Joana Soeiro: «Orgulho gigante em representar o País»

Uma das mais experientes da Seleção, a base fala sobre o que espera do EuroBasket 2025 e como a equipa nacional conseguiu o apuramento apesar de não ter estrelas

Com a Seleção a trabalhar, há pouco mais uma semana, para estreia no EuroBasket 2025 feminino (18 a 29 junho), e já tendo disputados os dois jogos de preparação contra a Eslovénia (78-77, 70-64), em Maribor, antes de outros tantos face à Sérvia, em Belgrado, Joana Soeiro, de 30 anos, conversou com a A BOLA, sobre o que significa e ida ao Euro após já ter estado num de 3x3, como uma equipa sem estrela se qualificou e como custou, mas também a recompensou ter ido jogar para Espanha.

— Como é que se têm vivido os treinos para o Europeu, de certeza um sonho de uma carreira?

— É espetacular podermos estar aqui, nesta altura. Até agora foi sempre a ver os outros a jogar durante o verão e isso custava-nos bastante. Tanto que, finalmente, conseguimos a qualificação e podemos estar todas juntas, ainda em forma das nossas épocas, e podermos trazer, cada uma, tudo aquilo que sabemos para poder ajudar a Seleção a fazer o melhor possível lá fora. É uma sensação incrível.

— Era um objetivo com que sonhava há muito tempo? Ou foi algo que foi crescendo à medida que a carreira foi avançando?

— À medida que a minha carreira foi avançando e fui fazendo trabalhos com a Seleção Nacional, de ano para ano, comecei a acreditar mais e mais que isto era uma possibilidade. Fomo-nos preparando melhor, demonstrando e provando que conseguíamos competir com potências do basquete europeu. E sim, foi uma coisa que foi crescendo dentro de mim, primeiramente aos poucos e nos últimos anos a passos largos. Acreditámos todas juntas e a ajudámo-nos umas às outras a continuar e a insistir e persistir porque, um dia, iria acontecer. E aconteceu e aqui estamos hoje.

— Não havendo uma estrela na Seleção, alguém que garante 20 ou 30 pontos por jogo, qual é que foi o segredo desta equipa para chegar ao Europeu de 2025?

— Acho que o segredo foi exatamente esse: não termos uma estrela. Se nos qualificámos para os jogos de Campeonato da Europa e agora vamos poder desfrutar disso e representar o país lá fora, foi por termos construído uma equipa onde cada uma transporta alguma coisa para dentro de campo. Não estarmos dependentes da performance de apenas uma jogadora, uma estrela, como se gosta muito de dizer, é talvez das melhores coisas que esta Seleção tem. Sermos uma equipa onde todas podem aportar alguma coisa e não estarmos dependentes de apenas uma ou duas jogadoras.

— Para alguém que esteve um Europeu de 3x3 e até tem uma carreira forte de 3x3, o que é que vai significar jogar neste Europeu e comparando um com o outro?

— É um pouco difícil comparar porque os processos de qualificação para o 3x3 e para o 5x5 são completamente diferentes. Aqui, no 5x5, torna-se muito mais difícil fazê-lo porque temos que ser muito consistentes nas janelas de qualificação. No 3x3 é uma modalidade muito mais mata-mata do que propriamente no 5x5. Há bastantes mais upsets, ou seja, equipas pequenas a ganhar a grandes seleções. No 3x3 isso acontece mais. Agora, a nível individual, é um orgulho gigante poder representar o País nas duas modalidades, que ainda que pareçam a mesma, não são. São duas modalidades diferentes. E poder agora sentir isso, que posso carregar esta camisola nas duas modalidades, é um orgulho muito grande para mim.

Fotografia Maycon Quiozini/A BOLA

— Que basquetebol é que Portugal tem de jogar para no grupo em que está [Poule C, sediado em Brno, com Bélgica, Chéquia e Montenegro], onde está a campeã da Europa, ter a aspiração, pelo menos, de estar sempre a lutar pelo resultado?

