Nando Pedrosa, guarda-redes do Mortágua, apontou o golo que deu o empate à sua equipa na receção ao União 1919, numa partida da 22.ª jornada da Série C do Campeonato de Portugal
Nando Pedrosa vestiu a pele de ponta de lança e selou o empate do Mortágua diante do União 1919. (Foto: D. R.)

Guarda-redes do Mortágua marcou golo no último lance: «Nem sabia como festejar!»

Nando Pedrosa subiu à grande área contrária e deu o empate ao Mortágua no derradeiro instante do desafio com o União 1919, em partida referente à 22.ª jornada da Série C do Campeonato de Portugal. Número 1 do emblema viseense conta tudo a A BOLA. «Um dos momentos mais altos da minha carreira», assume, ele que já tem uma subida à Liga no currículo… mesmo sem ter jogado

Domingo, 9 de março de 2025. Campo da Gandarada, em Mortágua. O relógio estava prestes a apontar as 17h e o Mortágua perdia em casa com o União 1919, num duelo relativo à 22.ª jornada da Série C do Campeonato de Portugal.

No último minuto do período de compensação, a equipa da casa beneficiou de um pontapé de canto do lado direito do seu ataque. João Pais, extremo que já passou, entre outros, por Vizela e Académica, dirigiu-se para o quarto círculo para cobrar a referida bola parada. Seria a última oportunidade para a formação orientada Eduardo Martins poder chegar ao empate.

Todos os jogadores do Mortágua estavam a posicionar-se para tentarem corresponder ao pontapé de canto, mas… faltava um para que a carne estivesse definitivamente toda no assador: Nando Pedrosa. Quem? O guarda-redes do Mortágua, caro leitor. Por essa altura, o número 1 estava na zona do meio-campo, mas num ápice subiu à área. Resultado? Cabeceamento e… golo! Isso mesmo, caro leitor, foi Nando Pedrosa a faturar e a selar o 2-2 final.

A explosão de alegria deu-se num fósforo e passou a haver um novo herói em Mortágua. Nando Pedrosa viveu um momento para recordar eternamente e A BOLA quis ouvir na primeira pessoa a explicação do lance.

«O árbitro tinha dado 7 minutos de descontos, mas como nesse período houve algumas paragens, acabou por esticar mais uns segundos e ainda tivemos esse pontapé de canto a nosso favor. O João Pais foi marcar o pontapé de canto, eu cabeceei à entrada da pequena área e acabei por ser feliz», começa por contar o guarda-redes.

E decisão de subir à grande área contrária foi sua ou recebeu alguma indicação da equipa técnica? «Foi um impulso meu. A equipa subiu toda e eu fui até ao meio-campo para proteger uma eventual transição do União 1919. De repente, ouvi um colega a chamar por mim e caiu-me a ficha. Decidi, então, subir à grande área contrária para tentar ajudar a equipa. Felizmente tive a felicidade de marcar o golo do empate e, dessa forma, garantimos um ponto importante na nossa luta.»

«Qual era a probabilidade da namorada de um guarda-redes de futebol…?»

Estava escrita uma história absolutamente deliciosa e que ficará para sempre guardada no livro de memórias de Nando Pedrosa. Se não é comum um guarda-redes marcar golos, então o primeiro é que jamais será esquecido. O problema foi como… festejar. Mas, de repente, fez-se-lhe luz: na bancada estava uma pessoa muito especial e o problema estava resolvido.

«Sim, foi o primeiro golo da minha carreira. Sinceramente, depois de ver a bola a entrar nem sabia bem o que fazer nem como festejar. A única coisa que me lembrei foi de correr em direção à bancada porque tinha lá a minha namorada [Ana Costa] e quis dedicar-lhe o golo. Namoramos há 7 anos e acabou por ser também uma prenda gira do Dia Internacional da Mulher. Chegou com dois dias de atraso, mas valeu muito a pena. Afinal, qual era a probabilidade da namorada de um guarda-redes de futebol ter um golo dedicado desta maneira?», contou, com muitas gargalhadas à mistura.

O coração desenhado com as mãos não engana: o golo foi inteiramente dedicado à 'cara-metade'. (Foto: D. R.)

