidência de Pinto da Costa, para a de Villas-Boas, mas esta transição está a ser até mais rápida do que eu pensava, porque é muito doloroso perder um ídolo como o Pinto da Costa e toda a sua estrutura. Aquelas pessoas ainda estão lá, estão presentes. Eles vão lá ‘estar’ nos corredores. A morte do Jorge Costa foi má, porque é um símbolo do clube, mas vai fazer também com que eles se tornem mais rapidamente mais adultos. Deixem-os errar, deixem-os fazer as coisas. Este ano houve acerto com a contratação do treinador [Farioli], até agora, tem sido a grande chave do FC Porto estar muito bem. Na minha posição, tem o Bednarek, veio para jogar, é um central líder, vai fazer crescer os que estão ao lado. Fizeram boas contratações, como o Froholdt, não percebo como é que aquele miúdo corre tanto. Quanto à união com os adeptos, levar o espírito do FC Porto campeão, de 2004, da Champions, ou de 1987, vai custar, porque vão ter que provar dentro de campo. Mas já sabem que quando há vitórias, o Porto é uma cidade que vive o futebol, e viu-se quando festejaram a vitória com o Sporting.

Jorge comentador analisa os três grandes

— Neste início de campeonato, qual lhe parece que está a ser a equipa mais forte?  

— A favorita a ganhar é sempre o bicampeão, o Sporting. Porque mesmo perdendo o Gyokeres mantém uma estrutura de jogadores incríveis, alguns com pouca idade, o Gonçalo Inácio, e já com três campeonatos, o Pote também. E esses jogadores ficaram, vão fazer com que todas as contratações possam ter sucesso. Na linha avançada, a substituição pelo Luís Suárez foi um acerto. É um jogador mais trabalhador do que goleador, mas as coisas podem correr bem. O esquema tático, mudando para quatro centrais, faz com que algumas peças caiam, como o St. Juste, que perdeu espaço, mas até agora parece-me que o Sporting está bem, é o favorito, porque começa como campeão. Em termos de equipa o FC Porto evoluiu muito, foi do 8 para o 80, está uma equipa muito competente, e viu-se com o Sporting. E o Benfica é sempre a equipa que aposta em contratações muito fortes. Há uma estrutura, a linha defensiva, com dois centrais que já se conhecem há bastante tempo, o Otamendi e o António Silva, na baliza o Trubin ou o Samu dão garantias. Depois, à frente, perdeu um jogador que tinha há muitos anos, o Florentino, que era essencial, mas parece que a Barrenechea pode dar garantias, por isso a estrutura está montada. O Ríos, uma contratação muito cara, ainda está a adaptar-se, à frente, com a saída do Akturcoglu, parece que trouxeram um grande craque para o número 10, Sudakov, ele próprio disse, o Rui Costa não dá o número 10 a qualquer um. E, depois, na ala, também o jogador que veio do Sevilha, Lukebakio, também é muito bom. Quem está, para mim, a jogar um jogo mais intenso é o FC Porto.  

Quem está, para mim, a jogar um jogo mais intenso é o FC Porto