Voto de confiança de Villas-Boas, a evolução e Samu: tudo o que disse Anselmi
-Que perigos encontra nesta equipa do Estoril?
- Vamos enfrentar uma equipa que está a fazer um ano 2025 muito bom, que só perdeu um jogo com o Sporting, e que se torna forte em casa, que defende bem esperando o momento certo de saltar à pressão. Quando têm bola também sabem atacar, têm bons jogadores, tiveram o Melhor Médio pelo segundo mês consecutivo, por isso vai ser um grande desafio para nós num grande cenário. Vamos defrontar um adversário muito bom. A paragem? São semanas especiais. Tivemos muitos jogadores na seleção e também há descanso. Quisemos dar descanso aos jogadores. Foram semanas como qualquer outra, sem jogo. Com todos os que ficaram pudemos trabalhar como equipa, tratar de coisas sobre o modelo de jogo. E isso é importante. Por esse lado, correu bem. Também gostaria de jogar, porque quando ganhas queres dar continuidade. Estivemos muito bem esta semana, respira-se um bom ambiente, trabalhamos com vontade.
-Esta semana, entrevista ao Jogo/JN, André Villas-Boas garantiu que o Martin Anselmi seria o treinador para a próxima época. É um voto de confiança importante para si?
- Sempre senti o apoio do presidente, sempre soube o projeto que queríamos montar juntos e sempre soube que iria ter total apoio de toda a gente no FC Porto. Temos conversas diárias, sabemos o caminho que queremos percorrer, sabemos para onde nos vamos dirigir e sabemos que FC Porto queremos construir. Não queremos só um FC Porto de hoje, queremos um FC Porto de sempre. Não queremos resolver apenas os problemas de hoje. Na Argentina dizemos “pão para hoje, fome para amanhã”, porque vivemos um pouco assim, resolvendo os problemas de hoje sem resolver os de amanhã. Sabemos o caminho que queremos percorrer e para onde nos vamos dirigir. Obviamente percebemos que isso leva tempo e também entendemos que é um processo longo. O presidente manifestá-lo publicamente transmite uma mensagem muito mais forte para todos. Estou muito feliz por representar o FC Porto, estou muito feliz pela forma como toda a gente trabalha aqui, estou muito feliz do quão ambicioso é o que queremos fazer. Isso reafirma tudo o que já sabemos, agora temos de nos preparar para o que resta, temos de nos preparar para o que aí vem e começar a fazer com que se veja tudo o que queremos construir.
- Estas duas semanas sem jogos teve o sabor de uma pré-época?
- São semanas especiais. Tivemos muitos jogadores nas seleções, mas também há algum descanso. Acumulou-se muito tempo sem descanso, e agora decidimos dar algum aos jogadores. Acaba por ser como qualquer outra, mas sem jogos aos fins de semana. Trabalhámos conceitos com os que ficaram cá, coisas mais específicas. E isso é sempre bom. Mas também gostamos de competir, de dar continuidade ao que temos feito. É bom que os jogadores que foram às seleções tenham competido. Respira-se um ambiente bonito, de alegria. Treinámos com vontade e é ótimo quando essas coisas acontecem.
- Tendo em conta de que o FC Porto fez uma das exibições mais conseguidas da época com o Aves SAD, era melhor não ter havido paragem?
- Há contextos e contextos. Em alguns casos, é bom parar caso haja jogadores lesionados ou se for preciso trabalhar algumas coisas. No nosso caso, juntando duas ou três semanas, e tendo em conta a maneira como competimos nesse fim de semana, teria preferido continuar. Mas não é determinante. Aproveitámos também este tempo.
- Perdeu quase todo o ataque na pausa das seleções, mas, por outro lado, manteve a defesa no Olival. Teria sido melhor ao contrário e que dinâmicas foi possível trabalhar nestas duas semanas?
