Próximos passos serão decisivos para o sucesso do Mundial de Clubes.  FOTO IMAGO
Próximos passos serão decisivos para o sucesso do Mundial de Clubes. FOTO IMAGO

Um Mundial em construção

'Palavra de Gverreiro' é o espaço de opinião quinzenal de Pedro Sousa, adepto do SC Braga e deputado à Assembleia da República

O Mundial de Clubes que actualmente decorre nos Estados Unidos é, antes de mais, um sinal claro da transformação estrutural do futebol global. Não se trata apenas de uma prova que reúne os campeões continentais: é, cada vez mais, um palco de afirmação de novas geografias, novas audiências e novos modelos de negócio. Que a FIFA tenha escolhido os Estados Unidos como palco não surpreende: é onde o futebol procura crescer num mercado gigante e onde a organização de grandes eventos se faz com criatividade, profissionalismo e ambição.

A qualidade das infra-estruturas, a competência logística e a capacidade de mobilização mediática têm estado à altura do desafio. Os estádios, apesar de nem sempre cheios, são compensados por relvados absolutamente impecáveis e cobertura global, sinal claro que as competições de clubes podem — e devem — assumir uma dimensão verdadeiramente mundial.

Para os jogadores e treinadores, este torneio é também um momento de afirmação: cruzam-se estilos, ritmos e filosofias. E para os adeptos, há uma rara oportunidade de ver clubes de diferentes continentes a disputarem algo mais do que prestígio — disputam uma ideia de hegemonia.

Ainda assim, há caminho a fazer. O calendário sobrecarregado coloca em risco a integridade física dos jogadores e exige uma reflexão séria sobre o equilíbrio entre o espectáculo e a sustentabilidade desportiva. A calendarização deste Mundial deve ser mais bem harmonizada com os calendários nacionais e continentais, sob pena de se transformar numa exibição esvaziada de intensidade competitiva. Além disso, é essencial garantir que este torneio não é, apenas, uma vitrina para os grandes clubes europeus — sendo fundamental assegurar igualdade de condições e valorização efectiva dos campeões de outros continentes.

O futebol será tanto mais global quanto mais justo for o seu palco. O Mundial de Clubes, se bem afinado, pode ser a montra ideal de um desporto que se quer cada vez mais plural, competitivo e emotivo.

A FIFA deu um passo firme e importante. Agora, é central que os próximos sejam dados com coragem e visão.