Rui Lança já foi diretor desportivo das modalidades do Benfica

«O Benfica é um camião TIR muito difícil de conduzir»

Palavras de Rui Lança, antigo diretor desportivo das modalidades do Benfica, em entrevista a A BOLA

Rui Lança, diretor desportivo das modalidades do Al Ittihad, também desempenhou esses papéis no Benfica. Em entrevista a A BOLA, afirma que as águias gastam mais para ganhar troféus que os adversários, algo que, segundo diz, devia «inquietar» a direção encarnada

— O Rui esteve cinco anos e meio no Benfica, enquanto diretor das modalidades. Como é que olha para o panorama das modalidades encarnadas neste momento? O investimento parece não estar a resultar em troféus, o que é que se passa?

— O Benfica não joga sozinho e é um conjunto de decisões que são feitas no dia-a-dia, que muitas vezes têm a ver com prioridades, têm a ver com aquilo que é a cultura que se quer aplicar no dia-a-dia das pessoas. Ou seja: muitas vezes conseguimos recolher algumas coisas que não semeamos e, às vezes, o destino faz-nos algumas partidas e nós colhemos aquilo que semeamos… Não quero estar a detalhar muito, mas efetivamente há um tipo de política que foi aplicada, há um conjunto de decisões que foram tomadas. Este ano, se calhar, há um conjunto de decisões que não correu bem, não foi por falta de algum «aconselhamento» no sentido de não ser a melhor forma de alcançar o objetivo final para um clube como a Benfica, que é sempre vencer, tal como é o do FC Porto ou do Sporting. Muitas vezes, os fins têm de justificar os meios. Não ganhando, as pessoas depois têm de tirar as suas dúvidas e conclusões.

— Acredita que estes resultados podem influenciar uma possível candidatura de Rui Costa nas eleições de outubro?

— O Benfica é um camião TIR muito complicado de guiar. Os dias que faltam até outubro vão ser muito longos, porque não vai haver, ainda por cima, uma pausa normal. Não vai haver muito tempo para se poder analisar as coisas com o devido tempo. O receio que tenho é que isso possa ser utilizado como desculpa, exatamente para não se fazer essa reflexão. Agora, eu acredito que, até iutubro, vai aparecer muita notícia, vai haver muito debate. Se fizermos sempre as coisas da mesma maneira e esperarmos resultados diferentes, não vai dar. Mas, também, se queremos coisas excecionais, vamos ter de fazer coisas que nunca fizemos. Rui Costa, neste caso, porque é o presidente do Benfica e todos os outros que vão aparecendo e que vão dizendo que vão sendo candidatos, têm claramente de analisar o melhor contexto e aquilo que é necessário fazer para obterem coisas diferentes. O rácio daquilo que é investido para gerar troféus é muito, muito, muito elevado comparado com outros clubes. Eu acho que isso devia ser logo o primeiro fator de análise, porque é uma coisa matemática. O dinheiro que é investido para que se atinja um resultado é muito maior do que noutros clubes que competem diariamente. E isso é algo que devia inquietar algumas pessoas. Quando as pessoas ficam um bocadinho chateadas, mas passado cinco, 10 minutos está tudo igual… acho que tem de ser mais além disso. A pessoa deve ficar inquieta pelo facto de ter de gastar mais dinheiro para gerar um troféu.