Treinador do Benfica engasgou-se na conferência de imprensa

Rafa e Schjelderup, críticas de Rui Costa e VAR: treinador do Benfica na íntegra

José Mourinho fez a antevisão do encontro desta sexta-feira para a Taça de Portugal com o Atlético

Benfica e Atlético voltam a encontrar-se quase 43 anos depois. Como antecipa o jogo e como estão os internacionais, sabendo-se que Lukebakio está indisponível?

— Situação de Lukebakio é conhecida. Todos os outros jogadores vieram em condições de poder dar contributo no jogo. Regressos ao treino sem limitações, sim. Manu, neste momento, treina sem limitações. Faz do primeiro ao último minuto o treino com a equipa, completamente integrado. Mas uma coisa é treinar, outra coisa é jogar. Gente da minha idade, que começou a ir a campos de futebol, — eu acho que ainda não sabia sequer caminhar… — , sabe o que o Atlético significa. Inclusive recordo-me de ver o meu pai jogar na Tapadinha. Portanto, o Atlético é, para a minha geração, o Atlético daquele tempo e não o Atlético que nas últimas décadas viveu em dificuldades. Acho que é bonito, honestamente. Preferia que o jogo fosse na Tapadinha pelo significado, mas é em Belém, num dos estádios mais bonitos do futebol português, e também muito perto de Alcântara. Acho que será uma noite bonita de futebol. Obviamente, não esperando facilidades, mas obviamente esperando ganhar.

Rafa Silva interessa ou não ao Benfica?

— Eu não posso falar de jogadores de outros clubes. Ou, por outra, posso, mas não quero. E o Rafa Silva é jogador do Besiktas, não vou fazer qualquer tipo de comentário. Alguns colegas [jornalistas] já fizeram o desenho, inclusive dizendo que eu não gosto do Rafa Silva, que não gosto do feitio, mas quem sou eu para não gostar do feitio de alguém, principalmente de alguém que não conheço.

— Teve oportunidade de falar Schjelderup depois da condenação?

— Schjelderup errou [perdão, a aletria estava fantástica, interrompeu José Mourinho, brincando e afirmando que «comeu à pressa]. Schjelderup errou, foi a tribunal, foi condenado. Não é obviamente uma condenação que o impede de exercer a sua atividade profissional. Errou, aceitou que errou, aceitou perfeitamente a condenação, acho que é um passo importante para ele próprio sentir que o que fez, fez, e não pode esquecer. A condenação não o faz obviamente esquecer e que tem de continuar com a sua vida, sendo menos naif do que foi no passado. E aprendendo com uma experiência negativa, que eu acho que marca.  Honestamente, eu acho que marca e marcará sempre. Mas tem de continuar a crescer, como pessoa. Mais importante do que crescer como jogador de futebol, mais importante é crescer como pessoa.  E ser positivo.

— A Atlético é o primeiro adversário de um ciclo difícil e depois do empate com o Casa Pia (2-2), que não correu bem em muitos aspetos. Rui Costa, presidente do Benfica, fez queixas sobre a arbitragem, mas também pediu mais à equipa, afirmando que tem de ter outra exigência. Sentiu essas palavras do presidente do Benfica?

— Ouviu a minha conferência de imprensa depois do jogo? Então não vale a pena responder, eu já respondi. O treinador vai comentar as palavras do presidente? Os comentadores comentam as palavras de toda a gente. Eu sou treinador do Benfica, vou comentar as palavras do presidente do Benfica? Eu? Nem pensar.

— Lukebakio aumenta a necessidade do Benfica ir ao mercado, mas quais são as suas opções até lá?

— Joga outro, é tão simples quanto isso. Não há muito a dizer. O único mercado que eu conheço e que está aberto para amanhã é o Mercado do Livramento em Setúbal. Bom peixe, boa carne, bons legumes, boa fruta, gente boa, gente simpática. É o único que eu conheço. Em Lisboa haverá seguramente outros e em todas as cidades haverá bonitos mercados abertos. No mercado do futebol não conheço nenhum que esteja aberto agora. Lukebakio não joga, joga outro.  Obviamente que não estou contente com a lesão. Se me perguntar se eu chorei ontem a noite toda depois de saber dos exames, não chorei nada. É andar para a frente. Não jogo um, jogo outro.

— Disse na última conferência que havia jogadores que não percebiam bem aquilo que era o Benfica. Qual é o seu papel? Em mostrar aos jogadores o que é o Benfica? Quanto a Lukebakio, como pode a ausência dele afetar o jogo?

