O momento de leões e águias, as ideias a consolidar e as respostas... da almofada (tudo o que disse Rui Borges)
— O Sporting chega a este dérbi no melhor momento da temporada. Este encontro chega na melhor altura? Depois de 50 encontros à frente do Sporting sente-se mais preparado?
— Preparado acredito que sim, por isso é que estou aqui. Olharam e viram que estávamos preparados para assumir o Sporting. Agora, estou longe do que será o nosso auge. É um crescimento diário. A nossa leitura, capacidade enquanto treinadores... Olho para este jogo como para outro qualquer. Se é a melhor altura ou não, é o que é. Não me foco muito nessas nuances. Olho para o que tem sido o caminho, que tem sido muito positivo e gradual na confiança, energia e qualidade de jogo. Isso é que me preza ver e perceber perante a nossa equipa. Olho muito para isso. O jogo é nesta fase, é o que é, vale o que vale, vale três pontos. A dificuldade é grande, o respeito tal e qual como em qualquer jogo. Duas grandes equipas e será, acredito eu, um grande jogo. Pessoalmente? Os 50 jogos é o que é. É a marca, que faça muitos mais. Estamos sempre num crescendo de aprendizagem. O momento é o que tiver de ser. Estamos numa boa fase e queremos dar continuidade e consolidar esse crescimento, técnico, tático e no que tem a ver com a energia coletiva.
— Atribuir maior favoritismo ao Benfica por jogar em casa? Que comentário lhe merece a nomeação do árbitro António Nobre?
— Não vou estar aqui a falar sobre nomeações. Nunca o fiz e não vou fazer. Não sou eu que mando nessa parte, perde-se demasiado tempo a falar nisso. Temos de falar do jogo, do espetáculo, da paixão que envolve. Em relação a isso não me vou alongar. Favoritismo? Vou responder como respondi no nosso jogo aqui com o FC Porto. Disse que era 50/50 e caía para nós uma percentagem por jogarmos em casa. Até acabámos por perder. O Benfica tem pequeno favoritismo nesse sentido, mas acho que é muito repartido. Que seja um grande jogo e que consigamos ser a equipa que temos sido nesse crescimento técnico e tático.
— O Sporting tem-se revelado uma equipa impositiva, sempre a querer assumir o jogo. A estratégia vai ser alterada, haverá maiores cautelas por ser diante de um candidato ao título?
— Não vamos fugir à nossa ideia de jogo, mas do outro lado está uma grande equipa que nos vai obrigar a ser mais equilibrados em momentos. Mas não fugimos ao que queremos implementar. Queremos ser equilibrados em todos os momentos e temos de perceber que amanhã isso será muito importante. No processo ofensivo e defensivo, perceber como podemos anular pontos fortes do adversário. Transições, o Benfica é muito forte aí. Acima de tudo, quero que a minha equipa seja capaz de ser a melhor em todos os momentos. Vamos ver se seremos capazes. Acredito que sim, vejo-a confiante, ligada. Não em excesso de confiança, porque poderia ser prejudicial, mas percebem que estão a crescer e querem dividir o jogo, voltar a ter prazer a jogar. E isso, enquanto treinador, deixa-me mais tranquilo. Mas no processo... Vamos ser iguais. Quando não conseguirmos ter tanta bola, é porque o adversário vai ser superior. E temos de ser organizados.
— Já fez alguns encontros frente ao Benfica mas nenhum contra José Mourinho. Haverá maiores cuidados devido a esse fator?
— Tenho exatamente o mesmo respeito pelo mister José Mourinho e pelo mister Bruno Lage. Olho para a equipa e para o coletivo. Claro, perante a ideia de cada treinador. Acredito que o mister Mourinho, como não foi ele que fez a equipa, se tenha adaptado um bocadinho ao que tem. Acredito que queira colocar em prática outras ideias dele depois do mercado. São tudo suposições. Mas olho para o jogo como olhei para todos. Com respeito pelo adversário, pelo treinador, que já disse que admiro muito. Mas amanhã é Sporting contra Benfica e volto a dizer: que seja um grande jogo, com respeito e bem disputado.
— Não deverão existir grandes alterações em relação ao jogo da Supertaça. Por isso, que tipo de jogo espera? O Sporting parece estar a ganhar com maior facilidade. Está a jogar melhor do que o Benfica?
— Isso depende de quem olha, da perspetiva. Também olho para o momento do Benfica e tem três vitórias seguidas. Não olho muito nesse aspeto. Olho para a minha equipa e dentro da minha ideia está numa fase muito boa de maturação, de estar maturada na sua ideia, naquilo que queremos, nas dinâmicas, jogo coletivo. E depois o individual... Acho que a equipa do Sporting tem esse crescimento. O adversário está numa fase boa. Independentemente do que possam dizer ou da dificuldade dos jogos, também tivemos dificuldades para ganhar ao Nacional, tal como o Benfica. É muito subjetivo. Acho que é um 'momento falso' que existe para fora. Há um bom momento das duas equipas. Benfica ainda não perdeu internamente e na sua casa, por si só, é um adversário difícil. Acredito que será um Benfica a querer ganhar e disputar o jogo, tal como nós também o faremos perante um grande adversário e sem fugir ao que somos. Supertaça? É diferente, são quatro meses. Treinador diferente do outro lado. A nossa equipa está mais adulta, é um pouco diferente nesse sentido. Apesar de achar que fizemos um bom jogo na Supertaça mesmo perdendo. Mas acho que estamos melhores enquanto equipa. É sermos capazes de o demonstrar em campo amanhã.