«Alguns amigos meus perguntaram se era mesmo verdade»

A festa começou no relvado, prolongou-se pelo balneário e também teve (naturais) ecos mais tarde, entre amigos e familiares do novo rei de Mortágua. «Mal o jogo acabou, houve grande festa no relvado, com os adeptos do Mortágua. Prolongou-se para o balneário, os meus colegas estavam muito contentes e até incrédulos com o facto de ter sido eu a marcar o golo do empate. Afinal, era tudo de uma improbabilidade gigante. Depois acabei por receber também muitas chamadas e mensagens de apoio de amigos e familiares, algo que me deixou, naturalmente, orgulhoso. Houve até alguns amigos meus que me perguntaram se aquilo tinha sido mesmo verdade [risos]», relata.

Logo após o golo, Nando Pedrosa foi 'perseguido' pelos colegas de equipa. (Foto: D. R.)

Subiu à Liga… sem um minuto na Liga 2

Nando Pedrosa nasceu em Tondela, a 21 de junho de 1997. Começou a sua formação no Pestinhas [clube onde João Félix também deu os primeiros pontapés na bola, mas num período diferente de Nando, pelo que o guarda-redes nunca chegou a partilhar o balneário com o internacional português], passou pelo Repesenses e rumou depois ao Tondela. Na época 2014/2015, alinhou pelos juniores dos auriverdes, mas também fez parte do plantel principal. Nessa temporada, os beirões lograram a subida ao principal escalão do futebol nacional e Nando Pedrosa, mesmo sem ter contabilizado qualquer minuto pelos seniores, foi agraciado pelo clube tondelense. Algo que também não esquece.

«Cheguei a ser convocado em quatro jogos, fui para o banco, mas nunca cheguei a estrear-me. Mas fiquei bastante feliz com a subida de divisão do Tondela nessa época e também não posso esquecer o gesto de gratidão do clube, que no final da temporada também me deu a faixa e a medalha de campeão da Liga 2. Mesmo sem ter jogado, sinto que fiz parte integrante do sucesso e o Tondela também não esqueceu isso. Mesmo sem jogar, pode dizer-se que foi dos momentos mais altos da minha carreira, até porque estamos a falar do Tondela, cidade de onde sou natural, pelo que tenho uma óbvia ligação umbilical ao clube», explica o guarda-redes, sem esconder a emoção.

Não vive do futebol… mas o sonho comanda a vida

Aos 27 anos, Nando Pedrosa tem noção de que jogar no Campeonato de Portugal não lhe permite ter no futebol o modo de subsistência. Razão pela qual tem a sua vida profissional virada para a área comercial, numa empresa da zona, mas nem isso belisca a dedicação ao desporto-rei. Desde que terminou o seu processo formativo, e já depois de sair do Tondela, o guarda-redes vestiu as camisolas de Vitória de Sernache, Oliveira do Hospital e Mangualde, antes de no início da presente temporada, rumar ao Mortágua. O futuro nos relvados será, diz, «o que tiver de ser», mas há uma coisa que é garantida: «o orgulho» diário com que se entrega ao futebol.

«Sou comercial de uma empresa de climatização e higienização e o futebol é uma paixão que vou conseguindo manter enquanto for possível. Sonhos no futebol? O meu grande sonho é entregar-me ao máximo no clube que represento, atualmente o Mortágua, dando o meu melhor em cada treino e em cada jogo para ajudar a equipa a atingir os seus objetivos. Não penso muito no futuro, muito sinceramente, e prefiro pensar que o que tiver de vir, virá com naturalidade. O importante é ter o orgulho que tenho de entregar-me diariamente ao futebol como todo o profissionalismo, mesmo estando no quarto escalão nacional como estou atualmente», concluiu.

Eis uma história que vale (mesmo) a pena ser contada. Um jornalista tem (também) este dever. Dar palco a quem o merece, independentemente do escalão competitivo em causa. Porque Nando Pedrosa é o guarda-redes do Mortágua, mas também podia ser, por exemplo, o guarda-redes do… Real Madrid. E se Thibaut Courtois entra quarta-feira em ação num dérbi com o Atlético Madrid, da segunda mão dois oitavos de final da UEFA Champions League, Nando Pedrosa teve, ontem, a sua final da Champions. O golo não valeu um troféu, mas permitiu ao keeper português tocar o céu. E A BOLA cá está para elevar os heróis.

A consagração do novo 'herói' de Mortágua. (Foto: D. R.)