Pedro Emanuel: «Não me passou pela cabeça falhar o penálti»
Naquela noite mágica no Estádio Internacional de Yokohama, todos os jogadores foram verdadeiros heróis. Frente ao Once Caldas, numa final decidida na marca dos 11 metros, depois de um teimoso 0-0 que sobreviveu ao prolongamento, o FC Porto conquistou a sua segunda Taça Intercontinental. Mas, entre os nervos, a incerteza e a angústia que pairavam sobre as hostes portistas, um nome destacou-se no momento decisivo: Pedro Emanuel.
O antigo defesa central protagonizou um instante que ficará eternamente gravado na memória portista. Com um olhar penetrante e fixo na baliza adversária, Pedro Emanuel assumiu a responsabilidade da última grande penalidade, aquela que decidiria o troféu. Sem margem para erro, não vacilou. O 8-7 no marcador fez explodir a alegria azul e branca, transformando o relvado de Yokohama num palco de celebração inesquecível. Um momento de superação, coragem e glória que continua a inspirar gerações.
«Criamos de facto bastantes oportunidades, tivemos dois golos anulados, bastantes situações de perigo. Sabíamos que era um adversário lutador, trabalhador no jogo, perigoso no contra-ataque, que defendia bem e que acreditava muito. Nós fomos para o jogo preparados para isso. Sabíamos que íamos ter que trabalhar e desde cedo vimos que em termos de qualidade de jogo éramos superiores. Contudo, quando a bola não entra não podemos fazer a diferença para poder ganhar. E sendo assim tivemos que chegar aos penáltis e de facto tínhamos grande parte dos jogadores definidos, mas os jogadores foram passando e a final não estava resolvida», recorda a A BOLA, Pedro Emanuel.
«Como eu disse na altura e repito agora: deve fazer parte daquilo que é um jogador de futebol e a sua mentalidade para poder jogar numa equipa como o FC Porto, portanto, fui bater o penálti com aquele olhar de convicção, de que não ia com medo de ser feliz. E ser feliz era marcar para ganharmos e nem me passou pela cabeça que iria falhar. Ia com a convicção de que iria marcar, de que iria resolver definitivamente ali a final e felizmente isso aconteceu», rebobina a fita 20 anos, como se sentisse a medir aquela mesma baliza.
«Pessoalmente fiquei ligado a esse momento, mas essencialmente pela equipa e pela história, que mais uma vez, de uma forma bonita, sofrida, mas bonita, se escreveu numa fase importante para o clube, uma fase de reestruturação com a saída de muitos jogadores importantes na equipa, mas mesmo assim continuamos essa cultura de vitória e de conquistas internacionais», lembra Pedro Emanuel, que no FC Porto, além da Intercontinental, ganhou seis campeonatos, três Taças de Portugal, uma Champions, a Taça UEFA e três Supertaças. Homem de grandes proezas, foi campeão e vencedor de uma Taça e Supertaça no Boavista e como treinador conduziu a Académica ao triunfo na edição 2011/2012 da Taça de Portugal, somando mais troféus e títulos no Chipre e Arábia Saudita.
«Foi uma época atribulada e difícil. Início com o Del Neri, que depois sai antes de começar a época. De facto foi um treinador que não se adaptou à cultura do clube, os jogadores também que não se conseguiram adaptar ao treinador. Foi logo a primeira mudança. Depois vem o Victor Fernández, tenta fazer o seu trabalho, mas é uma época onde há muitas alterações, muitos jogadores importantes que saíram, outros que se calhar queriam sair e acabaram por ficar, e claro que isso afeta sempre aquilo que é o desempenho coletivo, quando os jogadores individualmente não estão no seu nível máximo», reconhece Pedro Emanuel, agora com uma visão diferente, de treinador. «Ficou esta conquista importante da Taça Intercontinental, a última neste modelo de final e sendo assim é mais uma conquista importante. Fiquei ligado a mais uma página bonita da história do futebol com o FC Porto, e hoje em dia valorizo isso, mais do que se calhar valorizei na altura», frisa.
«O Victor acabou por ter um trabalho ali um tanto ou quanto inquinado, contudo surpreendeu-nos porque faz o mercado de janeiro, há bastantes alterações nesse mês, e acaba por sair, porque de facto os resultados ditam muita coisa naquilo que é a vida de um treinador, e eu bem o sei neste momento», situa o momento em que o FC Porto decide, em fevereiro de 2005, despedir o espanhol.
«Fiquei com uma ótima impressão do Victor, até pela carreira que ele continuou a fazer em Espanha, e o sentimento foi de que de facto grande parte da responsabilidade daquilo que é a saída de um treinador como o Victor Fernández naquela altura da época também nos cabia a nós, os jogadores, mas era uma época que estava destinada em termos internos a não ter sucesso», considera.