— Sente que o Benfica está melhor do que nessa altura de finais de julho?
— Acho que está numa fase boa, com três vitórias seguidas. Se calhar é uma fase em que têm maior confiança por causa da mudança de treinador. Também tivemos dificuldades em ganhar ao Nacional, é sempre um campo difícil. Acho que o Benfica está melhor em termos de confiança, em crescendo, percebe-se em que fase está, sabe que joga em casa e vai querer puxar pelos adeptos. E acredito que queira disputar o jogo desde início e fazer tudo para ganhar, que não fiquem num jogo de expectativa. Acredito que seja um Benfica intenso, que quer ganhar, pressionante na sua maioria do tempo. Tal como o Sporting.
— O Sporting tem sido muito incisivo no ataque com Geny Catamo e Quenda mas agora haverá Pedro Gonçalves numa boa condição. Terá ele entrada direta no onze?
— Aqui ninguém tem entrada direta, depende do que demonstram diariamente e mostram aos treinadores. O Sporting já era acutilante também com o Pote. O Sporting tem vindo a crescer em termos coletivos e isso deixa-me feliz, a equipa continua a dar resposta. E isso, para mim, é sinal que a mensagem está a passar e é recebida e acreditam muito nela. Não podia pedir mais.
— Julga que uma vitória do Sporting poderá ser um golpe duríssimo para o Benfica? O Ioannidis está entre os convocados?
— O Ioannidis está em dúvida ainda. Não sei se será convocado. Pode acontecer, pode não acontecer. Em relação à outra pergunta, acho que não vai ditar nada do fecho do campeonato. É um grande jogo. Percebo o porquê de dizerem isso, que podem ficar as duas equipas a seis pontos se o FC Porto ganhar, etc... Mas o ano passado estivemos com muitos pontos de vantagem e depois perdemos alguns. Derivado do que falta para jogar - e falta muito -, em nada este resultado dita o desfecho do que será o final da Liga.
— João Simões estava num grande momento mas Morita entrou muito bem diante do E. Amadora. Já decidiu quem jogará amanhã nesse lugar do meio-campo?
— Ainda tenho de ver o que a almofada me diz hoje... O Simões está num grande momento. Foi opção não jogar frente ao Estrela, foi só mesmo opção por causa do adversário. Tem feito grandes jogos, vai continuar a fazer grandes jogos. Morita tem crescido, Kochorashvili também tem crescido muito e terá o seu espaço, oportunidades de demonstrar o crescimento. Feliz por ver o Simões e o Morita nesse crescendo de forma, tal como o Kochorashvili.
— Estreou-se pelo Sporting numa vitória frente ao Benfica mas esta época não ganhou a FC Porto e SC Braga e levantaram-se dúvidas sobre a sua capacidade. Este encontro de amanhã também poderá servir para as dissipar, em caso de vitória?
— A dúvida são vocês que criam, mais ninguém. Não vejo ninguém a dizer que o Rui Borges no ano passado não perdeu nenhum jogo [contra equipas grandes], só nos penáltis da Allianz Cup. Isso não mexe em nada comigo. Quando perdemos com o FC Porto, já disse que se ganhasse os jogos todos e perdesse aquele possivelmente seria campeão na mesma. E assinava por baixo. Vamos jogar contra um bom adversário. A equipa tem dado uma resposta muito boa. Os jogos que não fomos capazes de ganhar foram bons, e o resultado acabou por ser inglório para o que fizemos em jogo. É seguir o nosso caminho, não olho para o passado. Se olhar, na época passada não perdi nenhum. Podia dizer isso muitas vezes, mas não digo. Essa dúvida é mais daí de fora e não mexe em absolutamente nada comigo.
— Em que aspeto o Sporting evoluiu mais em termos táticos desde que chegou?
— Em termos de variabilidade ofensiva é um Sporting totalmente diferente. Mais do que o sistema que falavam muito... Trata-se de dar mais variabilidade ao nossos jogo, tornar-nos mais fortes no processo ofensivo. Na grande maioria dos jogos vamos estar nesse processo. As equipas vão ser cada vez mais difíceis de ser batidas, blocos baixos, linhas de cinco. E o desafio era conseguir perceber a equipa, que poderíamos ser mais fortes. Claro que não podemos desvalorizar os outros momentos. A variabilidade ofensiva é clara, mas nos outros momentos temos melhorado também muito. Na reação à perda, na transição defensiva. Também os equilíbrios. Dentro da variabilidade que damos, se calhar estamos mais expostos do que na época passada. E temos de ser mais rigorosos, concentrados, um ou outro pormenor no equilíbrio da posição. E isso também temos vindo a melhorar. É aí que digo que o processo técnico-tático tem melhorado. Ao longo destes meses. Mas frisava a variabilidade ofensiva, sim.
— Já disse que os campeonatos não se decidem nestes jogos, mas os três pontos de distância existentes entre as duas equipas advém do confronto direto. Não acha que a chave nestas partidas, até pelo fosso existente entre os grandes e as outras equipas?
— É um bocado subjetivo responder a isso. Muito honestamente, acho que não. O futebol é um jogo de consistência, quem for mais consistente... Não adianta ganhar os jogos grandes e não ganhar os outros. Aquele que for mais equilibrado e consistente será campeão. Acho que os jogos grandes não definem para mim. E não acho que o fosso seja cada vez maior. Acho é que as equipas em bons momentos fazem com que assim pareça. Mas não acredito que esses jogos definam campeonatos. Mas que queremos muito ganhar amanhã, queremos. E isso não ditará o desfecho do campeonato.