— Não pode jogar. Ele já não poderia jogar com o Atlético por situação disciplinar. Agora não poderá jogar, segundo o departamento médico, mais de três meses aproximadamente. Não vale a pena sequer pensar nele. Obviamente, estou preocupado porque uma cirurgia é sempre uma cirurgia. Penso que será amanhã. Obviamente, estou preocupado, mas não será uma coisa muito complicada, segundo foi explicado. Do ponto de vista clínico, será uma cirurgia de certa maneira menos complicada do que algumas que acontecem no futebol quase semanalmente. Há, todavia, um jogador meu que tem uma situação cirúrgica e, obviamente, estou preocupado. Vai jogar outro, se depois afeta porque não temos jogadores de características semelhantes… não é tão simples quanto isso. Entra outro seguramente com vontade de jogar, com vontade de aproveitar a oportunidade e de dar o seu melhor. Relativamente aos jogadores que ainda não perceberam bem o que é o Benfica, eu acho que é uma situação normal. Bom, eu não diria que é normal porque o Benfica é o Benfica, mas parece-me, apesar de eu ter estado fora de Portugal nos últimos 20 anos ou mais, que nos outros clubes os jogadores têm tempo de conhecer, de adaptar-se, de falhar, de não jogar bem, de não render, de ter alguns pontos de interrogação à frente do seu nome. O Benfica é o Benfica, o Benfica é diferente e são também vocês que o fazem diferente. Os jogadores quando chegam aqui não têm esse tempo que normalmente lhes é dado. E tempo a todos os níveis, inclusive é conhecer exatamente a dimensão daquilo que é o Benfica. De um nível de exigência, de um conhecimento profundo daquilo que é a história do Benfica, daquilo que os adeptos esperam do Benfica. Eu digo os adeptos, não os pseudo-adeptos, porque há muitos também aí, inclusivamente alguns misturados a fazerem de conta que são jornalistas e não o são. Mas é importante que eles saibam, hoje conversámos sobre isso. Regressaram da seleção, depois do jogo do Casa Pia foram embora. Foi hoje que analisámos o jogo do Casa Pia nas vertentes que dependem de nós. Porque no jogo do Casa Pia aconteceram coisas que não dependem de nós. Aquilo que depende de nós, os erros que nós cometemos, as coisas que temos de melhorar… Foi hoje, no primeiro dia em que estivemos todos juntos e analisámos o jogo. E falámos de novo sobre o que é ser Benfica e do tipo de atitude, do tipo de mentalidade, que está muitas das vezes num plano superior à qualidade. Conversámos, da mesma maneira que treinamos. Pouco tempo para conversar, pouco tempo para treinar, mas é aquilo que nós procuramos fazer.

— A Federação ucraniana de futebol defende que Sudakov pode ter uma recidiva. O que é que nos pode adiantar sobre isso?

— Posso adiantar que o Benfica tem um departamento médico. É com o departamento médico do Benfica que eu trabalho. É no departamento médico do Benfica que eu tenho confiança total. Se um dia essa confiança total se tiver de transformar em confiança parcial, também lhes direi. E vice-versa, espero que assim seja. Neste momento a nossa relação é uma relação de confiança recíproca. Aquilo que diz o meu colega treinador da seleção da Ucrânia [Rebrov], aquilo que diz a Federação da Ucrânia, aquilo que especulam os sabichões que sabem tudo… Eu limito-me a reunir com os chefes clínicos do nosso departamento. Fi-lo logo no início da semana. Tenho-o feito todos os dias. Hoje, antes de fazer a convocatória, voltei a reforçar todas as perguntas e todas as explicações que já tinha feito anteriormente. E a explicação é muito clara da parte do meu departamento clínico. O jogador tem zero risco. Há zero risco relativamente a essa hipotética lesão muscular. O jogador está convocado, o jogador vai a jogo.

— Manu será convocado? Vai apostar em segundas linhas ou na equipa mais próxima do habitual?

— A gestão é simples. É um jogo que temos de ganhar. Queremos continuar na competição. A denominação de tomba- gigantes, não sei quem a inventou, mas quem a inventou estava num momento brilhante. É exatamente esse o significado da Taça. É muito raro haver uma jornada de taça sem que haja uma tomba-gigante. E nós temos de respeitar isso. Apesar de Mafra ser um local lindíssimo, eu não fui a Mafra visitar o Convento ou almoçar, eu fui a Mafra ver o Atlético jogar e acho que isso foi imediatamente um sinal de respeito, um sinal de querer conhecer ao máximo o nosso adversário da Taça. Há vários jogadores nossos que foram às seleções e que não jogaram, ou praticamente não jogaram. António Silva não jogou, o Otamendi não jogou, vários não jogaram. O único que fez dois jogos completos foi o Leandro Barreiro e é o Leandro Barreiro o único jogador que me preocupa sob o ponto de vista da gestão e por esse motivo não vai começar o jogo. Vou começar com a equipa que nos pode ajudar a ganhar o jogo.

— O perfil de Rafa encaixava numa equipa sua? Depois de ter feito críticas no final do jogo com o Casa Pia e de ver o FC Porto ir ao Conselho de Arbitragem dizer que é o clube mais prejudicado, partilha dessa opinião? É o clube mais prejudicado neste primeiro terço do campeonato?

— Eu não estou a analisar os jogos do FC Porto para dizer efetivamente a verdade. Desde que o FC Porto jogou contra o Benfica não voltei sequer a ver o FC Porto, porque a próxima vez que jogaremos com o FC Porto será eventualmente na Taça da Liga, eventualmente se ganharmos nas meias-finais. Portanto não se aproxima um jogo com o FC Porto. Eu não estou nada preocupado em ver o FC Porto jogar. Não tenho condições nenhumas para analisar essas alegações, não é problema meu. Aquilo que eu disse a seguir ao jogo contra o Casa Pia? Eu diria exatamente o mesmo agora. Fiz as críticas que devia fazer à minha equipa. Quando faço críticas à minha equipa estou implicitamente a criticar-me a mim mesmo, porque sou eu o treinador da equipa. Há um erro gigante. Ok, ouvi as explicações do doutor Duarte Gomes relativamente à atuação do VAR e tenho que as respeitar. Mas é melhor acabarmos com o VAR. Se o VAR não pode interferir quando há um erro daquela dimensão, o que é que o VAR faz? Sobre isso não tenho nada mais a dizer. À pergunta sobre o Rafa não vou responder. Não vou, não quero. É um jogador de outro clube. Não quero.