Petit, Álvaro Magalhães, Miguel e João Pereira festejam depois da vitória do Benfica sobre o Sporting em 2005
Petit, Álvaro Magalhães, Miguel e João Pereira festejam depois da vitória do Benfica sobre o Sporting em 2005. Foto: A BOLA

«As lágrimas correram-me pela cara, ninguém imagina a força do inferno da Luz»

Álvaro Magalhães recorda a vitória do Benfica sobre o Sporting, na penúltima jornada, há 20 anos, que lançou os encarnados para a conquista do título. Então treinador adjunto de Giovanni Trapattoni, conta como foi a preparação do dérbi e como se viveu o triunfo

— Como foi a preparação do dérbi em 2005? 
— Foi uma semana de trabalho muito boa, soubemos preparar muito bem o jogo. A pressão, para quem joga no Benfica, é sempre a mesma. Não mudámos o plano de treinos, nem fizemos exercícios diferentes. Foi uma semana tranquila, idêntica às de toda a temporada. No Benfica, como disse, a pressão é ganhar ou ganhar. Sabíamos da responsabilidade desse jogo, que nos dava a oportunidade de ficar no primeiro lugar isolado. E porque as partes física, técnica e tática está assimiladas depois de muitos meses de trabalho foi importante preparar muito bem a parte psicológica, manter níveis de confiança, controlar alguns egos. 

— Miguel, então lateral-direito do Benfica, disse-nos há dois dias que se lembra das pessoas a chorar. O que o marcou mais depois da vitória? 
— As lágrimas também me correram pela cara. Antes dos golos estava a ver que as coisas, estava a sentir que... Quando nos sentámos no banco de suplentes, antes do início do jogo, havia ali uma fé em que as coisas iriam correr bem, também alguma ansiedade, que precisamos de controlar com muita confiança. As lágrimas correram-me pela cara quando vi aquele público, aquilo que vinha de fora para dentro. Era uma coisa... Queria estar era dentro de campo, é mais fácil como jogador. Não imaginam a força que sentimos das bancadas. 

— E quando o árbitro apitou para o fim? 
— Foi uma loucura, uma explosão de alegria, parecia que o estádio vinha abaixo. Sé quem esteve lá em baixo no relvado, com aquela gente toda... Aquele inferno daquelas pessoas todas a apoiar ajuda a ganhar. Quem não aguentar que pegue na mala e vá embora. 

— Qual foi a mensagem de Trapattoni e da equipa técnica antes do jogo? 
— A mesma mensagem de sempre, idêntica à de outros jogos, com adversários não tão fortes. Mensagem de confiança. Nem vale a pena falar muito aos jogadores, conhecem bem a responsabilidade do jogo. Um bom treinador fala o menos possível. Trapatonni já tinha sido campeão muitas vezes, eu também tinha sido campeão várias vezes no Benfica, conheço bem o clube. Até durante a semana, se falarmos muito do jogo só vamos prejudicar. Temos de deixar os jogadores tranquilos e à vontade. Se estivermos sempre a dizer que temos de ganhar, podemos prejudicar um jogador psicologicamente fraco e fazer com que nem corra. 

Festa de Álvaro Magalhães depois do golo de Luisão aos 83 minutos. Foto: A BOLA

— Quem eram os líderes do balneário? 
— Não há muitos líderes no balneário, muitas vezes alguns jogadores passam para fora o que não são. Mas tenho de destacar o Luisão, capitão com mérito e a sério, que demonstrou muita personalidade. O Nuno Gomes era um líder mais tranquilo, mais calminho, também bom. Um mais agressivo outro mais tranquilo.


— Polícia bom e polícia mau? 
— Sim. Às vezes, até nas equipas técnicas, um tem de ser mais agressivo e outro tem de ir por trás e ajudar. 

— Otamendi será o Luisão da equipa atual? 
— É diferente. Tem o estilo dele. Seria mais fácil avaliar trabalhando com ele. Mas transmite essa liderança, é o mais velho e tem experiência e currículo, como Di María.

— Apostaria em Di María de início? 
— Se estiver bem, colocava-o a jogar. Tem muita experiência destes jogos, sabe que é preciso dar à perna nestes jogos e dá. E, depois, faz a diferença. É preciso que tenha muita vontade de ajudar. Fez isso com o FC Porto no Dragão, fez um jogo fantástico a defender e a atacar. E sabe ocupar os espaços. Saber ocupar os espaços é que é o grande problema. Muitos fartam-se de correr e jogam pouco. E Di María gosta destes jogos. 

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