A culpa é dos europeus

OPINIÃO A culpa é dos europeus

OPINIÃO13.03.202409:15

O ex-base três vezes All-Star Gilbert Arenas quer mais defesa e dureza na NBA e menos pontos e já encontrou os culpados pela atual situação

Nas últimas décadas a NBA preocupou-se que os jogos atingissem, regularmente, os 100 pontos. Os estudos que têm, desde os anos 90, mostram que isso é bom. Que mesmo quando a sua equipa perde, os adeptos vão para casa mais satisfeitos com três digitos no marcador. Mas agora, com as médias a registarem os números mais elevados dos últimos 50 anos, 115,0 pontos/jogo — na época passada foi 114,7 e desde 2018/19 tem estado sempre acima 111,2 —, a preocupação de muitos é, quem diria, que não se marque tanto. Elevar os níveis defensivos. Para tal algumas regras que não protegem tanto o atacante poderão ser alteradas, mas o commisioner Adam Silver não abraça de peito aberto essa linha de pensamento.

Para o ex-base Gilbert Arenas, três vezes All-Star, a culpa é dos europeus, como afirmou no seu podcast Gil’s Arena. Eles estragaram «o nosso estilo… americano, mais de isolamento, de um contra um» porque não são tão fortes fisicamente, atléticos, e não gostam de defesas agressivas. Para que se adaptassem melhor e tirassem partido do lançamento de três pontos, «a NBA retirou a agressividade… Suavizaram as regras» por causa da globalização do negócio.

Gilbert diz até que a solução era livrarem-se dos europeus, «hoje em dia são 150», e que estes têm de passar pelas universidades americanas e aprender a defender pois, além do francês Rudy Gobert (Wolves) e do grego Giannis Antetokounmpo (Bucks), não há nenhum entre os melhores defensores.

Mas será que os americanos defendem? Haverá algum treinador europeu na Liga? O basquete mudou há muito. Está mais espaçado no campo e para que haja ajudas defensivas alguém ficará mais afastado e liberto para lançar ou atacar o cesto. Hoje todos são mais versáteis, e sim, os postes europeus lançam muito bem. Mas o basquete mundial também evoluiu e o Europeu já não leva 20 pontos das equipas da NBA. Bate-se com elas, com americanos.

Quem fez a revolução dos triplos? Um americano: Stephen Curry, com os seus loucos e certeiros lançamentos de onde quer seja. Obrigou que todos o seguissem. O seu treinador Steve Kerr, que explorou a eficácia de Curry, aposta num basquete coletivo, de passe e movimentação ofensiva. De que Gilbert não gosta. Aprendeu-o com… outro americano, Gregg Popovich, dos Spurs. O primeiro ganhou quatro títulos como técnico, o segundo cinco. E nenhum voltou as costas à defesa.

No início de época havia 125 estrangeiros de 40 países na NBA, 64 europeus, mas também 26 canadianos, que vieram de universidades da América do Norte. As tais que ensinam a defender… Entre o top 25 de defensores está ainda o letão Kristaps Porzingis (Celtics), o francês Victor Wembanyama (Spurs), o sérvio Nikola Jokic (Nuggets), o bósnio Jusuf Nurkic (Suns) e o lituano Jonas Valenciunas (Pelicans).

Nas últimas cinco épocas Antetokounmpo e Jokic ganharam quatro dos troféus MVP e este ano três dos cinco atuais candidatos são do velho continente. Muitos europeus quando chegam à NBA já atuaram em equipas seniores e enfrentam homens experientes. O que Arenas não gosta é que a liga esteja a ser dominada por estrangeiros e que estes se tenham adaptado muito bem melhor à mudança do jogo e regras.