Obra de arte do camisola 39 dos guerreiros do Minho selou o apuramento para a próxima fase (Foto: Hugo Delgado/LUSA)
Obra de arte do camisola 39 dos guerreiros do Minho selou o apuramento para a próxima fase (Foto: Hugo Delgado/LUSA)

Navarro não é... António, mas foi o grande Salvador (crónica)

Ponta de lança espanhol fez-se valer de um autêntico truque de magia para resolver a eliminatória já no prolongamento. Sonho do presidente é interno, mas dimensão do clube impõe total respeito pela Europa

Serão poucos (para não dizer nenhuns...) os verdadeiros amantes do futebol português que, em bom rigor, não reconheçam capacidade e competência ao trabalho realizado por António Salvador ao longo das mais de duas décadas que o presidente do SC Braga leva no cargo. Com o dirigente ao leme, os arsenalistas têm reclamado, por direito próprio, um lugar por entre os maiores do futebol português.

Depois da Taça de Portugal e da Taça da Liga, o líder máximo dos guerreiros do Minho ousou desafiar a lógica (valha lá isso o que valer...) e assumiu, no início da presente temporada, que tem no horizonte para os próximos quatro anos (tempo de mandato para o qual foi recentemente reeleito) a conquista da Liga. O SC Braga quer ser campeão nacional. Louve-se a ambição de Salvador. Aplauda-se a visão e o auto-desafio de alguém que pensa (em) grande e que não descansa enquanto não vir o seu SC Braga no topo da pirâmide.

Para o efeito, e olhando à presente temporada, António Salvador - contando com a indispensável colaboração da Qatar Sports Investments (grupo de investimento que detém o gigante PSG) e que tem injetado capital na gestão da SAD dos bracarenses - tomou uma decisão que surpreendeu: contratou Carlos Vicens, antigo adjunto de Pep Guardiola no poderoso Manchester City, e ofereceu ao espanhol um contrato de três temporadas. Percebeu-se a ideia de estabilidade pretendida por Salvador, ficando claro que, na sua mente, está a ideia de que Vicens será... o treinador do título.

Mas antes desse objetivo interno, a médio-prazo, reforçamos, houve um início internacional. Com os minhotos a entrarem em cena na 2.ª pré-eliminatória da UEFA Europa League. O primeiro jogo não correu de feição (0-0 na Bulgária e uma exibição muito nivelada por baixo), o segundo embate, ontem, não foi muito melhor. Prometeu, na etapa inicial, mas foi sol de pouca dura. A prestação minhota ficou aquém.

Niakaté atirou à barra (5'), Rodrigo Zalazar tentou à lei da bomba (10', 15' e 35'). Nada resultou. Os búlgaros não incomodavam.

Na etapa complementar, os bracarenses nunca conseguiram, pelo menos, igualar o nível interessante que tinham demonstrado. O espetáculo baixou (ainda mais) de produção e isso permitiu que o Levski acreditasse na surpresa. Que quase acontecia, quando Sangaré fez brilhar Lukas Hornicek (55'). Pouco depois, Roger Fernandes tirou o pão da boca a Petkov. Os comandados de Carlos Vicens estavam inoperantes, defensiva e ofensivamente. Apenas fogachos. Pouco para o exigível.

O prolongamento surgiu sem ponta de surpresa ao cabo de 180 minutos de nulo quase absoluto. E foi no tempo extra que surgiu o momento da noite e da eliminatória: Fran Navarro, aos 105 minutos, decidiu apresentar um truque de magia e com um pontapé acrobático, no coração da área, deu o melhor seguimento a um cruzamento da esquerda de Sandro Vidigal. Que monumento!

Navarro não é... António, mas foi mesmo ele o grande... Salvador. O presidente rejubilou, mas Vicens tem muito para desbravar...

Melhor em campo: Fran Navarro (7)
Se alguém ousar dizer que poderia ser de outra forma, respeitamentos (evidentemente), mas não concordamos. Este espaço só poderia ter a fotografia e o nome de um artista: Fran Navarro. Não só porque a exibição coletiva deixou a desejar (apenas Zalazar e Roger tentaram fazer pela distinção individual), mas, e acima de tudo, porque o espanhol decidiu. E com nota artística de calibre!