Dragões a brilhar nas bolas paradas - FOTO: Catarina Morais/KAPTA+

FC Porto: as peças-chave da nova arma que já valeu cinco golos aos dragões

Trabalho de laboratório nas bolas paradas de Lino Godinho, Lucho González e Carlos Pintado Olival valorizado por Francesco Farioli. Em apenas seis jornadas, dragões já marcaram mais vezes de canto como em cada uma das últimas três temporadas...

A chegada de Francesco Farioli representou, sem sombra de dúvida, um enorme upgrade sob os mais variados prismas no futebol apresentado pelo FC Porto aos seus adeptos. A equipa goza de uma vitalidade dentro de campo que impressiona e amassa os adversários com uma pressão asfixiante. Porém, na deslocação a Vila do Conde, um terreno tradicionalmente difícil para as hostes azuis e brancas, viu-se em grande destaque outra (grande) valência, que foi determinante no encontro e que é igualmente já uma imagem de marca do treinador italiano.

O comportamento dos jogadores do FC Porto na marcação dos pontapés de canto equipara-se em muito ao que faz o Arsenal, com os jogadores muito compactos na pequena área adversária, procurando ao máximo dificultar o campo de visão do guarda-redes e, ao mesmo tempo, a marcação dos adversários. Assim que Gabri Veiga bateu a bola parada, os portistas saíram das posições em que se encontravam inicialmente, criando incerteza na defesa vilacondense. Aproveitaram Pablo Rosario, no 0-1, e Samu, no 0-2.

Este trabalho de laboratório, levado a cabo no centro de treinos do Olival, mereceu menção especial de Francesco Farioli na conferência de Imprensa que se seguiu à vitória robusta sobre os rioavistas, com o técnico transalpino a endossar os devidos louros aos adjuntos. «Não há segredos especiais, só trabalho e dedicação. A menção tem de ser feita a quem está mais responsável por isso: ao Lucho [González], ao Lino [Godinho] e ao Carlos [Pintado], que vêm com propostas e ideias, gastam muito tempo com esta parte, ofensiva e defensivamente. É uma grande parte do jogo, mencionaram os cantos e o pontapé de saída, mas sempre que a bola está fora são momentos muito importantes», exaltou o homem do leme portista.

É até possível constatar que, antes da marcação dos cantos, e conforme foi possível ver anteontem, Lino Godinho tem um papel ativo (ver peça em anexo), procurando, de pé e junto a Farioli, dar indicações precisas para os movimentos dos jogadores, de forma a apanharem os opositores desprevenidos. No futebol moderno, em que as equipas ditas grandes encontram sempre muitas dificuldades para ultrapassar os denominados blocos baixos, as bolas paradas têm cada vez mais relevância na atualidade e ajudam a desatar nós bem complicados. Foi assim na 1.ª jornada, no primeiro golo de Samu ao V. Guimarães, na 2.ª, com Froholdt a abrir o marcador em Barcelos — assistido por... Gabri Veiga — na 3.ª, num pontapé de canto que terminou com Nehuén Pérez a desviar a bola para a baliza do Casa Pia, e agora nos Arcos, com Pablo Rosario e Samu a fazerem a diferença. Nota para Alan Varela, que condicionou a ação do guardião Miszta nos dois lances.

A dimensão da importância deste trabalho de laboratório reflete-se nos números portistas em 2025/26. Em cada uma das três temporadas anteriores (2022/2023, 2023/2024 e 2024/2025) os azuis e brancos marcaram apenas quatro golos em cada época na sequência de cantos. Registos inferiores àquele que já leva nesta altura, com apenas, imagine-se, seis jornadas concluídas. É obra!

Diferente do que se viu no Ajax

A importância dos lances de bola parada no modelo de jogo de Francesco Farioli não é uma invenção recente. De certa forma, o treinador italiano já vinha com o trabalho de casa feito da passagem pelo Ajax, na temporada transata. A BOLA analisou cada um dos 102 golos que o gigante de Amesterdão marcou em 2024/25, sob orientação do agora técnico do FC Porto, e foram oito os que nasceram de pontapés de canto. Ainda assim, a abordagem colocada em prática pela equipa azul e branca difere daquela que era utilizada pelos ajaccied.

A turma neerlandesa não se agrupava de forma tão vincada na pequena área, pelo que há uma clara impressão digital renovada nas bolas paradas portistas. Para tal, muito tem contribuído o conhecimento de Lino Godinho neste item. O técnico, de 39 anos, passou as últimas três épocas em Itália e aprimorou as bolas paradas do Veneza, por exemplo: em dezembro de 2024, os italianos eram das equipas europeias com mais tentos resultantes de bolas paradas...