Diomande e Hjulmand tiveram noite com muito trabalho em Munique - Foto: IMAGO
Diomande e Hjulmand tiveram noite com muito trabalho em Munique - Foto: IMAGO

Sporting foi grande mas nem isso chegou para ser gigante (crónica)

Leões, mesmo perante muitos condicionalismos, foi competitivo, esteve em vantagem, e deixou o colosso germânico desconfortável na segunda parte. Rui Borges mudou o sistema, teve um plano de jogo quase perfeito, que só pecou em dois lances de bola parada que permitiram a reviravolta dos bávaros

Se este jogo fosse descrito num livro teria de ter um prefácio deste estilo: «A história de como um gigante avassalador, devorador, que tem assombrado (e esmagado) todos os adversários com 76 golos em 22 jogos, quase caiu de forma inesperada, o que acabaria por confirmar antiga reflexão de que onde os gigantes tropeçam os heróis nascem.»

Porque para se contar a história deste jogo é necessário olhar para aqueles que foram os seus protagonistas e para a natural a diferença entre as equipas. E se num plano teórico - a missão de uma equipa portuguesa vencer pela primeira vez no reduto do Bayern - seria quase impossível, imagine-se um leão sem aquelas que são as joias mais valiosas: Quenda, Trincão e Pedro Gonçalves. Impossível, talvez! 

Pois bem, o melhor que se pode retirar deste jogo, é que não só não era impossível como foi... possível sonhar. Durante 65 minutos. Com um Sporting corajoso, valente, solidário e disciplinado. Conseguindo uma vantagem que durou escassos 11 minutos. Com um plano liderado por Rui Borges, que, só não foi perfeito porque não levou pontos. Um plano diferente, a recuperar o 3x4x3 (que na prática foi quase sempre um 5x4x1) que deixou o gigante bávaro desconfortável. Sempre mais dominador, claro, mas bem vigiado por um Sporting organizado, que nunca perdeu o controlo emocional, mesmo sofrendo e resistindo a uma entrada supersónica dos germânicos. Que aos 5’ até já tinham marcado, com o prodígio Karl, de 17 anos, a festejar (que craque!), mas um golo invalidado por fora de jogo de Gnarby.  

Rui Borges estudou bem a máquina alemã e procurou bloquear todos os pontos onde esse motor carburava. Com Fresneda e Maxi (os alas do 3x4x3) a fechar caminhos a Olise e Gnarby (as setas alemãs) e os extremos Alisson e Geny a bloquearem as subidas dos laterais Laimer e Stanisic. Luis Suárez, por sua vez, missão ingrata, era quem procurava ganhar faltas para a equipa respirar na sua sólida linha defensiva. E foi dessa forma que foi sustendo o domínio do Bayern na primeira parte que, apesar das muitas ameaças, teve três verdadeiras ocasiões de golo. Rui Silva travou remates de Gnabry (24’) e Karl (44’) e uma bola no ferro de Kane (37’).  

Nota importante e que valoriza a exibição: o leão também foi ambicioso e não se limitou a sofrer. Soube explorar os poucos espaços (num Bayern que pressionava homem a homem no campo todo), sobretudo pela inteligência de Hjulmand e Simões, e velocidade de Geny que aos 28’ numa arrancada pela direita e um cruzamento bem medido levou a um mau alívio de Tah que quase fez o autogolo. O Sporting teve no final da primeira parte o seu melhor período (com mais bola) e prolongou esse momento no reinício da etapa final.  

SURPRESA NA BAVIERA! 

A balança foi (pela primeira vez...) mais equilibrada no arranque do segundo tempo. Mais sereno, sem correr riscos, e com um primeiro sinal de Alisson (47’) a rematar com perigo. Essa competitividade chegou ao extremo com o golo. Fruto da audácia de João Simões que foi pelo corredor esquerdo, driblou Tah e cruzou para a infelicidade de Kimmich. O sonho estava mais do que vivo. Um leão perto de fazer história aos 54’.  

Mas quando se está perante um gigante não há tempo para adormecer. Os níveis de ansiedade subiram e o Sporting, que sonhou durante onze minutos, acabaria por sucumbir nesse mesmo período de tempo com três golos penalizadores. Dois deles na sequência de bolas paradas. Num pontapé de canto, em que Gnarby aparece isolado no segundo poste (grande bloqueio de Kane a Maxi) e do central Tah, da mesma forma, com excelente assistência de Gnarby. Pelo meio destes dois lances, o golo de Karl, que após um gesto técnico fantástico, bateu Rui Silva.  

O gigante alemão só aos 77’ respirou de alívio. E mesmo assim Luis Suárez que apareceu na cara de Neuer aos 83’, poderia levar emoção para os últimos minutos. Não aconteceu, mas o leão sai de cabeça erguida. Foi competitivo, corajoso e todos os que pisaram o relvado do Arena Munique saíram valorizados. O leão foi grande mas não chegou para ser gigante.            

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