Pavlidis de novo em alta rotação. Foto Rogério Ferreira/KAPTA+
Pavlidis de novo em alta rotação, mais três golos e liderança da «Bola de Prata». Foto Rogério Ferreira/KAPTA+

O Benfica está crescido e sabe agradecer as prendas de Natal (crónica)

Encarnados sublimes no aproveitamento das ofertas contrárias. Todos os golos resultaram de tentativas de sair a jogar por parte do Moreirense, e assim não há boas ideias que resistam

O Benfica venceu e convenceu em Moreira de Cónegos, arrancando bem para uma reta de final de ano exigente e mostrando que o futebol é um jogo na maior parte das vezes simples, no qual vence quem tem melhores executantes. É certo que se trata da modalidade que permite mais vezes a supresa de os menos bons vencerem (e por isso é tão mágico e universal), mas apesar de tudo ainda há algo de lógico na maior parte das ocasiões.

Foi o caso deste final de tarde/início de noite de domingo no Minho. O Moreirense tem apresentado boas ideias no campeonato e ganho pontos correspondentes à qualidade que demonstra, mas hoje terá exagerado na presunção das próprias capacidades. Querer sair frequentemente a jogar a partir da própria área frente a uma equipa como a do Benfica é meio caminho andado para uma espécie de suicídio, passe o exagero do termo.

Com todo o mérito decorrente da pressão alta que fez junto à área minhota e com toda a qualidade dos seus executantes, o Benfica construiu uma vitória cuja facilidade é ilusória. Os números são claros, e no final das contas parece que se tratou de um passeio, mas tal não é verdade. A primeira meia hora de jogo foi bastante equilibrada e, perante a iminência de uma lesão de Leandro Barreiro (que acabaria mesmo por sair ao intervalo), caiu como sopa no mel o primeiro brinde natalício do Moreirense: tentativa de sair a jogar, atrapalhação, canto e golo na sequência de segunda bola conquistada e jogada brilhantemente por Tomás Araújo e Aursnes, cabendo a Pavlidis o cabeceamento à ponta de lança que desbloqueou o jogo.

Ainda antes do intervalo, já em período de descontos, os donos da casa cometeram novo erro parecido e deixaram tudo à vista. O Benfica, que está crescidote e cada vez mais maduro, percebeu o que teria de continuar a fazer na segunda parte: pressionar a altiva saída de bola do Moreirense e esperar pelos erros contrários.

Vasco Botelho da Costa mexeu na equipa ao intervalo (Mourinho também, mas devido à tal lesão de Barreiro) e o Moreirense trouxe de novo as tais boas ideias ofensivas, assentes em trocas de bola assertivas e tentativas de penetração pelos flancos quando as oportunidades surgiam. Infelizmente para os donos da casa, as tentativas de troca de bola habilidosas recomeçaram a ser feitas lá atrás. Aos 55 minutos deu-se um erro mas Aursnes falhou o passe; aos 56 minutos deu-se outro, mas o árbitro assinalou uma falta dúbia a Ríos; aos 57 veio o terceiro da série, Aursnes acertou o passe e Pavlidis o segundo da noite.

O treinador da casa tentou voltar a mexer, embora tudo ficasse cada vez mais difícil. Só não terá dito aos seus jogadores que era conveniente não quererem armar jogo a partir de trás. Eles insistiram e aos 70 minutos Pavlidis completou o hat trick após nova oferta do Moreirense, nem interessa estar agora a escalpelizar quem errou, porque quando sucede tantas vezes o problema é necessariamente coletivo.

Ficou, então, tudo decidido, mas Natal é Natal e ainda houve tempo para a defesa da casa oferecer o quarto golo ao visitante, com a justiça poética de a oferta ter sido dirigida a Fredrik Aursnes, um dos melhores executantes do campeonato português que, recordemos, já levava duas assistências e concluiu a goleada com um chapéu à jogador.

O Benfica corre atrás dos adversários diretos, mas está vivaço. O Moreirense promete, mas devia começar por prometer a si próprio desistir dessa ideia de sair sempre a jogar a partir da pequena área.

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