Reinaldo Teixeira é o presidente da Liga Portugal (Foto Liga Portugal)

Empresários e autarcas atentos ao calendário da Liga vão ganhar mais

Tribuna Livre é um espaço de opinião de A BOLA, esta da responsabilidade de João Rodrigues dos Santos, professor de Economia do Desporto e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia

Para além da emoção desportiva, o sorteio do calendário da Liga Betclic 2025/2026 revelou um mapa económico do país, com clubes e territórios a disputar muito mais do que pontos. Lutam por visibilidade, receitas e desenvolvimento. A geografia do futebol português está intimamente ligada à vitalidade económica de cada região. Isso é especialmente visível nas datas dos grandes jogos, mas não só.

Lisboa, Porto e Braga surgem como os territórios com maiores ganhos económicos, beneficiando da presença dos três grandes e do Sporting Clube de Braga como potência em afirmação. Estes centros urbanos absorvem receitas de bilheteira, turismo, comércio, patrocínios e direitos televisivos. Um clássico entre Benfica e FC Porto, em Lisboa ou no Dragão, movimenta milhares de adeptos, pressiona hotéis, enche restaurantes e dinamiza dezenas de setores num único fim de semana.

Mas é nos pequenos territórios que o fenómeno é mais interessante. Tondela, Vizela, Vila do Conde ou Faro não vivem do futebol, mas ganham muito com ele. Quando recebem clubes grandes, essas cidades registam um aumento visível no consumo local, na procura de alojamento e até na notoriedade externa. O nome Rio Ave pode não parecer uma marca global, mas coloca o município de Vila do Conde nos ecrãs internacionais. Esse efeito simbólico traduz-se em capital reputacional que não se compra.

Os municípios mais atentos já perceberam o potencial. Investem em acessos aos estádios, promovem eventos paralelos, articulam campanhas de turismo local com o calendário desportivo. O futebol serve, assim, de plataforma para mostrar o que cada território tem para oferecer. Do vinho à gastronomia e da cultura ao investimento, são muitos os setores da economia local que beneficiam quando os respetivos territórios têm um clube a disputar a Liga Betclic de futebol.

Num país com desigualdades territoriais persistentes, o futebol surge como um motor natural de coesão territorial.
Os clubes funcionam como embaixadas regionais em movimento, ligando o centro ao interior, o litoral ao sul. A Liga Betclic não é só uma competição desportiva. É um espelho da economia local e, mais do que isso, uma oportunidade de desenvolvimento que muitos, com visão estratégica, já começaram a jogar fora das quatro linhas.