- Aproveitamos para fazer trabalho de linha, porque tínhamos a linha defensiva completa, embora o Eustáquio tenha jogado pelo Canadá, mas aproveitamos para trabalhar coisas específicas. São coisas que ajudam muito. A fase defensiva e todo o trabalho de base é algo a que dou muita importância... Onde queremos ter os jogadores quando os adversários cruzam, como queremos defender as diagonais, as distâncias entre os jogadores, são coisas que ajudam muito a equipa. Para mim, a fase defensiva é muito importante. Acredito que, se defendermos bem, vamos controlar bem o jogo. E depois, com bola, o rival não pode causar danos. Se formos rápidos na bola, o rival fica frustrado. Mas a parte defensiva de uma equipa dá muito trabalho porque acredito que é algo que podemos controlar bastante bem de alguma forma. Na parte ofensiva, depende sempre de como o rival defende. Na defesa, é preciso ver se queremos juntar-nos num bloco, se queremos pressionar alto. Isso somos nós que decidimos e, quando está bem trabalhado, funciona bem dentro de campo. Depois, claro que o futebol é imprevisível, acontecem coisas que não controlamos. Mas dentro do possível, gosto de trabalhar tudo isso.
- Recebeu Danny Namaso e Deniz Gul como internacionais A. Até que ponto foi importante para eles atingir esse objetivo de carreira?
- Claro que é importante recebê-los após se estrearem pelos seus países. Foram novas experiências. E, para qualquer jogador, vestir a camisola da seleção é um máximo que podem atingir. O Deniz estava muito feliz, conseguiu estar com a família também. Por outro lado, o Deniz recebeu o voto de um antigo grande avançado que agora é selecionador da Turquia [Vincenzo Montella] que lhe transmitiu coisas diferentes, conceitos diferentes que não posso dar. Vimos isso com o Deniz, com o Samu... São poucos os privilegiados que podem ser chamados à seleção espanhola. São aprendizagens novas, aprenderam conceitos que eu também não posso dar. Quando se encontram com grandes jogadores, claro que trazem sempre aprendizagens para o clube.
- Samu não jogou pela Espanha. O que espera dele para o que resta da época?
- Vejo-o feliz. Pelo menos era o que estava e li nas redes sociais... Estava contente. Espero que continue assim até ao final da época, é isso que espero, porque é assim que o vejo neste momento. Desfruta do dia a dia e isso é o mais importante, é isso que o vai fazer atingir os seus objetivos profissionais. Acho que está a sair-se muito bem. Marcar ou não marcar é o que é, o importante é o resultado. Se marca faz o grande jogo, se não marca é porque não fez? Desde que sou treinador do FC Porto, o último jogo do Samu foi o melhor que ele fez, já o disse. Claro que os avançados querem fazer golos, e assim está muito perto de os fazer.
- Marcano trouxe a tranquilidade que o sistema precisava ou foi o sistema que evoluiu?
- O Marcano é um jogador muito experiente, com muitos jogos. Pode dar-nos muito disso. E claro que a equipa vai trabalhando e evoluindo. Além de jogar contra o Estoril, jogamos contra nós mesmos. Temos de ser melhores. A minha essência como treinador é incentivar os jogadores a serem melhores e que também me desafiem a ser melhor treinador, porque, se achasse que não tinha margem para evoluir, seria um grande erro. Gosto que me desafiem: um adversário, os meus jogadores, porque, quando isso acontece, é porque te exigem melhor. O que procurámos no FC Porto é sermos melhores. No fim de semana passado, ganhámos ao Aves SAD e ao FC Porto. Fomos melhores. Por isso, em todos os jogos até ao final temos de ganhar ao adversário e melhorar. Não fico satisfeito se não vir melhorias em relação ao que propomos. Às vezes elas são impercetíveis. São detalhes. Por exemplo, de cada vez que um jogador recebe a bola, que repita o lado ou que possa jogar para um lado ou para o outro. São esses detalhes que trabalhamos: onde recebo a bola, em que altura em que cresço para a receber, ou quando tenho mais um passe, quando é o momento de atacar, de cruzar, de avançar, de nos juntarmos para pressionar… São detalhes difíceis à vista, mas estamos sempre a trabalhá-los. Um detalhe, mais um detalhe, mais um detalhe e faz com que melhoremos muito a nível coletivo. É isso que procuramos: continuar este caminho de sermos melhores, porque o que podemos controlar é isso. Tentarmos ser melhores.