O futebol da televisão
Já em textos prévios fiz referência às dificuldades que a Liga Portugal tem manifestado no agendamento de jogos das suas competições. Acrescentei a isso o facto de o SC Braga ter realizado sete dos seus primeiros 11 jogos do campeonato no horário das 20h30 de domingo.
Eis que na 12.ª jornada o clube foi presenteado com o agendamento de um jogo em Arouca a uma segunda-feira, feriado nacional (1 de dezembro), às 20h15, sem que existisse qualquer outro jogo da principal divisão agendado para o mesmo dia. Em cima da mesa estava, portanto, uma viagem de mais de 100 km, debaixo de um clima desfavorável, para aqueles bravos adeptos braguistas que quisessem manifestar apoio à sua equipa, que tanto tem feito por merecê-lo.
Depois de concluída a viagem, e sem pretender desvalorizar as condições do estádio do Arouca, seguiam-se 90 minutos numa bancada descoberta, sujeitando os presentes a quaisquer que fossem as condições meteorológicas. A chuva e o frio não deram tréguas e terminado o jogo era hora de regressar a casa, com mais uma centena de quilómetros em perspetiva e uma chegada a casa já noite dentro, em véspera de dia de trabalho.
O cenário descrito é facilmente compreendido como desagradável e pouco convidativo, sendo, entre outros, um motivo importante e justificador dos 29% de ocupação do estádio. Uma visita tipicamente simpática ao concelho de Arouca, em dia de feriado, transformada numa viagem dantesca para aqueles que se dispõem a sofrer pelo clube do coração, cumprindo-se o objetivo de satisfazer os interesses do canal televisivo responsável pela transmissão, em coadunação com a Liga Portugal.
De fora desta equação ficam, mais uma vez, os interesses daqueles que preenchem as bancadas e que, em última análise, deveriam ser o principal beneficiado destas decisões. Que se salve o futebol no estádio e quem dele faz parte, porque o futebol da televisão não tem futuro nem emoção.
No relvado, e porque também isso deve ser alvo de análise, o SC Braga venceu o Arouca confortavelmente, beneficiando para isso de uma primeira parte, no mínimo, caricata. Uma expulsão com dois amarelos praticamente consecutivos e displicentes, uma grande penalidade da qual resultou, oficialmente, um autogolo do guarda-redes, e um segundo autogolo ao terminar a primeira parte. Seguiu-se uma segunda parte de gestão, na qual se ampliou a vantagem.
Seria difícil imaginar um cenário melhor, que permitiu regressar às vitórias fora de casa no campeonato, algo que já não era conseguido desde a longínqua segunda jornada, em Alverca.
Dias mais tarde, o SC Braga visitou Famalicão com o objetivo de conquistar três pontos e ultrapassar esse adversário na tabela. Perspetivavam-se dificuldades, conforme tem sido habitual neste confronto, apoiadas na atual classificação pontual. Eis que a turma de Carlos Vicens voltou a exibir-se em alto nível, mostrando sobriedade, consolidação de um processo coletivo assinalável e muita capacidade de ter bola e de saber o que fazer com ela. Uma vitória tangencial, que peca por escassa, viu o clube atingir o quinto lugar.
Os sinais recentes são sobejamente positivos e animadores para o médio e longo prazo, já com impacto na classificação, onde se tem restabelecido alguma normalidade. Segue-se na quinta-feira novo confronto europeu, em Nice, frente a um adversário que atravessa um período conturbado e agitado, inclusive na relação entre adeptos e equipa.
Com 10 pontos amealhados, o cenário de eliminação na fase de liga parece afastado, mas florescem expectativas de qualificação direta, pelo que este jogo em França, contra um rival que tem zero pontos e que está arredado da competição, acresce de importância. Que a estabilidade recente continue a evidenciar-se ao longo deste complicado e longo mês de dezembro.