Jean-Marc Bosman, antigo futebolista belga
Jean-Marc Bosman, antigo futebolista belga - Foto: IMAGO

30 anos da Lei de Bosman: o homem que mudou a face do futebol vive na miséria

Jean-Marc Bosman revolucionou o futebol ao enfrentar a UEFA na Justiça, há 30 anos, mas não ganhou nada por isso e viveu grandes dificuldades nos anos seguintes, na carreira e fora dela

A decisão que leva o nome do antigo futebolista belga Jean-Marc Bosman (61 anos), a mais revolucionária alguma vez emitida pelo Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) em matéria desportiva, completa 30 anos.

Em 1990, quando decidiu recorrer aos tribunais do seu país para denunciar os obstáculos impostos pelo clube onde jogava, o RFC Liège, à sua transferência para o Dunkerque, da segunda divisão francesa, ninguém imaginava que o belga Jean-Marc Bosman, então com 25 anos, mudaria a face do futebol. Mas também ninguém previa que ele acabaria por viver na mais profunda pobreza.

Nenhum clube quis contratar Bosman

Na sequência dos seus esforços, o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) decidiu dar luz verde aos jogadores em fim de contrato para se transferirem para qualquer clube dentro da UE e anulou o limite de jogadores estrangeiros por clube, que, na altura, era de três ou quatro.

Contudo, a decisão do TJUE transformou-o numa persona non grata aos olhos dos clubes, que, a partir desse momento, se recusaram a contratá-lo. Independentemente da porta a que batia, a resposta era invariavelmente: «'ão, obrigado. Já temos jogadores suficientes no plantel.»

Agora, quando se assinalam 30 anos da introdução da chamada Lei Bosman, em 1995, o homem que lhe dá o nome vive de uma pensão social oferecida pela Federação Internacional dos Futebolistas Profissionais (FIFPRO). Tem 61 anos e, segundo um advogado especializado em Direito Desportivo e Direito Internacional, Juan de Dios Crespo, apresenta um aspeto deplorável.

«Bosman está devastado»

«É um homem mais novo do que eu, mas que se parece com o meu avô. Está devastado», revelou De Dios Crespo, citado pelo diário espanhol Marca. De Dios Crespo fez esta revelação numa conferência organizada em maio pela Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE) para assinalar o trigésimo aniversário da célebre sentença.

No referido fórum, o magistrado espanhol recordou que, por iniciativa do advogado de Bosman, Jean-Louis Dupont, foi feito um apelo aos futebolistas profissionais para angariar fundos a favor do antigo jogador, para o ajudar a sobreviver. No entanto, apesar de ter libertado os futebolistas de um sistema em que eram reféns dos seus clubes, transformando alguns em milionários, apenas três futebolistas contribuíram com dinheiro.