A derradeira chave para o sucesso
Agora que o futebol profissional português se prepara para dar o passo estruturante da centralização, é indispensável recordar uma verdade simples: a centralização dos direitos audiovisuais só terá sucesso se for, acima de tudo, um projeto de trabalho coletivo.
A centralização não é uma engenharia financeira. Não é apenas uma fórmula de distribuição ou um exercício de matemática aplicável aos orçamentos dos clubes. É um pacto, e como todos os pactos, vive ou morre pela qualidade das relações, pela estabilidade institucional e pela capacidade de harmonia entre todos os que compõem o ecossistema. Esse pacto tem uma inevitável projeção internacional: quem nos vê, quem nos compra jogadores e quem aqui investe vai fazer as suas ofertas em função da credibilidade que esse pacto transmite.
Nenhuma Liga conseguiu avançar num modelo de venda conjunta sem antes cimentar uma cultura de cooperação entre os seus clubes. A confiança não se decreta — constrói-se, e constrói-se com diálogo constante, estabilidade, visão partilhada e consideração pelas diferenças de dimensão e ambição.
Nem de propósito, esta semana vimos uma Liga na Europa (Bélgica) ter o seu contrato de direitos audiovisuais rescindido e, simultaneamente, outra a bater o seu recorde de preço de venda de direitos (Espanha).
Nenhum mercado internacional investe num produto que demonstra instabilidade interna ou que tenta corrigir problemas estruturais com soluções que ignoram a lógica económica fundamental: o interesse gera valor; o valor gera investimento; e o investimento melhora o produto de todos.
A centralização ou é um jogo de soma positiva ou é uma oportunidade perdida. O caminho certo não passa por dividir um bolo que fica mais pequeno. Passa por aumentar o bolo, para que todos fiquem mais fortes. Isso só acontece com uma chave de distribuição equilibrada, moderada e meritocrática. Com incentivos à performance desportiva e à sustentabilidade financeira. Com previsibilidade para quem compra e para quem vende. E, por fim, com colaboração estratégica entre clubes, Liga e parceiros externos.
O objetivo passa por todos crescerem dentro de um quadro justo, moderno e competitivo.
É fundamental que, ao longo deste processo, comuniquemos para dentro e para fora uma mensagem clara: Portugal está unido, preparado e determinado a apresentar ao mundo um produto audiovisual mais forte, mais profissional e mais valioso, assente em trabalho coletivo.
E esse é o caminho que o futebol português merece (e precisa) de seguir.