— Nenhum jogo vai ser fácil, muito menos com a Bélgica, que é uma seleção, como toda a gente sabe, com jogadoras que jogam ao maior e melhor nível no mundo. Por isso, não vão ser encontros fáceis, não há jogos fáceis, não há equipas fáceis, porque quem se qualificou, conseguiu-o por algum motivo. Penso que Portugal vai ter que se apresentar, no fundo, como sempre se apresentou. Não vamos fugir muito daquilo que é a nossa identidade e vamos tentar ser o mais coesas e consistentes a nível defensivo possível. Tal como disse antes, não temos aqui nenhuma estrela que nos vá meter 40 ou 50 pontos por encontro, então temos de garantir que estamos muito unidas e focadas nos planos de jogo para a nível defensivo nunca falhar. Isto porque, há dias em que a bola entra e há dias que a bola não entra, mas na defesa, se estivermos concentradas naquilo que é para fazer e unidas, é essa a Seleção que tenho a certeza que o nosso selecionador [Ricardo Vasconcelos] vai querer apresentar todas as partidas.

— Entrar no court no Europeu, vai conseguir superar a festa que fez e a Seleção também na qualificação, em que todas celebraram com garrafas de champanhe?

— Óbvio que sim, mas são sensações diferentes, porque, naquele momento, sabíamos que acabou: qualificámo-nos, vamos desfrutar agora… depois voltámos para os nossos clubes e temos de trocar o chip naquele momento. Ao contrário, quando pisarmos o campo naquele primeiro jogo na arena do Campeonato da Europa, vai ser uma sensação de um orgulho grande, mas, ao mesmo tempo, de uma responsabilidade muito grande. Não como foi em Coimbra: terminou a qualificação, vamos celebrar. Agora será: vai começar o Europeu, vamos desfrutar. São sensações diferentes, ambas muito intensas, mas há que sacudir essa ansiedade e essa vontade enorme de jogar e podermos ser profissionais e aplicar aquilo que temos vindo a trabalhar.

— Foi uma das jogadoras que, nos últimos anos, apostou ir para fora. Sente que isso também acaba por ajudar a Seleção, um bocado como está acontecer na masculina, onde cerca de metade dos jogadores já atuam fora de Portugal? Sempre que voltou, chegou à Seleção de outra maneira e o basquetebol português também está de outra forma, com essa aposta?

— Sim, sem dúvida. O facto de podermos, durante a nossa carreira, experienciar diferentes tipos de basquete, joga-se um tipo em Portugal, outro em Espanha, até diferentes modelos de basquetebol em diferentes divisões de cada país, e isso, sem dúvida, criou em mim um espectro muito maior da minha visão do basquete a nível geral. Tive de enfrentar dificuldades noutras ligas que na liga portuguesa não tive que encarar, e isso fez com que crescesse bastante como base e como atleta. Como profissional, só por si mesmo. E deixo aqui o meu conselho, de velha já, como me chamam, de veterana: de que se uma jogadora que está agora a iniciar a carreira profissional puder, em algum momento, experienciar um basquetebol diferente, que o faça.

— Mas foi fácil, sobretudo nos primeiros anos, ser portuguesa em Espanha?

— Não, nada fácil. Porque não somos um país de basquetebol, acho que somos cada vez mais um país de basquete, mas ainda não somos. E em Espanha, num país que é muito de basquete, temos muito, muito que saber lidar com aquele desconforto, saber lidar com aquele, às vezes um pouquinho sentimento de inferioridade, e sabermos agarrar nisso e torna-lo em motivação extra. Um desafio para tentarmos saber lidar com aquele desconforto. Não estou no meu país, estou sozinha, é uma solidão muito grande jogar no estrangeiro, ao contrário daquilo que as pessoas, se calhar, pensam. E saber lidar com isso há dias que é muito difícil. Mas no fim, aquilo que sinto que melhorei enquanto jogadora, enquanto profissional, por ter ultrapassado tudo isso, faz com que agora venha para a Seleção e tenha muito mais em mim para poder ajudar esta equipa, neste momento.