Pepê vai ser baixa para Martín Anselmi nas próximas semanas

Anselmi não é Guardiola

Dragões não têm jogadores com a qualidade suficiente para o interpretar o modelo predileto do treinador e pedir-lhes isso é um verdadeiro suicídio

Um caso de estudo este FC Porto de Martín Anselmi. Os dragões não vivem tempos fáceis, mas vivem tempos… previsíveis. Tudo mudou no universo azul e branco. Presidente, treinador e, inevitavelmente, jogadores. Há uma nova era e uma era… difícil.

Depois de 42 anos de presidência de Pinto da Costa e dos inúmeros e grandiosos títulos conquistados pelo malogrado líder dos dragões, sabia-se que a herança seria muito pesada. A título de exemplo, basta comparar o FC Porto com o Sporting. Se os leões estão a sofrer com a perda de Ruben Amorim, que apenas após cinco anos deixou o clube órfão da liderança que se observa a cada jogo, imagine-se o sentimento na casa portista…

André Villas-Boas desafiou Pinto da Costa há um ano e ganhou. O antigo treinador destronou o presidente dos presidentes, como os adeptos dos dragões fazem questão de o apelidar, e de goleada. Teve uma votação esmagadora, o que só lhe deu mais responsabilidade. Era necessário, para não dizer obrigatório, manter o nível, o que, convenhamos, era (é) tarefa hercúlea. Mais: os cofres ficaram, entretanto, vazios, o que, obviamente, só dificultou a tarefa. Com Sérgio Conceição e Pepe a colocarem-se ao lado de Pinto da Costa, outra opção não restou a Villas-Boas do que prescindir de treinador e capitão. Mais dois líderes. Ou seja, na prática tudo tinha de começar de novo, o que nunca é fácil, muito menos num clube a ganhar. Muito. E todas as épocas.

Vítor Bruno foi a aposta para comandar a equipa, mas cedo se percebeu que o treinador recebeu uma presente envenenado, bem ao estilo do de João Pereira no Sporting, como admitiu Frederico Varandas.

Era preciso tempo e paciência para fazer muito com pouco, o que no futebol escasseia e num grande, e ainda por cima, repito, ganhador, não há. Saiu Vítor Bruno e entrou Martín Anselmi.Considero que foi uma aposta ainda mais arriscada por parte de Villas-Boas. Treinador estrangeiro (argentino), jovem (39 anos) e desconhecedor do futebol português (treinava no México, depois de ter passado por Equador e Chile, enquanto principal).

Não bastassem todos esses contras, Anselmi ainda se revela um treinador tipo revolucionário. Privilegia um sistema tático ousado, com apenas três centrais, que passam apenas a dois no momento da transição ofensiva, já que compete a um deles começar a organizar o ataque, o que causa inúmeros calafrios durante cada jogo e muitos dissabores em quase todos os jogos. Sim, Martín Anselmi tem sete jogos no FC Porto e duas… vitórias (sobre Farense e Maccabi Telavive, ambas por 1-0 e pouco convincentes). Não discuto o sistema, mas considero que os dragões não têm jogadores com a qualidade suficiente para o interpretar e pedir-lhes isso é um verdadeiro suicídio. Anselmi não está a treinar o Manchester City. E muito menos é Guardiola.