Na homenagem de Roland Garros a Rafael Nadal, o sérvio e Federer foram muito aplaudidos. - Foto: IMAGO

Djokovic: «Senti-me como a criança indesejada e isso magoou-me»

Novak Dokovic deu uma entrevista ao programa 'Neuspeh prvaka' e confessou que Federer e Nadal não o receberam de braços abertos e que teve de lutar muito em 'court' até ao momento em que a rivalidade entre os dois adversários foi substituída pela expressão 'Big three' e passou a incluir o sérvio, recordista (24) de títulos de Grand Slam

O tenista sérvio Novak Dokovic, 38 anos, foi o convidado do programa televisivo Neuspeh prvaka e abriu o coração.

Nole falou sobre a rivalidade entre Roger Federer e Rafael Nadal e de como essa história do ténis não precisava de alguém que estragasse o guião. Só que apareceu um miúdo sérvio que baralhou o sistema instituído. E nem toda a gente lidou bem com isso, confessando que há um sentimento de não pertença que o acompanha ao longo da sua carreira.

«Sou uma pessoa com muitas falhas, sem dúvida. No entanto, sempre me esforcei para ser alguém que vive com o coração, com boas intenções. O facto de alguém ser o meu maior rival não significa que lhe deseje mal, que o odeie ou que lhe queira fazer algo em campo para o vencer. Lutamos nobremente, frente a frente, e quem ganhar, ganha», explicou o tenista que foi afastado nas meias-finais de Roland Garros por Jannik Sinner.

«Não era suposto eu estar lá»

Dokovic contou ainda que, por vezes, muitos fatores influenciavam o resultado, além da competência desportiva. «Há muitas coisas que não são para partilhar, que senti e vivi nestas rivalidades. Mas é mesmo assim – os dois já tinham uma rivalidade estabelecida, porque Rafael Nadal surgiu antes de mim. Eles vinham da Suíça e de Espanha, potências ocidentais. Por mais que queiramos ver o ténis como democrático e pacifista, ainda existe racismo e existem fronteiras que são impostas. Não me refiro a mim quando falo de racismo, olho para o quadro geral – a política, a sociedade e o que se passa no mundo», observou o tenista nascido em Belgrado.

«Nunca fui amado como eles porque não era suposto eu estar lá. Existem essas preferências e esse sentimento de pertença, e eu não pertencia, pela nacionalidade e por outras coisas. Em termos de personalidade, eu era o miúdo que chegou e disse que ia ser o número um. Eles não gostaram, não gostaram que eu estivesse lá, a desafiar os dois», contou.

«Sempre respeitei os dois, nunca disse nem direi uma palavra má sobre eles, porque é isso que prezo em mim, mas simplesmente quero ser melhor do que eles e não tenho problema em dizê-lo. É preciso ser correto nesses ambientes, porque depois entram os media, os patrocinadores, toda essa máquina. Patrocinadores fortes, corporações que os apoiam, milhões de coisas.... Tentas agradar a alguém, e eu tentei criar uma ligação humana com eles, mas percebi que é uma competição feroz, uma luta brutal», revelou.

Mas não se pode fingir para ser amado. «Queria que as pessoas gostassem de mim, mas percebi e pensei: 'o que é que eu estou a fingir? Estou a tentar o quê? Eles querem que eu toque a música deles? Tudo bem'» admitiu.

«Senti-me como a criança indesejada, questionei-me porque é que era assim, magoou-me. Pensei: 'bom, se é assim, talvez me aceitem se eu me comportar de maneira diferente' e isso também me saiu pela culatra», recordou Djokokvic. «Então, simplesmente tive de aceitar que uma parte da população do ténis e do desporto não iria gostar de mim pelas minhas opiniões, comportamento e não sei mais o quê, mas pelo menos sou eu mesmo e durmo descansado!»

Quanto a Roger Federer e Rafael Nadal, Djokovic revela que nunca mudou. «A minha atitude nunca se alterou, suavizou-se porque a relação deles comigo mudou. Eu inspirei-me neles e continuo a fazê-lo. Simplesmente, quando vi essa frieza, disse: 'não há problema'. Depois, eles aproximaram-se um pouco e eu abri os braços. Sempre me dei melhor com Nadal, talvez por sermos de gerações mais próximas», assumiu.

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