Domingo gordo
1- Na sua última crónica, o João Reis condicionou fortemente a minha, procurando antecipar aquilo a que a poderia dedicar tendo, então, vaticinado que estivesse a “festejar a passagem às meias-finais da Taça e a consolidação da nossa posição na tabela classificativa depois de um grande jogo contra o Benfica, revelando mais uma vez a força do nosso coletivo, embalada por uma massa associativa única e impagável”. Aproveitando o Carnaval para se disfarçar de Nostradamus, este meu parceiro de crónicas e vivências vitorianas acertou em cheio, não apenas na passagem às meias-finais – que às tantas até parece uma coisa banal – como na postura que apresentámos frente a Benfica.
2- Não costumo gostar de usar estas linhas para análise aos encontros, não apenas por já ter passado o dia e, como tal, também a romaria, como também porque há nessa função gente manifestamente mais habilitada. Mas há alguns factos e circunstâncias que não posso deixar de assinalar em relação ao jogo que opôs o Vitória ao Di Maria no passado domingo (não pretendo ser jocoso com o nosso adversário mas apenas destacar a importância decisiva que teve este fantástico jogador):
A homenagem a Miklós Fehér, malogradamente falecido neste estádio há 20 anos, num momento em que o futebol demonstrou que não esquece quem passa e em que os adeptos – todos os adeptos – estiveram à altura do momento respeitando imaculadamente o momento
O número de espetadores: 25.015 num dia de chuva copiosa, com cerca de 2.500 adeptos do Benfica, é um número que tem que orgulhar não o Vitória mas o futebol nacional. Como não são apenas os títulos que engrandecem os emblemas, o Vitória destaca-se claramente nesta posição de quem demonstra querer chegar a mais do que aquilo que presentemente alcança
Uma decisão de expulsão que temos de reconhecer ter sido corretíssima a Borevkovic que não foi honrada por idêntica decisão relativamente à falta de Florentino Luís, pelas costas e sem hipótese nenhuma de chegar à bola; uma decisão inexplicável face ao critério que vinha sendo seguido e com influência no resultado pois o Vitória encontrava-se nessa altura a vencer
Um relvado parcialmente em condições inadequadas mas que, importa esclarecer, prejudica ambas as equipas a não ser que se considere que a água estivesse apenas onde se encontravam os jogadores do Benfica ou que apenas estes se prejudicam por não poderem praticar bom futebol
O Vitória exibiu uma postura ao mais alto nível. O Vitória apresenta-se em campo contra qualquer adversário verdadeiramente para vencer. Esse espírito conquistador tantas vezes apenas teórico ou meramente motivacional é absorvido e transmitido para os jogadores pelo Álvaro Pacheco, que se tem revelado um dos melhores intérpretes de que me lembro do sentimento vitoriano. Já se tinha visto isto contra o Sporting e neste jogo o Vitória não venceu porque não teve a sorte do jogo, às vezes também acontece.
3- Atendendo a que numa das minhas crónicas – as que dedico à série que designo de “subsídios para o futuro da modalidade” – defendi, num conjunto de três alterações para o jogo, o “Vídeo árbitro (VAR) com transmissões audíveis” (se possível colocar link), queria registar muito positivamente, e por isso felicitar a Liga de Clubes, pela primeira experiência de comunicação audível entre árbitro e VAR, que teve lugar no Lank Vilaverdense - Santa Clara, da 20º jornada da Liga 2. A introdução do VAR é um benefício para a segurança das decisões, mas acompanhar as comunicações entre VAR e árbitro são um benefício para a transparência dessas decisões (e bem interessante teria sido ver o debate pelo qual se decidiu validar o primeiro golo do Benfica em Guimarães…)
4- Diogo Ribeiro. Português. Judeu ou de ascendência judaica. Campeão do Mundo. Desde o Alexandre Yokochi – que foi à época uma espécie de epifenómeno – que não me lembro de ver a natação portuguesa a disputar os principais lugares nesta modalidade. Diogo Ribeiro superou tudo e conquistou algo absolutamente inédito para o desporto português. Os meus parabéns ao Diogo, à sua resiliência, ao seu querer, à forma como nos demonstrou a todos que deste cantinho somos – se o quisermos – capazes dos mais grandiosos feitos. Ter-se tornado no mais jovem campeão do Mundo da história dos 50 metros mariposa é algo que abre enormes perspetivas para o seu futuro, que acompanharemos com todo o interesse e orgulho.