Rui Borges vai manter o 3x4x3 ou vai mudar? Eis a resposta...

Ideia inicial passava por mudar o sistema mas nesta fase o técnico está inclinado em consolidar e reforçar com cunho pessoal os automatismos dos últimos cinco anos. Só a perda de jogadores-chave, influentes, poderá levar a um corte com o passado recente. Quer ter um plano B preparado

É uma das maiores dúvidas, talvez a maior, para o renovado Sporting, versão 2025/2026. Que até ultrapassa possíveis entradas, saídas ou empréstimos, todas as questões de mercado. Afinal qual será o sistema idealizado por Rui Borges para a nova época? Quais serão as ideias do treinador para atacar o tricampeonato?

Há dois cenários em cima da mesa: adotar aquele que é o seu modelo de base, um 4x2x3x1 ou 4x4x2, que o acompanhou durante toda a carreira, dando-lhe a notoriedade que o catapultou a um dos grandes do futebol português, no caso o Sporting, ou, por sua vez, renovar e consolidar um modelo vencedor, que se encontra enraizado nas últimas cinco temporadas e que recentemente levou a um histórico bicampeonato e vencedor de uma dobradinha. É esta a questão do momento em Alvalade. Algo que, pelos dados recolhidos por A BOLA vai procurar responder. Pelo menos... para o que está pensado no imediato.

Pois bem, entre alguns avanços e recuos, muita análise e ponderação, debate de ideias não só com a restante equipa técnica como a estrutura do futebol, Rui Borges encontra-se agora inclinado em escolher a segunda opção dos dois cenários atrás descritos. Os seja, em manter a fórmula vencedora. De aprimorar e dar um cunho pessoal ao sistema com o qual o plantel se encontra mais rotinado e identificado, o sólido 3x4x3 com que terminou a última temporada. A intenção inicial, há uns meses, seria de mudança, de começar a trabalhar um novo modelo, porém, nesta fase, mesmo ainda sem terem iniciado os trabalhos, existe intenção apenas de fortalecer os automatismos existentes.

Rui Borges está disposto a manter a base do passado com novas ideias e maior flexibilidade (IMAGO)

MERCADO DITARÁ DECISÃO FINAL

Apesar desta intenção avançada por A BOLA, a decisão final, do modelo que irá conduzir e servir de base da equipa para a nova época, apenas será tomada no final da pré-temporada e, claro está, dos muitos testes de preparação que se avizinham até aos jogos a doer. Até porque existe um fator que poderá levar a nova inversão das ideias: falamos do mercado. Sobretudo dos jogadores fundamentais, peçhas-chave que Rui Borges possa perder até ao arranque da Liga.

Nota prévia: não será a mais que provável transferência de Gyokeres, a inverter esta intenção de manter a atual estrutura de 3x4x3. Até porque, tal como A BOLA já havia adiantado, os leões vão colmatar essa possível saída do goleador máximo das últimas duas épocas com um jogador diferente do sueco, mas que encaixe na estrutura existente. O cenário poderia mudar de figura, isso sim, se o mercado, além do avançado nórdico, levasse nomes como Hjulmand, Trincão, Gonçalo Inácio ou Diomande, sendo que este último, central costa-marfinense, irá mesmo sair e os leões já procuram alternativas.

Rui Borges prepara a final da Taça de Portugal de domingo com o Benfica
Primeiro desafio será incutir outras dinâmicas sem jogadores como... Gyokeres (SPORTING CP)

UMA QUESTÃO DE ADAPTAÇÃO

Rui Borges foi questionado sobre este tema em diversas ocasiões na temporada passada. Ele que, convém lembrar, mudou tudo logo no jogo de estreia no banco dos leões. E não foi num jogo qualquer, pois fez esse corte com o passado, em Alvalade, num escaldante dérbi sobre o Benfica. Uma aposta que teve tanto de surpreendente como de certeira, pois iniciou o reinado nos leões com um triunfo sobre o rival, por 1-0, utilizando um 4x4x2, com Trincão e Gyokeres na frente, Catamo e Quenda nos corredores, Eduardo Quaresma e Matheus Reis nas laterais. E foi com essa fórmula, com algumas mudanças pontuais, que atacou os... 12 jogos seguintes. Contas finais: 5 vitórias, 6 empates e 2 derrotas (as únicas que têm no clube leonino) para a Liga dos Campeões com o Dortmund e Leipzig.

Seguiu-se um período crítico, com uma onda de lesões inusitada a obrigar a muitas adaptações, que foi deixando a equipa desconfortável. Algo que foi sendo visível nas exibições mais apagadas e resultados mais apertados. E foi precisamente nessa altura, em fevereiro, no playoff dos oitavos da Champions, na Alemanha, diante do Dortmund (após a derrota, por 0-3 na primeira mão em Alvalade), que Rui Borges deu um passo atrás e recuperou o sistema.

