Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid, frustrado com a derrota no Bernabéu com o Valência
Carlo Ancelotti - Foto: IMAGO

Ancelotti critica Bayern pela sua demissão: «Foi a saída mais intransigente da minha carreira»

Técnico aborda algumas das suas passagens na sua autobiografia

O atual selecionador do Brasil, Carlo Ancelotti, manifesta descontentamento por ter sido despedido do Bayern no passado. O técnico esteve ao leme do colosso alemão desde o verão de 2016 até setembro de 2017. Na sua única temporada completa, conquistou o título da Bundesliga, foi eliminado nos quartos de final da UEFA Champions League e alcançou as meias-finais da Taça da Alemanha. No início da campanha seguinte – após uma derrota por 0-3 frente ao PSG na Champions – foi dispensado.

Carlo Ancelotti

Por estes dias, a nova autobiografia de Ancelotti, intitulada O Sonho, chega ao mercado. O jornal alemão Bild partilhou um excerto do livro, onde o treinador aborda a sua passagem por Munique.

Dominámos a concorrência na Bundesliga nessa temporada, terminando com 15 pontos de vantagem – mais cinco do que Pep Guardiola tinha conseguido nas duas temporadas anteriores. No entanto, no Bayern isso não foi considerado um sucesso. Era o mínimo que os dirigentes esperavam. Quando a comunicação social fazia barulho por algo, notava uma grande diferença. O que era completamente novo para mim era trabalhar num clube que não era gerido por um único proprietário carismático. Em vez disso, havia um grupo de acionistas com diferentes composições, enquanto antigos jogadores lendários tinham tradicionalmente influência a nível de gestão no clube. A meio da temporada, houve uma mudança na presidência, com Uli Hoeness a assumir a liderança. O presidente do conselho era Karl-Heinz Rummenigge, que jogava no Inter na mesma altura em que eu jogava na Roma. Se por acaso dei um pontapé no meu futuro chefe quando jogava contra ele? Claro que sim. Afinal, esse era o meu trabalho.

Carlo Ancelotti (IMAGO)

Portanto, tinha de reportar a várias pessoas importantes ao mesmo tempo. Era-me difícil avaliar quem tinha mais poder e, depois de estar lá algumas semanas, até chamei o Philipp Lahm, o antigo capitão, à parte e pedi a sua opinião. Mas, como sempre, dei o meu melhor para manter a minha independência. Uma vez, os dirigentes pediram-me para impor mais disciplina entre os jogadores e deram-me uma lista de cinco pontos para lhes ler. No entanto, sentia que estávamos a trabalhar com uma equipa profissional de alto nível, e não com uma equipa júnior, por isso os jogadores deviam ser tratados em conformidade. Por isso, apresentei-me à equipa no balneário, tirei a folha do bolso e disse: ‘Tenho ordens da direção para vos ler isto’. Essa foi a minha forma de me distanciar dessa tarefa.

Depois, no final de setembro de 2013, visitámos outro dos meus antigos clubes – o Paris Saint-Germain. Num jogo da Liga dos Campeões, decidi deixar os nossos extremos mais velhos no banco e permitir que os defesas jogassem mais adiantados, tentando organizar os ataques principalmente pelo centro. Foi um erro. O equilíbrio foi quebrado e eles conseguiram desestabilizar-nos com os seus contra-ataques. Marcaram o primeiro golo logo no segundo minuto. O resultado final de 0-3 foi a derrota mais pesada do Bayern na competição nos últimos 21 anos. No dia seguinte, a direção do clube reuniu-se e concluiu que eu era o problema. «O desempenho da nossa equipa desde o início da temporada não corresponde às expectativas que tínhamo», disse Rummenigge. O jogo em Paris mostrou claramente que era preciso tomar medidas.

Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid (IMAGO)

Fui despedido quatro vezes por grandes clubes: Juventus, Chelsea, Real Madrid e Bayern. Isso demonstra que não é preciso ter um presidente ou proprietário imprevisível para ser dispensado. Os acionistas da empresa também o podem fazer. Esta foi a demissão mais intransigente de toda a minha carreira. Após a minha saída, eles chegaram às meias-finais da Liga dos Campeões e foram eliminados por – adivinhem quem – o Real Madrid..