Ricardo Horta (Foto: André Alves/GRAFISLAB)
Ricardo Horta (Foto: André Alves/GRAFISLAB)

Ricardo Horta, o Eusébio do SC Braga

Havia o Eusébio do Benfica e o Eusébio do Sporting. Agora há o Pavlidis/Luis Suárez do Rio Ave e, sobretudo, o Eusébio do SC Braga. Que sonha com o Mundial de 2026 e, por fim, com um Campeonato Nacional

Há muitos anos, décadas até, Eusébio era já a maior figura do futebol português. Do Benfica e, sobretudo, do futebol português. O Benfica era ele e mais dez. A Seleção Nacional era ele e mais dez. Assim continuaria até meados da década de 70, quando o joelho do Pantera Negra, estilhaçado e múltiplas vezes cosido e recosido, não mais permitiu que Eusébio fosse Eusébio. Até então, o Sporting, maior rival do Benfica nas provas europeias, ganhava um campeonato em cada quatro: 1958, 1962, 1966, 1970 e 1974. Um dia, em novembro de 1970, quando o Sporting comandava o campeonato, com apenas um golo nas primeiras oito jornadas, Carlos Pinhão chamou ao guarda-redes leonino, Vítor Manuel Afonso Damas de Oliveira, nas páginas de A BOLA, «o Eusébio do Sporting». E era. Eusébio estava para o Benfica como Damas estava para o Sporting.

Pegando nesta famosa tirada do grande Carlos Pinhão e olhando para o que tem sido este campeonato, talvez faça sentido reformular a frase para o final do primeiro quarto do século XXI e anunciar ao mundo: Clayton é o Pavlidis (ou o Luis Suárez) do Rio Ave. Há um ano, o brasileiro marcou 14 dos 39 golos dos vilacondenses na Liga: 36 por cento. Agora, em 2025/2026, apontou dez dos 17 golos da equipa liderada por Silaidopoulos: 58 por cento. De que é que estão à espera as equipas de maior poderio para contratarem o mineiro de 26 anos?

O mesmo se pode aplicar a Ricardo Horta. Está no SC Braga desde 2016 e marcou, nestas nove épocas e meia, nada menos de 139 golos e fez 71 assistências. Em 405 jogos. Dá um golo ou assistência de dois em dois jogos. É o Eusébio do SC Braga. Marca e assiste, marca da direita e da esquerda, assiste da direita e da esquerda. E sempre sem lamúrias. É o bracarense com mais golos e mais jogos da história e merecia ter mais do que apenas 12 internacionalizações A. Claro que há Bernardo Silva, João Félix, Francisco Trincão, Rafael Leão, Francisco Conceição, Pedro Gonçalves, Pedro Neto, Geovany Quenda, Rodrigo Mora e Carlos Forbs, mais ou menos para as mesmas posições. São múltiplas agradáveis dores de cabeça para Roberto Martínez daqui até maio de 2026.

Ricardo Horta esteve com pé e meio no Benfica em 2022. O Benfica de Roger Schmidt foi, mesmo sem ele, campeão nacional em 2022/2023. O SC Braga foi terceiro. E quarto nas duas épocas seguintes. Horta está, pois, num grande clube e numa muito boa equipa, mas não parece crível que seja já este ano que os guerreiros chegam à tão ambicionada vitória num Campeonato Nacional. O 21 bracarense vai, assim, adiar o merecido sonho por mais um ano. Acredito que o Eusébio do SC Braga será, um dia, campeão nacional. No SC Braga ou noutro grande clube qualquer. Só tem 31 anos...