Abriu-se, então, um novo ‘velho’ ciclo. Que Rui Borges levou até ao final com os resultados que todos conhecemos. Contas feitas, 16 jogos. Com 13 vitórias e três empates. O treinador justificou essa mudança por uma questão de adaptação.

«De alguma forma, adaptei-me um bocadinho ao momento do Sporting, ao momento específico que ultrapassámos. Para conseguirmos insistir em algo que queremos muito, temos de ter tempo, os jogadores disponíveis e não tivemos nada disso. Chegou o momento em que tivemos de adaptar-nos. Se puxar atrás, ganhámos grandes jogos em 4x3x3 ou em 4x4x2, criámos muitas vezes a três… o sistema é subjetivo, não foge muito do que queremos. Nesta fase, mais do que criar desconforto, queremos criar conforto e confiança no grupo», explicou.

Rui Borges encara futuro com otimismo e vai adaptar-se às caraterísticas do atual plantel (IMAGO)

TER MAIS DO QUE UM PLANO

Essa continuidade que está a ser pensada não invalida a introdução de novas ideias. Desde logo porque Rui Borges, ao que tudo indica, terá de reinventar-se para manter, entre outras questões, a acutilância ofensiva sem um nome como Gyokeres que está na porta de saída. Mas não só. Apesar da intenção em reforçar novas dinâmicas tendo esse sistema de 3x4x3 como base, o técnico pretende trabalhar outros modelos que tenham capacidade de desdobramento para novas estruturas. Que permitam uma maior flexibilidade (e menor rigidez...), bem diferente, por exemplo de Ruben Amorim, que, recorde-se, optava quase sempre pela mudança dos jogadores (e das suas caraterísticas) mantendo intacta a estrutura.

O Sporting, passará, então, a ter um plano B, mais consistente e rotinado, no leque de soluções para mudar os jogos. As renovadas ideias ainda estão no papel e passam para a prática a partir do dia 1 de julho, data marcada para o arranque dos trabalhos em Alcochete. Um leão renovado, com novo fato, mas novas ideias. E outros protagonistas.

JOGADORES SEMPRE OUVIDOS

A mudança de sistema no decorrer do último campeonato, do 4x4x2 para o 3x4x3, não pertenceu apenas ao treinador. Os jogadores também tiveram um papel importante nessa decisão, como, aliás, revelou Maxi Araújo, ala uruguaio em entrevista a A BOLA no passado dia 22 de maio. Rui Borges foi sensível à vontade dos jogadores e procurou ouvir o que todos pensavam sobre essa inversão de modelo.

«Que explicação deu para a mudança? Tínhamos sofrido bastantes golos, ou pelo menos mais um pouco do que estávamos acostumados, e depois quando voltámos para o 3x4x3 acho que a equipa sentiu-se muito mais confortável e ele é muito de perguntar ao jogador como se sente... ele é muito de perguntar e saber a opinião do jogador e isso é muito importante», contou o urugaio. Tendo a intenção de manter toda a estrutura da equipa essa ideia, para já, não deverá ser alterada, porém, olhando para o novo ciclo que se abrirá em 2025/2026 não será de excluir uma nova conversa com a equipa para avaliar a sensibilidade dos jogadores.

LINHAS PARA O RENOVADO PLANTEL

Três reforços de maior investimento

A planificação da nova época há muito que está em marcha e para a renovação do plantel estão previstas três entradas a obrigar um maior investimento. Falamos de um central, um avançado (que será para ocupar caso se confirme a saída de Gyokeres) e um extremo esquerdo que possa também ocupar zonas interiores. Esta última, de resto, como A BOLA já tinha adiantado, é o processo que está mais avançado e pode res resolvido nos primeiros dias de trabalho.

Polivalência também é para manter

Foi uma imagem de marca de Ruben Amorim, mas foi algo transportado por Rui Borges e que também marcou o seu percurso como treinador. Falamos de dotar o grupo de uma polivalência capaz de ser solução em sistemas diferentes. O técnico não irá prender nenhum jogador a uma posição, sendo que alguns deles poderão ser utilizados em duas ou três posições no campo.

Exemplo Debast e valorização de ativos

Rui Borges continuará a ter como uma das principais missões a valorização de ativos, uma tarefa cumprida com total sucesso desde que chegou a Alvalade, subindo a cotação de alguns jogadores até fora das suas posições como foi o caso de Debast, central belga que o técnico adaptou com sucesso numa zona central do terreno. Tal como havia feito, curiosamente, em Guimarães, quando adaptou Manu Silva ao miolo.

Aposta reforçada na formação de Alcochete

É algo que faz parte da identidade do clube e que Rui Borges vai reforçar: falamos da aposta na formação, no lançamento de vários jovens com o ADN leonino. Sempre com uma ligação próxima com a equipa B e presença assídua de jogadores da cantera nos trabalhos da equipa principal. Muitos nomes foram já adiantados por A BOLA como David Moreira, Diogo Travassos, João Muniz ou Gabriel Silva que vão ser observados no estágio que os leões vão realizar em Lagos, no Algarve, de 11 a 22 de julho.