João Mendes (dir.), aqui em luta com Gabriel Silva, inaugurou o marcador no triunfo do Vitória (2-0) sobre o Santa Clara
V. Guimarães venceu Santa Clara e está na luta pelo 5. lugar (Foto: Liga Portugal)

Homenagem ao nosso primeiro

Sentido de pertença é o espaço de opinião quinzenal de André Coelho Lima, Jurista, empresário e associado do Vitória Sport Clube

1 — Escrevo imediatamente após as cerimónias de partida do sócio n.º 1 do Vitória Sport Clube, José Luís Xavier Fernandes. O que me impele a que escreva sobre ele, porque escrever sobre ele, é escrever sobre o Vitória. «Um homem para ser completo tem de ser vimaranense, vitoriano e nicolino», dizia ele; José Luís Xavier Fernandes era um apaixonado por Guimarães, pelo Vitória e pelas nossas seculares Festas Nicolinas, no fundo um exemplo da idiossincrasia vimaranense. Membro da Comissão de Festas Nicolinas de 1943 e dirigente do Vitória nos anos 60 do século passado, foi sempre alguém que viveu intensamente o seu clube e esta paixão especial que lhe serve de entorno. Cavalheiro, bon vivant, exímio contador de estórias, contou recentemente num programa da Sport TV que quando recebeu do seu pai a sua primeira semanada (10$00 escudos), lhe pediu autorização se podia usar esse dinheiro para entrar para sócio do Vitória; isto, só por si, diz muito da priorização que em Guimarães se dá ao Vitória. José Luís Xavier Fernandes parte, mas não leva consigo a sua paixão pelo Vitória, deixa-a connosco para lhe darmos sequência — «Um vitoriano não morre, apenas muda de bancada».

2 — Após a vitória sobre o Santa Clara, o Vitória relançou-se para a disputa pelo 5.º lugar que pode significar a disputa pelo lugar da Liga Conferência para a próxima época. A primeira coisa que há a dizer acerca desta disputa é que o Santa Clara é um justo ocupante da posição que connosco disputa. Uma equipa muito bem montada, com excelentes jogadores, que tem feito um campeonato fantástico, o que justifica que esteja a disputar, com todo o merecimento, a possibilidade de uma qualificação europeia pela segunda vez na sua história.

Acerca do jogo que opôs estes dois contendores, queria ainda dizer que apesar de me parecer ter o Vitória sido um vencedor incontestável e apesar de serem compreensíveis as cautelas que um jogo daquela importância implicava, não gosto de ver um clube como o Vitória jogar com 11 atrás da linha da bola a partir dos 30' de jogo. Luís Freire conseguiu recuperar a segurança defensiva que esta equipa tinha, regressando à filosofia — correta, diga-se — de que as equipas se constroem de trás para a frente, de que é preciso primeiro afinar o acerto defensivo para depois trabalhar a construção ofensiva, Luís Freire é o grande responsável por um certo reganhar de confiança em campo e pelos resultados magníficos que temos apresentado. Mas o Vitória não pode voltar ao tempo em que tinha treinadores que faziam recuar a equipa após a vantagem de apenas um golo, porque tantas e tantas vezes isso nos custou o resultado. Este sábado, felizmente, isso não aconteceu, como podia perfeitamente ter acontecido. O Vitória tem pergaminhos que o obrigam a não apresentar determinadas posturas em campo, coisa que, aliás, ouvimos frequentemente na antevisão dos jogos, pelo que é só cumprir com o que diz; temos de olhar para cima em vez de olhar para baixo.

3 — Estando esta disputa novamente acesa, convém referir o que ela significa. O Vitória alcançou, neste momento, três qualificações europeias seguidas, algo que, como disse já nestas linhas, apenas por uma vez na sua História tinha alcançado: 1986/87; 1987/88; 1988/89. Pelo que aquilo a que o Vitória agora aspira é à sua quarta qualificação consecutiva, algo que, igualmente, apenas por uma vez alcançou na sua História: 1995/96; 1996/97; 1997/98; 1998/99. Sendo que, convém referir que nunca conseguiu mais qualificações consecutivas do que quatro, estas obtidas no período saudoso de Vítor Paneira, Capucho e Zahovic.

Pelo que aquilo por que o Vitória luta é por igualar a sua melhor prestação de sempre — quatro qualificações europeias consecutivas —, algo que a maioria de nós acharia impensável atento o ciclo de constrangimento financeiro e de consequente desinvestimento que atravessámos. E a importância deste objetivo não é meramente simbólica ou para alindar palmarés, sobretudo se verificarmos que a extraordinária campanha europeia que conseguimos este ano foi responsável por uma valorização inusual dos nossos atletas, que permitiu ao Vitória vendas históricas, que contribuirão, certamente, para ajudar o clube a sair da situação vertiginosamente deficitária em que se encontrava.

4 — De registar que este fim de semana dois atletas do Vitória bateram dois recordes nacionais de natação no Open de Portugal de Natação, que decorreu no Jamor. Alexandre Amorim, nos 50m bruços, bateu o recorde nacional fixando-o nos 28,03s. João Costa bateu o recorde nacional nos 50m costas, fixando o novo tempo em 25,25s. Feitos que são um orgulho, desde logo para os atletas e para a sua dedicação, e também para o clube, que naturalmente se eleva com estes conseguimentos dos seus atletas. Tudo isto que de bom ocorreu este fim de semana foi, afinal, em homenagem ao nosso primeiro.

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