Casa do Benfica de Paredes
Casa do Benfica de Paredes

Benfica: o Marquês do Norte falou e está com Rui Costa

Seja entre miúdos ou graúdos, Rui Costa é o candidato mais querido na Casa do Benfica de Paredes. Noronha Lopes? «Vê o Benfica como um negócio»

A BOLA esteve à conversa com vários benfiquistas - sócios e não sócios - na Casa de Benfica de Paredes, sobre as eleições no clube. Vulgarmente designada como Marquês do Norte, esta foi uma das casas que mais deu que falar durante a campanha.

Se, por um lado, Rui Costa optou por fazer o arranque oficial da candidatura naquela cidade do distrito do Porto, repleta de benfiquismo, a 19 de setembro; por outro, a ação de campanha de Noronha Lopes em Paredes foi um dos momentos que mais marcou os dias que antecederam as eleições. O candidato que acabou por ficar em segundo na eleição de dia 25 foi recebido com muita pirotecnia e uma multidão.

Só que essa multidão, aos olhos de quem conhece bem a casa, foi «pessoal que o Noronha trouxe de Lisboa». É o que diz José Pacheco, de 57 anos, que depositou os 20 votos a que tem direito em Rui Costa: «Isto não é falar contra o Noronha. Eu não sou contra ele, atenção. Eu voto no Benfica. Mas aquilo que me disseram foi que o ruído todo na campanha cá em Paredes foi do pessoal que ele trouxe de Lisboa». «Que andaram a comer à custa dele», interrompe o amigo que o acompanha no Benfica-Tondela, José Matias, de 60 anos, atestando essa percepção. «Quando veio o Rui Costa era tudo pessoal daqui. Não veio ninguém de Lisboa. E nós a pagar. 35 euros. Não viemos comer à custa do Rui Costa», acrescenta José Matias, que também concedeu 10 votos ao atual presidente.

Ao balcão está Augusto Moreira. Marcou presença no dia em que Noronha apareceu: «Eu estava cá quando o Noronha Lopes veio com a campanha dele (…) estava aqui muita gente, mas a maior parte era pessoal que vinha com ele. Caras conhecidas, sócios da casa e pessoal da zona que costuma vir cá ver os jogos não estava aqui muito. Eu disse logo, 'isto encheu muito, mas foi só mais para mostrar para as televisões'», considera. Augusto, de 60 anos, não é sócio do Benfica, mas, se fosse, não votaria em Noronha Lopes: «Não me convenceu muito, sinceramente, pela maneira como se expressou, a maneira de falar (…) Portanto, se votasse, votava no Rui Costa. Com novos elementos na direção, poderá vir a fazer um mandato melhor.»

A mesma ideia é partilhada pelos irmãos Marcelo, de 27 anos, e Cláudio, de 22, que jantam, enquanto veem o jogo da Taça da Liga. Com três votos cada um, escolheram Rui Costa, com esperança de que, caso seja reeleito a estrutura possa melhorar. «Acho que o Rui Costa vai agarrar a oportunidade, ao ver que as pessoas lhe estão a dar mais um voto de confiança e a acreditar nele (…) Para mim, o Rui Costa é aquele que sente mais o Benfica e já está lá há muitos anos. Eu acredito que sinta muito mais o Benfica do que o Noronha Lopes, que vê o Benfica como um negócio.» O mais novo, Cláudio, afirma que o Rui Costa é muito bem cotado na região: «Em conversa com amigos, não só benfiquistas, mas também de outros clubes, havia essa ideia de que o Rui Costa ia ganhar aqui (…) Aqui o pessoal fala muito bem do Rui Costa.»

Na mesa ao lado, outros jovens. Mas estes, Jorge (28 anos) e André (27 anos), estão desiludidos com os benfiquistas. «Sinceramente, eu esperava mais dos benfiquistas. É preciso uma mudança», desabafa Jorge. «Acho que o Rui Costa representa as típicas eleições portuguesas, em que se vota em quem se gosta mais e não em quem se acha que vai fazer mais (…) Muitos benfiquistas votaram no Rui Costa só porque ele foi um grande jogador, é uma grande figura do Benfica e um benfiquistas mesmo a sério; enquanto que o Noronha só está a aparecer agora no mapa», considera André. «O problema é que o pessoal não se informa nem quer saber. Vê o futebol, fica feliz e que se lixe o resto», acrescenta o amigo Jorge.

