Treinador consegue pela primeira vez duas vitórias consecutivas pelo Sporting

Tem Rui Borges unhas para a guitarra do Sporting?

Gyokeres já está a 100 por cento, Morita está quase e Hjulmand mais tarde ou mais cedo também, tal como Pedro Gonçalves. Vêm aí os pesos-pesados e com isso a hora da verdade para o treinador do Sporting. Este é o ‘Nunca mais é sábado’, espaço de opinião de Nuno Raposo

Estou muito satisfeito pela forma de trabalhar e pela forma de olhar para o problema no qual me revejo. Já trabalhei com muitos treinadores que reagiram de formas diferentes às adversidades. O Rui Borges só pensa em arranjar uma solução, seja com um júnior ou um juvenil, e depois consegue transmitir confiança à equipa. É calmo e sereno e, mesmo sem horas para treinar, tem mostrado capacidade de adaptação. Há quem se lamente a vida toda e o Rui Borges é um lutador que casou muito bem num grupo com um calendário complicado pela frente e com lesões e expulsões.

Foi assim que Frederico Varandas, na entrevista que deu à Sporting TV, se referiu a Rui Borges, elogio ao facto de o treinador, a navegar num mar de problemas causado por lesões e na altura por um calendário espartilhado entre três competições (Liga, UEFA Champions League e Taça de Portugal), pouco se lamentar.

É verdade que Rui Borges tem procurado no seu discurso relativizar os problemas mas não é menos que, entre vírgulas, às vezes de forma mais direta, outras vezes de maneira mais discreta, tem lembrado as ausências forçadas de jogadores importantes, a consequente utilização precoce de jovens da equipa B e até apontado o dedo, ainda que o mindinho, às arbitragens. Mas sim, na base, Rui Borges tem relativizado os problema, tem pensado mais em arranjar soluções do que desculpas.

Mas está a chegar a verdadeira hora da verdade de Rui Borges. A mudança do Vitória de Guimarães para Alvalade, um dia depois do Natal, foi célere e inesperada. O técnico não foi obrigado a manter o nível Amorim, como João Pereira, mas sim a ultrapassar o mau momento do antecessor, o que não sendo fácil, era difícil não correr melhor. Mas sim, herdou muitas lesões e ganhou ainda mais, ao ponto de ter tido jogos com nove baixas médicas — na segunda-feira, com o Estoril, por exemplo, teve de usar o suplente, do suplente, do suplente João Simões no meio-campo. E tem tido tarefa hercúlea na luta pelo título.

Neste percurso, já mereceu críticas, sobretudo por se ter viso mais do que uma vez a equipa a claudicar nas segundas partes, a mudar de atitude na defesa de um resultado, um pouco à imagem de treinador de equipa pequena, já o acusaram de ser. Mas muitos têm sido contidos ou até condescendentes nas críticas ao treinador, precisamente porque tem ido a jogo com um plantel depauperado com tanta lesão.

Só que agora, Gyokeres já está a 100 por cento — como se viu com o Estoril, vitória por 3-1 com dois golos do supergoleador sueco —, Morita prepara-se para voltar, Hjulmand mais dia menos dia volta também e Pedro Gonçalves idem aspas. Faltam dois jogos até à paragem do campeonato e está mesmo na hora de se ver o que vale este Sporting de Rui Borges…

Se chegarmos a março em primeiro, e regressarem os pesos-pesados, cá estaremos para ver quem é o mais forte.

Pois estamos em março e faltam dois jogos até à paragem para os jogos das seleções nacionais e esta última deixa de Frederico Varandas, proferida à margem da tomada de posse de Pedro Proença como presidente da Federação Portuguesa de Futebol, é para Rui Borges o grande desafio, a prova dos nove. Porque não conseguindo aguentar o barco com Casa Pia e com o Famalicão e uma vez com os pesos-pesados na ficha de jogo, então deixará de ser imune à crítica, porque ela vai surgir, sobretudo de dentro, dos próprios sportinguistas. É agora que realmente se vai ver se o treinador tem unhas para esta guitarra.