José Mourinho
José Mourinho - Foto: IMAGO

Das contas do Benfica, ao FC Porto campeão europeu: tudo o que disse Mourinho

Treinador dos encarnados deixou elogios à equipa e a jogadores como Leandro Barreiro e Manu

— Reencontrou Wesley Sneijder, com o qual trabalhou. O nome dele surge associado a um cargo no Ajax, vê capacidade nele para isso?

— Eu acho que ele está capacitado para qualquer coisa no futebol. Ele é muito inteligente e está preparado para entrar no Ajax. Só quero que ele esteja feliz. Como é que ele pode estar feliz? Não sei. Pode ser treinador, adjunto, CEO ou diretor desportivo.

— Leandro Barreiro foi muito elogiado pelos adeptos no final, vai continuar a apostar nele? E quantos jogadores é que tirava ao intervalo?

— Não tirava nenhum. Uns tiveram maior preponderância no jogo, outros menos. Mas todos a cumprir o plano de jogo e todos com uma boa dedicação e uma boa entrega. Não tirava nenhum. Tanto que não tirava que só fiz a primeira substituição já nos últimos quinze minutos e nem sequer fiz as cinco. Portanto, estava contente. Barreiro é o jogador à Benfica, pela atitude, pela serenidade, pela humildade, por aquilo que dá à equipa, pela multifuncionalidade. Acho que é um grande jogador de equipa.

— Como analisa o calendário difícil que aí vem? E o seu discurso duro após o jogo com o Atlético mexeu com o plantel?

— A primeira coisa que tenho a dizer é que quando nós temos um País que tem comentários 23 horas por dia... não quero exagerar, mas, a brincar, 23 horas por dia nos canais de televisão. O Benfica obviamente que ajuda todos a terem temas de discussão, porque às vezes posso imaginar que os temas se podem esgotar. E uma simples intervenção de um treinador ao intervalo… que o treinador depois não tem problema de a trazer para o domínio público. Foi feito um bicho de sete cabeças. Eu lia um grande treinador português que é o Sérgio Conceição a dizer relativamente aos seus jogadores e relativamente àquilo que foi o jogo que tiveram na Champions League asiática, em que ele diz: ‘eu tenho 52 anos e a este ritmo eu também jogava’. Onde é que está o drama? Enquanto pai não sou sempre simpático com os meus filhos e os meus filhos são os meus filhos, estes não são meus filhos mas são os meus jogadores. Depois de 25 anos sentado no banco e depois de 1200 e qualquer coisa half time talks [discursos ao intervalo de jogos] deem-me o crédito de poder obviamente errar mas, mas também de eu achar que às vezes posso fazer as coisas bem. Eu acho que o impacto foi positivo porque a equipa foi séria. Houve quem jogasse melhor, houve quem tenha tido maior preponderância do jogo e quem tenha tido menos preponderância no jogo, mas cumpriram, foram solidários quando o jogo foi na direção daquilo que nós não queríamos. Soubemos resistir quando tivemos de fechar a porta no fim e ganhar o jogo, nem que fosse por 1-0. O 2-0 depois surge já como consequência de o adversário estar desequilibrado. Perdemos e bem contra o Newcastle, perdemos mal contra o Chelsea, merecíamos mais, perdemos mal contra o Bayer Leverkusen, merecíamos muito mais, eu acho que o drama da situação é a derrota com o Qarabag. Porque se imaginássemos os 3 pontos com o Qarabag, com os 3 pontos de hoje seriam 6, faltavam-nos 3 pontos em 3 jogos e a nossa situação seria fantástica. Com aquela derrota logo na entrada, depois não conseguimos fazer pontos nos outros jogos… a situação era de limite. Eu acho que não precisamos de ganhar os 3 jogos e que não precisamos de 12 pontos, acho que precisamos de 9, 10 pontos, é difícil mas estamos vivos. Equipa não foi perfeita, mas esteve bem.

— O que funcionou particularmente bem?

— Não temos os alas que o Ajax tem, não temos jogadores tão velozes, é muito difícil marcar golos porque não temos esse tipo de jogadores. Tentámos pressionar no início, mas no parte final do primeiro tempo perdemos isso e sentimos o perigo. Falámos disso ao intervalo. Eu disse que precisávamos de mais golos. Ríos fez uma passe na direção da nossa baliza, tirando isso fomos sólidos e confortáveis. Quando vi que a equipa não estava tão confortável a defender, meti o Tomás [Araújo]. Os rapazes foram brilhantes.

— Sentiu em algum momento que a velocidade de Lukebakio poderia ter ajudado o Benfica a dar mais cedo a ‘machadada’ no jogo?

— Podia, mas eu disse que não joga o Lukebakio, joga outro. E ao jogar outro, não podemos jogar de igual modo. Contra o Atlético, tentámos perceber alguma coisa. Aqui jogámos com o Aursnes e com o Sudakov, que não nos dão esse tipo de jogo, mas que nos deram outras coisas. Estive a ver a equipa da Youth League contra o Ajax. Há jogadores que me despertam atenção e mais oportunidades vão chegar para essa gente jovem.

— Com futebol ofensivo o Ajax pode provocar impacto na Europa?

— O Ajax é um grande clube com uma grande história. Mas eu penso, e desculpe se estiver errado, que não é, economicamente, um tubarão europeu, como os clubes portugueses, os três grandes, não o são. Como um Real Madrid. Então eu penso que os títulos da Champions League já não são para o Ajax, ou para os clubes portugueses. Qual foi a última vez em que um clube fora das… [foi interrompido quando iria referir-se às cinco principais ligas].

— ... O seu FC Porto?

— Sim…

— Manu Silva voltou, o que pode acrescentar de diferente?

— A partir de agora ele tem de treinar muito. E o facto de eu não o ter levado para o jogo do Atlético foi exatamente porque ele treina muito. Ele precisa de treinar. Ele precisa de ganhar determinado tipo de intensidade, determinado tipo de dinâmica. Metê-lo no jogo tem os seus riscos. Se hoje o tivesse metido no jogo nos últimos 20 minutos, digamos assim, se calhar 20 minutos a 200 a hora como estava o jogo, seria seguramente demasiado para ele. Portanto, ele tem de ir a pouco e pouco. Entrar hoje foi simbólico porque ele regressa depois de quase um ano sem jogar e porque é a primeira vez que ele joga na Champions e ainda que tenha tocado na bola 3 ou 4 vezes, acho que o simbolismo é importante para um miúdo que sofre muito. Porque quem não joga a bola, sofre.