Gyokeres no Arsenal: um final esperado para novela desnecessária
Chegou ao fim uma das transferências mais mediáticas do verão português — e, simultaneamente, uma das mais lucrativas da história do Sporting. Uma novela que se arrastava há semanas 0151 e que, convenhamos, sempre pareceu ter um desfecho inevitável: Viktor Gyokeres vai mesmo vestir a camisola do Arsenal. Mais milhão menos milhão, mais percentagem menos bónus, para mim nunca houve grandes dúvidas. O sueco era, desde o início, o avançado certo para o projeto de Mikel Arteta. Feito, maduro, com provas dadas e uma mentalidade competitiva feroz. Era — e é — aquilo que os gunners precisam: alguém que garanta golos, impacto imediato e a capacidade de transformar boas exibições em vitórias.
No Emirates, chegaram a equacionar alternativas como Benjamin Sesko, do Leipzig. A negociação com Sesko complicou-se: o Leipzig exigia 80 milhões de euros, com uma parte significativa paga a pronto. Do lado do jogador, as conversas estagnaram. Andrea Berta, diretor desportivo do Arsenal, percebeu que não havia tempo a perder. Sesko tem 22 anos, um futuro brilhante, mas o clube londrino já não está em condições de investir no potencial. Está cansado de promessas. Precisa de certezas. Precisa de ganhar – agora! Com a pré-época a decorrer, Arteta pressionava por soluções — e não dossiers em banho-maria.
Foi então que o nome de Gyokeres regressou ao topo das prioridades. E com razão. O sueco vinha de uma época absolutamente impressionante no Sporting: 43 golos, 15 assistências e um impacto desportivo que fez tremer os rivais. Mais do que isso, sempre manifestou o desejo claro de jogar no Emirates. E fez questão de o demonstrar com atos, não apenas palavras: abdicou de 2 milhões de euros do seu contrato para ajudar a fechar o negócio com o Sporting. Um gesto raro no futebol atual, que diz muito sobre o quanto este passo representa para ele.
E tudo decorreu, mais ou menos como o previsto, Gyokeres é jogador do Arsenal. Um investimento pesado? Sem dúvida. Mas necessário. Porque há momentos em que não se pode continuar a construir para o futuro. É preciso vencer no presente.
E o calendário da nova época não perdoa. O Arsenal arranca a Premier League 2025/26 com uma deslocação a Old Trafford, frente ao Manchester United, naquele que será o grande jogo da jornada inaugural. Depois disso, a exigência não abranda: Leeds United, Liverpool, Nottingham Forest, Manchester City e Newcastle. Um autêntico teste de fogo para uma equipa que quer, finalmente, quebrar o jejum no campeonato inglês.
Segue-se o dérbi com o Tottenham a 22 de novembro, e o embate da segunda volta com o City, no Etihad, agendado para 18 de abril — potencialmente decisivo, como tem sido hábito.
Para um clube que tem estado sempre à porta da glória, este arranque pode definir tudo. Arteta construiu uma equipa com identidade, intensidade e talento. Mas, até aqui, faltava-lhe uma peça. O tal número 9. Um avançado de verdade. Desde 2019, o treinador espanhol reforçou todas as zonas do campo: médios, alas, centrais, guarda-redes. Mas o ataque continuava entregue a soluções adaptadas: Gabriel Jesus e Havertz, criativos e móveis, mas longe de serem finalizadores natos. Faltava o homem-golo.
E Gyokeres é isso mesmo. Um finalizador puro, mas também alguém que cria. Que pressiona. Que luta. Que encarna o espírito que o Arsenal precisa. Os números falam por si: o Arsenal perdeu 22 golos na última Premier League face à temporada anterior — uma quebra que, em jogos-chave, fez toda a diferença.
No futebol moderno, quem marca… ganha. Não chega jogar bonito. É preciso ser eficaz. Henry, Bergkamp, van Persie — o Arsenal sabe o que é ter avançados decisivos. Agora, com Gyokeres, tem finalmente alguém à altura dessa herança.
E há algo mais. Algo simbólico. A máscara. O gesto que se tornou marca. Inspirado em Bane, o vilão do universo Batman, Gyokeres transforma cada golo num momento cinematográfico. Mãos cruzadas à frente da cara, como quem assume uma nova identidade. No filme, a máscara era sobrevivência. Para Gyokeres, é transformação. Tornou-se ícone, personagem principal, antagonista das defesas adversárias. Um vilão que os adeptos do Arsenal vão adorar ter do seu lado.
O Sporting, claro, perde o seu melhor jogador e o goleador dos dois últimos campeonatos. Mas ganha uma valorização extraordinária, retorno desportivo e, acima de tudo, lucidez negocial. Era inevitável. E foi bem gerido. Luis Suárez, avançado de 27 anos, o melhor marcador da segunda divisão de Espanha na última época (27 golos, 31 no total das competições) chegou a Alvalade para substituir Gyokeres. Só o tempo dirá se conseguirá fazer esquecer o sueco.
Cinco temporadas. 33 reforços. Mais de 800 milhões de libras investidos. Arteta tem agora um plantel que lhe permite sonhar com mais. Com tudo. O Liverpool, campeão em título, será difícil de destronar. O Manchester City, como sempre, espreita. Mas o Arsenal, para mim, é o principal candidato.
Ninguém ousará ignorar Viktor Gyokeres na Premier League 2025-26. O homem que não pede aplausos — pede golos. O avançado que, em condições normais, será símbolo em Londres. O herói com cara de vilão. O jogador que se impõe, que transforma jogos… e que finalmente pode transformar o Arsenal.
«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.