Domingo Borges, de 72 anos, não é sócio, mas partilha da mesma opinião dos últimos dois jovens: «Tinha a convicção de que o Noronha Lopes ia ganhar. Eu não voto, mas o meu desejo era de mudança e a mudança estava entre o João Diogo Manteigas e o Noronha Lopes.» «Eu acho que as pessoas mais velhas não arriscam mudança, porque no nosso país é complicado mudar. Nunca se sabe o que vai acontecer e as pessoas são mais desconfiadas com a mudança. Eu penso no futuro, mas acho que muitas pessoas da minha idade não pensam», analisa.

De facto, Domingos é dos poucos veteranos com quem A BOLA falou na Casa do Benfica de Paredes que pensa assim. «Voto no Rui Costa, porque não vejo que outro possa fazer melhor. Ainda estive entre Noronha Lopes e Rui Costa, mas acho que o melhor é o Rui Costa», afirma Jorge Augusto, de 50 anos, que tem direito a 20 votos.

Quem também tem 20 votos é o sócio Bernardino Silva, de 52 anos, integrante da comissão de campanha de Luís Filipe Vieira: «Para mim, o presidente de todos os tempos foi e será o Vieira (...) agora o presidente que vier para o Benfica será o meu presidente, atenção. Concordando ou discordando, vai ser o meu presidente. Só não queria o Noronha...», diz Bernardino, assumindo que agora vai votar no Rui Costa: «Do mal, o menos». «Eu considero o Noronha um Vale e Azevedo 2», justifica. No entanto, também acusa Rui Costa de ser «mole demais». «No convívio que ele fez cá em Paredes, eu disse-lhe: 'ó Rui, enterraste-te. Está aí a comunicação social toda e quem estiver atento vai aperceber-se de uma gafe tua'. Ele disse que tomou conta do clube do dia para a noite, sem estar preparado para o fazer. E eu disse-lhe: 'Então o que estiveste a fazer durante 14 anos ao lado do Vieira?. Quem estava minimamente atento apercebeu-se. Das duas uma, ou andavas lá só para dizer que andavas lá ou então estás-te a fazer de coitadinho'. É o que é. Eu sou muito frontal.»

Voltando à mesa dos Josés, juntou-se Francisco à conversa, para animar a conversa. Também não simpatiza com Noronha Lopes: «Eu não confio num candidato que quer ser presidente do Benfica e, no debate na televisão entre todos os candidatos, o objetivo é atacar o Rui Costa. Ele tinha de dar exemplos de como é que iria defender o Benfica; e não foi isso que ele fez. Era só atacar o Rui Costa.» «Eu acho que o Noronha devia ter feito uma campanha mais limpa, para dizer aos sócios o que é que queria fazer, como queria fazer. Os sócios depois analisariam. Mas não. O objetivo dele é só atacar o Rui Costa», acrescentou. Pacheco e Matias concordam e estão expectantes de que, caso ganhe na segunda volta, Rui Costa faça um mandato melhor do que o que agora termina. «Vamos agora dar outra oportunidade. Ele agora sabe os erros que cometeu e está a aprender», diz José Pacheco. «O sinal que as pessoas deram é que querem lá o Rui Costa. Foi por isso que o pessoal aderiu muito», acrescenta.

De facto, em Paredes, Rui Costa ganhou por larga maioria: foram 9003 votos de Rui Costa (463 votantes) contra 3044 de Noronha Lopes (245 votantes). Luís Filipe Vieira, com 2562 votos (138 votantes), ficou mais perto de Noronha Lopes, do que este último ficou de Rui Costa.

Curiosamente, o antigo presidente do Benfica seria o plano B de grande parte dos sócios votantes em Rui Costa, com quem A BOLA falou. «Eu não sou mal agradecido e não me esqueço daquilo que fez pelo Benfica. Voltava a dar oportunidade ao Luís Filipe Vieira. Pode ter os problemas pessoais que tem, mas não tem nada a ver com o Benfica. E agora eu pergunto: será que o Noronha Lopes tem tudo limpinho, limpinho?», questiona Augusto Moreira.

«Acho que na segunda volta o Rui Costa vai ganhar. As pessoas que votaram no Vieira vão acabar por votar no Rui Costa (…) a minha segunda opção seria o Vieira», analisa o jovem Marcelo, acompanhado - na refeição e nas ideias - pelo irmão Cláudio.

A segunda volta das eleições do Benfica realiza-se no dia 8 de novembro. Na Casa do Benfica Paredes, a secção de voto vai ser reforçada com mais mesas. No dia 25 de outubro, houve relatos de sócios que estiveram quatro horas à espera para poderem votar. No Marquês no Norte, falou-se à primeira. Agora, a maioria espera que Rui Costa vença outra vez.