O grande problema de Portugal é a falta de capacidade altruísta
Ricardo Araújo Pereira afirmou em tempos que se sentia um sortudo, dado que os políticos e líderes portugueses lhe proporcionavam diariamente situações caricatas para o seu papel de criar momentos de boa disposição e comédia para os portugueses, evitando assim o desgaste da procura. Senti o mesmo entre as duas semanas que separam estes artigos, ao tentar estruturar um texto com exemplos do que não podemos continuar a fazer ou para onde nos devemos dirigir.
Escrevi há 15 dias que não precisávamos apenas de uma excelente estratégia (sempre muito importante), mas também do compromisso real de todos em cumpri-la depois de aceite. Existe outra hipótese: diminuir o número de pessoas que participam na definição da estratégia (desde que sejam competentes e incluam as várias áreas necessárias) e garantir que existam consequências reais para quem não a cumpre. Sei que estou a falar do meu país, mas já andamos a gastar mal há tanto tempo que, de outra forma, tudo continuará a ser a mesma rábula. E, a partir do momento em que o dinheiro — na minha opinião — é mal investido, a razão de ser pouco ou insuficiente deixa de ser o tema. Seria e será um problema quando a quantia existente for bem aplicada e controlada, sem desvios, defendendo os interesses do país e não os de quem a distribui.
Numa versão muito resumida e fruto da experiência e da sorte de ter estado ligado ao desporto sob vários ângulos, acredito que colocar todos a respeitar e a remar na mesma direção é bem mais difícil do que encontrar uma boa estratégia. Por várias razões. Como em todas as áreas, há boas práticas, haverá a necessidade de adaptação, haverá a necessidade de ter coragem para cortar os maus hábitos, mas repito aqui: o grande problema do nosso Portugal, em quase todas as áreas, não é o conhecimento ou o talento, é mesmo a falta de capacidade altruísta para gerir em prol de um bem maior do que a agenda individual, e depois garantir que existam consequências práticas (o reconhecimento e a responsabilização).
Como muitos treinadores dizem, e bem: todos têm de saber qual o seu papel neste processo, perceber a importância do mesmo, aceitar que há papéis que supostamente brilham mais do que outros, mas que, sem os que brilham menos, pouco ou nada é robusto. No final, a maior força disto tudo é o todo. E agradar a todos não deve ser um objetivo, mesmo que fosse possível.