Andreia Jacinto ambiciosa para Euro 2025: «Não podemos simplesmente marcar presença»
Quando se estreia, ainda com 17 anos, contra a Bélgica por Portugal, esperava que, cinco anos depois, estivéssemos aqui a falar da sua segunda participação numa fase final pela Seleção?
A verdade é que não. Ainda me lembro desse jogo, quase não dormi essa noite de tão nervosa que estava, e estava assim no balneário antes de começar o jogo. Passou tudo tão rápido e não esperava que fosse tudo tão bonito.
Portugal vai disputar a quarta fase final em menos de dez anos. Depois de três eliminações na fase de grupos, o objetivo na Suíça é chegar à fase a eliminar?
Portugal está a ter um crescimento muito grande e tem que estar sempre nestes palcos. Cada vez mais estamos a fazer melhores qualificações e isso é sinal do crescimento do futebol feminino português e do passo à frente que a jogadora portuguesa está a dar a nível individual. Chega um momento em que não podemos simplesmente marcar presença, temos de fazer com que aconteçam coisas. Para mim e para todas nós, é um objetivo que Portugal passe esta fase de grupos e que comece a estar nas disputas a sério. Podemos fazer um caminho muito bonito e engraçado nesses palcos a jogar contra as melhores seleções.
O facto de o Europeu ser disputado na Suíça pode ser um fator diferenciador?
Claro que sim. Eu acho que o apoio dos portugueses se sente bastante. Tivemos agora o jogo da Liga das Nações na Bélgica e ouvia-se mais portugueses a cantar do que propriamente belgas. Isso durante o jogo dá-nos um boost de energia e de confiança muito importante. Pode fazer a diferença na nossa motivação durante os jogos.
Este será o primeiro Europeu da Andreia, depois de ter falhado o de 2022 por lesão, já depois de estar na convocatória..
Foi uma situação muito difícil para mim porque era ainda mais jovem e custava-me a acreditar porque é tinha de acontecer aquilo. É o sonho para qualquer jogadora estar nesse palco a jogar contra as melhores seleções. Foi um golpe muito duro.
Considera que houve uma mudança de mentalidade, em Portugal, depois do Mundial 2023, em relação ao futebol feminino?
Sinto que como tanta gente nos apoiou e estava connosco nessa caminhada, continuaram a seguir mais o futebol feminino. Uma coisa que me toca muito é ver rapazes cujos ídolos são jogadoras. É uma coisa que dantes não se passava. Poder ver que as coisas estão a mudar para melhor no futebol feminino é algo que valorizo imenso.
Como é que lida com o facto de ser um desses ídolos desses rapazes e raparigas?
Eu fico muito feliz, fico um bocadinho tímida quando vejo alguma coisa assim, mas aquece-me o coração por dentro, é uma sensação muito boa.
Quase aos 23 anos e com 47 internacionalizações, sente que já é uma refência para as colegas mais novas?
Custa-me acreditar nisso, eu penso sempre que ainda estou muito longe. Já vejo algumas meninas mais jovens a dizer que sou a referência delas, mas para mim é surreal.
Enquanto centrocampista, já jogou a seis e a oito. Quais são os terrenos que prefere pisar?
Um seis a pender para o oito. Gosto de estar perto dos processos de construção, de ver o jogo de frente, de poder distribuir , mas também gosto de ter essa versatilidade de oito, de ser box-to-box, de ter a liberdade de fazer as duas coisas, de saber que se subo, alguém vai ficar a fazer o meu papel de seis. Tenho boas características para fazer os dois e sinto-me bastante confortável a fazer os dois papéis.
29 - Andreia Jacinto, de la @RealSociedadFEM, es la jugadora que ha creado más ocasiones en las cinco grandes ligas europeas femeninas en el año 2025 (29). Brillante. pic.twitter.com/X4Dtovn4Vg
— OptaJose (@OptaJose) March 17, 2025
Na seleção tem feito muitas vezes dupla com a Tatiana Pinto, que também está em Espanha. Complementam-se de olhos fechados ?
Com a Tatiana sinto-me muito à vontade, porque também já tinha jogado com ela no Sporting. Eu quando quero subir tenho a confiança plena de que a Tati vai estar a fazer o sítio de onde eu tinha que estar e não tenho sequer de me preocupar. Ter essa liberdade é muito bom para jogar contra outras equipas que não sabem as movimentações que vamos ter, quem vai subir, quem vai descer. Sinto que fazemos uma boa dupla ali no meio.
A chegar aos 200 jogos como sénior, o que é que sente que ainda pode melhorar enquanto jogadora?
A agressividade e a intensidade que tenho, sem bola. Às vezes nos duelos sinto que ainda posso ganhar um bocadinho mais e dar um pulo. Desde que fui para a Espanha melhorei imenso fisicamente. No Sporting, 90% dos jogos eram um domínio total com bola e não tínhamos que estar a fazer tantas transições. Na Real também temos muito domínio com bola, mas estamos mais expostas a outro tipo de jogo, também da parte dos adversários, e vês-te obrigada a dar o salto físico .
Quem é que são as suas principais referências no futebol?
Sempre olhei para a Fátima (Pinto), para a Tati e para a Dolores (Silva), três jogadoras que fazem parte do nosso meio-campo. Éum privilégio poder partilhar o campo com elas e também ver a forma como são profissionais fora de campo. São um exemplo a seguir. Olho muito para tudo o que é a Tati, não só dentro de campo, mas também fora. Quando jogámos contra o Atlético de Madrid, eu tinha que a marcar nos cantos. Começámos a falar e esquecíamos um bocadinho nesse momento que éramos rivais.
Como é que gostaria que de ser recordada quando terminar a carreira de jogadora?
Gostava que pensassem em mim como uma jogadora que gostava de ter bola, que fazia com que as pessoas desfrutassem ao ver futebol. Fora de campo também gostava que olhassem para o trabalho e para os esforços que fiz para tentar ser profissional num todo.
*Editado por Francisco Vaz de Miranda